Kalil sobre medidas em BH: 'Carregar caixões nas minhas costas, eu não vou'
Segundo o prefeito de BH, 'nada troca a história que os livros vão contar'
Por
Ana Mendonça*
20/04/2021 17:50 - Atualizado em 20/04/2021 18:36
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O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), afirmou durante um debate virtual com o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), que ele vai ficar marcado nos livros de história pela condução da capital durante a pandemia. Para o prefeito de BH, "nada troca a história que os livros vão contar".
“Podem falar o que for. Mas não adianta fazer obra para ganhar eleição. As placas caem, os viadutos mudam de nome, estádios também. A história vai contar quem fez algo pela cidade e nada troca o que os livros vão contar. Carregar caixões nas minhas costas, eu não vou. EM BH não morreu uma pessoa por falta de atendimento", contou o prefeito.
Kalil também afirmou que a população não pode jogar a culpa nos gestores, sendo que alguns cidadãos não seguem as regras implantadas pelas prefeituras.
Questionado pelo Estado de Minas sobre a dificuldade de implantação de medidas duras aos cidadãos que, além de produzirem discursos negacionistas, desrespeitam as medidas adotadas pelos prefeitos, Kalil voltou a falar que não tem “medo de buzina”.
“Temos um caso no Hospital Madre Tereza, de cinco membros da mesma família internados. A classe média e a classe média alta acharam que aquele cartãozinho do plano de saúde era a vacina. E eu avisei, que aquilo não era uma vacina”, afirmou Kalil. “E os primeiros hospitais que entraram em colapso em BH foram os particulares. A elite estúpida brasileira, da qual eu fazia parte até eu ver a pobreza, acha que nada vai acontecer com ela”, explicou.
Ao falar sobre o lockdown, o prefeito de BH negou a possibilidade de adotar a medida na capital mineira. “Não poderia fazer um lockdown aqui. Temos dezenas de hospitais, centros de saúde, UPAs, nosso fluxo de transporte público é intenso e não pode parar. Caso isso fosse acontecer, eu ia impedir os profissionais de saúde e os doentes de chegarem aos locais", explicou.
Kalil também pontuou que os fechamentos da capital mineira foram feitos pela ciência e não por “achismos”.
Segundo o prefeito, todas as decisões tomadas em Belo Horizonte foram feitas em conjunto com o Comitê de Enfrentamento à COVID, que analisa os indicadores na capital mineira e as propostas da sociedade civil. O comitê é formado pelos infectologistas Estevão Urbano, Carlos Starling e Unaí Tupinambás e pelo secretário municipal de Saúde, Jackson Machado.
Entenda
Os dois prefeitos ficaram conhecidos nacionalmente durante a pandemia de COVID-19 por manterem medidas restritivas para conter as infecções do novo coronavírus (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Agência Brasil/Reprodução)
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), e o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), participaram, nesta terça-feira (20/4), de uma palestra organizada pela Impulso, organização sem fins lucrativos focada em criar capacidade analítica em governos, para falar sobre os desafios e aprendizados do lockdown no Brasil.
Os dois prefeitos ficaram conhecidos nacionalmente durante a pandemia de COVID-19 por manterem medidas restritivas para conter as infecções do novo coronavírus.
Kalil vem chamando a atenção dos brasileiros por suas decisões durante a pandemia. O nome do prefeito da capital mineira chegou até mesmo a ser cotado para vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de 2022.
Quem não gostou muito foi o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que já citou o nome de Kalil muitas vezes. O presidente é contra as medidas de restrição.
Na tarde dessa segunda-feira (19/4), Bolsonaro voltou a falar de Kalil. Em declaração na portaria do Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência da República, Bolsonaro afirmou: “Dizem que não estou preocupado com a vida, que sou genocida. Prefeituras deitaram e rolaram no ano passado com o lockdown. E o povo reelegeu esses caras. Olha BH, reelegeram", afirmou.
BH teve, desde o início da pandemia, 16 flexibilizações e seis fechamentos. Todas as vezes em que o termômetro do painel da COVID registrou o aumento de infecções e ocupações de leitos, Kalil voltou atrás.
Já Edinho Silva chamou a atenção após o lockdown de Araraquara ter surtido efeito. O confinamento foi de 21 de fevereiro a 2 de março, e houve queda no número de diagnósticos positivos da doença, internações e óbitos.
O número de casos confirmados em 15 dias caiu 66,2%: de 2.361 (de 7 de fevereiro a 21 de fevereiro), para 799 (de 30 de março a 11 de abril).
No lockdown realizado em Araraquara, estavam autorizadas a funcionar apenas farmácias e unidades de saúde de urgência e emergência. Foi proibida a circulação de veículos e de pessoas na cidade. Era permitido sair de casa apenas para aquisição de medicamentos, obtenção de atendimento ou socorro médico para pessoas ou animais e serviços de urgência ou necessidades inadiáveis
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.
O que é um lockdown?
Saiba como funciona essa medida extrema, as diferenças entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas no Brasil não podem ser chamadas de lockdown.
Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.