Conhecida como a capital dos bares e botecos, Belo Horizonte ainda não recuperou a frequência de clientes que lhe valeu o apelido. Mesmo com a flexibilização do comércio não essencial, o primeiro sábado de reabertura de bares com atendimento presencial não registrou um movimento condizente com a fama da capital mineira.
Um dos motivos observados pelos lojistas é o horário restrito, das 10h às 16h, de segunda a sábado, com os domingos ainda proibidos. Mas muitos frequentadores revelam ainda ter medo de aglomerações.
Um dos motivos observados pelos lojistas é o horário restrito, das 10h às 16h, de segunda a sábado, com os domingos ainda proibidos. Mas muitos frequentadores revelam ainda ter medo de aglomerações.
No Mercado Central, os tradicionais bares de culinária típica e botecos não se mantiveram apenas nos corredores dos anéis internos. Para dar uma opção a quem queria curtir a boemia, mas ainda estava receoso, a administração abrir um espaço cercado com 70 mesas ao ar livre, na Avenida Augusto de Lima, em frente ao Minascentro. No horário de almoço, o espaço tinha cerca de 40 mesas ocupadas.
“Depois de 13 meses de idas e vindas e 60 dias fechados, pensamos em uma forma de encorajar as pessoas a voltar tendo essa opção externa, mas, mesmo assim, muitos ainda querem os balcões internos”, disse o superintendente do mercado, Luiz Carlos Braga. “Esse espaço foi uma fórmula para ajudar a alavancar as vendas.
Muitas pessoas ainda estão com medo e infectologistas afirmam que ambientes externos são mais seguros. É uma forma de mantermos a tradição do mercado. A gente só espera poder manter tudo aberto e adaptar no que for possível, sempre que preciso. Perdemos o domingo que era nosso carro-chefe, mas vamos abrir como for possível”, disse.
Muitas pessoas ainda estão com medo e infectologistas afirmam que ambientes externos são mais seguros. É uma forma de mantermos a tradição do mercado. A gente só espera poder manter tudo aberto e adaptar no que for possível, sempre que preciso. Perdemos o domingo que era nosso carro-chefe, mas vamos abrir como for possível”, disse.
No novo espaço, muitos clientes aproveitaram para frequentar mais uma vez um dos espaços tradicionais da capital, sem esquecer que normas sanitárias devem ser respeitadas.
“A gente não estava mais aguentando, porque os bares são a alma do belo-horizontino, seja para a gente se encontrar, conversar ou se divertir um pouco. Espero que as pessoas respeitem e que não fechemos mais”, disse a dona de casa Margaret do Vale Ferreira, de 55 anos.
“A gente não estava mais aguentando, porque os bares são a alma do belo-horizontino, seja para a gente se encontrar, conversar ou se divertir um pouco. Espero que as pessoas respeitem e que não fechemos mais”, disse a dona de casa Margaret do Vale Ferreira, de 55 anos.
Ela e a sobrinha, Ana Luiza Rodrigues Barros, de 17, aproveitaram para degustar a cozinha típica e curtir o ar tradicional do mercado. “Achei sensacional a reabertura, já não aguentava mais. É hora de respeitarmos para que não seja preciso fechar mais uma vez. Está pouco, está curto, mas podia ser nada”, definiu Luiza.
No edifício Arcângelo Maletta, entre a Rua da Bahia e a Avenida Augusto de Lima, no Centro, os estabelecimentos que funcionavam dentro da galeria tradicional com o maior volume de público se encontravam com menos da metade da lotação.
Vários bares tinham, desde cedo, mesas e cadeiras abertas, mas vazias, e apenas aqueles mais próximos aos acessos conseguiram reunir um número mais representativo de clientes, ainda distante de um número volume que compense o tempo parado, segundo garçons.
MAIS POPULARES
No segundo andar, nenhum dos bares de público mais alternativo funcionava. Na parte inferior, apenas os mais populares tinham adesão, sobretudo no horário do almoço, enquanto estabelecimentos conhecidos, como a Cantina do Lucas, ainda tinham um movimento tímido.
No Hipercentro, onde muitos trabalhadores costumeiramente aproveitam para relaxar no horário de almoço ou no fim do expediente, bem como os clientes em compras esticam um pouco a estada, poucas mesas estavam ocupadas e lugares tradicionais, como o calçadão da Avenida Amazonas, entre a Rua da Bahia e a Avenida Afonso Pena, não conseguiram atrair grande público, mesmo com promoções.
“A situação é péssima. O horário bom do nosso movimento seria a partir das 18h, 19h. Fechando às 16h, não dá. Estou abrindo para não ter a consciência pesada, aproveitando para limpar a loja. Abrir o bar durante os dias de semana, de jeito nenhum. Prejuízo com os custos de água, energia, carvão e vale-transporte. O mínimo seria funcionar até as 22h, na sexta, sábado e domingo. Tive que demitir 11 pessoas em três bares, sem contar os freelancers”, disse Anderson Luiz Maia Santana, dono de um dos bares do calçadão, que reduziu em 25% o preço do chope e ainda assim não conseguiu muitos clientes.
A capital vem de um mês de ronda roxa, com forte pressão no sistema de saúde e mais de 800 mortes somente em abril. O último boletim divulgado pela prefeitura, na sexta-feira, aponta diminuição nos índices de ocupação dos leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) e de enfermaria para COVID-19.
No caso da terapia intensiva, houve uma leve queda de 82% para 81,8%. Já nas unidades clínicas, a diminuição foi de 59,9% para 58,6%. Ainda assim, as duas estatísticas permanecem em zonas de risco. O número médio de transmissão por infectado subiu para 0,93, na fase controlada. A cidade computava na sexta-feira 4.105 mortes e 169.676 casos de COVID-19.
No caso da terapia intensiva, houve uma leve queda de 82% para 81,8%. Já nas unidades clínicas, a diminuição foi de 59,9% para 58,6%. Ainda assim, as duas estatísticas permanecem em zonas de risco. O número médio de transmissão por infectado subiu para 0,93, na fase controlada. A cidade computava na sexta-feira 4.105 mortes e 169.676 casos de COVID-19.
Malhação tropeça nas normas de segurança
O céu azul sem nuvens de ontem convidou o belo-horizontino a tomar as ruas e praças da cidade para se exercitar no primeiro fim de semana de reabertura de atividades não essenciais. Contudo, as regras de distanciamento e a utilização de máscara foram ignoradas por boa parte das pessoas, trazendo à tona os perigos de contaminação pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).
No Belvedere, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, as vias registraram até congestionamento de pedestres e bicicletas, tamanho o volume de frequentadores se exercitando. Tão intenso era o movimento entre a Praça da Lagoa Seca e a Avenida Paulo Camilo Pena que, nos cruzamentos, os corredores e ciclistas precisavam reduzir sua marcha para não bater em quem vinha do sentido oposto.
Entre os carros e nos passeios passavam pelotões de atletas de fim de semana, corredores, ciclistas, donos de cães, mães com bebês em carrinhos e idosos. A maioria não utilizava máscaras e vários corriam lado a lado, conversando com os amigos, instrutores e colegas de atividade.
Academias e equipes de treinamento de corredores chegaram cedo e demarcaram espaços com banners e bandeiras para funcionar como boxes de apoio, marcando o tempo de voltas dos corredores e fornecendo água para a sua hidratação.
Mas a última onda de mortes e o colapso hospitalar recente afugentaram muita gente de pontos tradicionais para exercício ao ar livre e lazer da capital mineira. Na Praça JK e na do Papa, por exemplo, apenas alguns pais brincavam nos parquinhos com os filhos pequenos. Poucos donos de cães seguiram para o passeio matinal com o animalzinho.
BRINCADEIRA NA PRAÇA
O movimento modesto animou o advogado Victor Sobral, de 35 anos, a levar a filha de 2 para a praça para correr e pintar telas em um projeto que oferece brinquedos e arte no espaço.
“Sem condições de uma criança dessa idade, com toda a energia que tem, ficar dentro de casa. É prejudicial para os pais que precisam de trabalhar e para o desenvolvimento da criança. Antes estávamos na Praça Alasca, mas com a reabertura, pudemos voltar à JK. Aqui está seguro, podemos nos distanciar e usamos máscaras”, disse o advogado.
As avenidas dos Bandeirantes, no Sion, e José do Patrocínio Pontes, no Mangabeiras, outros tradicionais circuitos para corridas e caminhadas, também registraram movimento tímido comparado a épocas antes desse último isolamento.
O médico Leonardo Porto, de 49, conta que correu todos os dias da pandemia na Avenida José do Patrocínio Pontes mantendo o distanciamento e o uso de máscara.
O médico Leonardo Porto, de 49, conta que correu todos os dias da pandemia na Avenida José do Patrocínio Pontes mantendo o distanciamento e o uso de máscara.
“Aqui nunca parou. Mas é impressionante ver que justamente hoje, que foi o primeiro fim de semana de reabertura, o espaço ficou vazio. Acho que os frequentadores ficaram com medo justamente de aumentar a aglomeração e não vieram. Impressiona, realmente, o grande número de pessoas sem máscaras, correndo, ofegantes, ao lado umas das outras”, observa o médico.
A flexibilização das atividades restritas para controlar a COVID-19 foi anunciada na segunda-feira (19/4), pelo prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), entre elas a reabertura das atividades comerciais não essenciais, a partir da quinta-feira (22/4).
Praças e parques também puderam reabrir. As restrições vigoravam desde 6 de março, quando os índices de ocupação de leitos hospitalares (clínicos e UTIs) entraram em colapso e os índices de transmissão da COVID-19 estavam críticos.
Praças e parques também puderam reabrir. As restrições vigoravam desde 6 de março, quando os índices de ocupação de leitos hospitalares (clínicos e UTIs) entraram em colapso e os índices de transmissão da COVID-19 estavam críticos.