Nesta segunda-feira (26/4) a liberação para reabertura das escolas particulares de educação infantil em Belo Horizonte começou a valer, entretanto, diversas instituições não retomaram as aulas, além de pais que preferiram manter seus filhos em casa, evitando contato com outras pessoas e crianças que não fazem parte de suas ‘bolhas sociais', neste momento.
Das grandes redes de ensino na capital mineira, uma das únicas que retomou as aulas para crianças de 0 a 5 anos e 8 meses foi o Coleguium Rede de Ensino. Segundo a diretora geral, Daniele Passagli, a escola estava se preparando desde o ano passado e pretendia reabrir assim que fosse liberado pela prefeitura: “Quando paramos, pensamos ‘vai ser duas semanas’ e depois vimos que o retorno seria muito mais delicado do que imaginávamos, começamos a observar as escolas internacionais e adotar as medidas para as nossas unidades”.
Segundo ela, uma pesquisa foi feita com os pais da educação infantil e, dos 500 alunos, 65% afirmaram que retomariam o ensino presencial imediatamente, 33% disseram que ainda não voltariam, mas pretendem mandar os filhos em breve e apenas 2% preferem manter os filhos em casa, com ensino remoto e não têm previsão de quando voltarão para o regime presencial.
Durante a recepção dos alunos neste primeiro dia, houve muita alegria entre pais, professores e alunos, porém todos respeitaram as medidas de segurança. Segundo a diretora, foram 263 crianças presentes na retomada das aulas nas 12 unidades de educação infantil da rede.
Grandes escolas particulares de BH, como o Colégio Santa Maria e o Colégio Loyola, retomarão as aulas presenciais nos próximos dias. Em nota, o Santa Maria afirmou que voltará às atividades da educação infantil na próxima segunda-feira, 3 de maio. E ao longo desta semana “as referidas Unidades de Ensino farão reuniões agendadas com as famílias dos estudantes da Educação Infantil para esclarecer mais detalhes sobre a decisão, inclusive como se dará o regime de ensino remoto para aqueles que assim optarem”. A rede também reforçou que está tomando as medidas de segurança necessárias para atender a comunidade escolar e assegurar o bem-estar de estudantes e professores.
Já o Colégio Loyola, iniciará as atividades na quarta-feira, dia 28, e afirmou que as reuniões com pais e responsáveis foram feitas nesta segunda (26/4), para esclarecer como será a retomada das aulas. Em nota, disseram também que as dependências da escola estão preparadas para receber alunos desde fevereiro deste ano, após meses de adaptações de acordo com os protocolos necessários para evitar contágio da COVID-19.
Pais não se sentem seguros
Mesmo com reformas e adaptações nas escolas, alguns pais não se sentem confortáveis em mandar seus filhos para a rotina presencial novamente. Camila Colares tem 39 anos, é advogada e tem um filho de 5 anos, o Theo. Para conciliar a rotina do teletrabalho e a maternidade, desde antes da pandemia, ela criou um espaço que oferece oportunidades para ambos: pais e filhos.
Além de advogada, Camila é sócia-fundadora da Tríade, um espaço de coworking familiar. Segundo ela, a ideia surgiu aos 2 anos do filho: “O espaço já existia desde antes da pandemia. Já tem 3 anos de funcionamento. Ficou fechado por muito tempo ano passado, mas voltou a funcionar assim que foi possível. É um local comercial e estamos funcionando com 50% da capacidade. Aqui tem brinquedoteca, parte da soneca, estrutura de coworking no interior da casa e as crianças ficam com estudantes de pedagogia, que são as cuidadoras deles. Enquanto isso, os pais trabalham”, explica.
Para frequentar o local, é necessário que os pais e filhos façam contas de associação por, pelo menos, um mês. Mas Camila garante que, desde outubro do ano passado, as famílias que vão para a Tríade são as mesmas, respeitando os protocolos combinados e vivendo dentro da mesma ‘bolha social’: “O público que se identifica com a proposta, tem um olhar muito similar para a parentalidade e a infância. Todas as famílias que estão aqui, não vão mandar os filhos para a escola, até mesmo porque, um dos nossos protocolos é manter a nossa bolha de convívio”.
As aulas do pequeno Theo ainda não voltaram, ele estuda em uma escola municipal de BH, porém Camila já tomou a decisão de mantê-lo em contato apenas com as mesmas pessoas desde o ano passado e não tem previsão para retomar as aulas presenciais. “Eu tenho muita cautela. É importante termos uma responsabilidade social e coletiva. Meu filho tem asma, isso me faz ter uma preocupação ainda maior. Decidi por não enviar para a escola, porque é um ambiente coletivo, que não conhecemos quem está neste espaço”, diz.
“Não sei os cuidados das outras famílias e fico insegura em manda-lo para um lugar que eu não tenho controle. Acredito que as escolas serão responsáveis, não sou contra o retorno. Têm famílias que dependem disso, entendo àquelas que vão enviar os filhos. Mas no meu caso, tenho privilégio de deixá-lo em casa, com um espaço para brincar ao ar livre e desenvolver habilidades criativas”, finaliza a advogada.
O pensamento da Camila é compartilhado por outra mãe, Débora Peroni, de 36 anos, também advogada. Ela não viu necessidade de mandar a filha Alice, de 2 anos, para a escola particular em que está matriculada, já que tem suporte de uma babá em casa, além de contato social com outras crianças do prédio que moram: “Como ela não está sem contato com outras crianças, pode brincar na área do prédio, optamos por não deixá-la ir para a escola”.
Débora conta que faz atividades com a filha para estimular o aprendizado e a escola enviava algumas tarefas, mas não mantiveram a frequência por terem percebido que não estava surtindo tanto efeito: “Acredito que foi até mesmo pelo home office, os pais estavam sem tempo para ensinar os filhos”, diz.
Durante a pandemia, ela e o marido revezavam entre o trabalho e o cuidado com a filha que só tinha um ano e ainda estava aprendendo a andar. “A qualidade do trabalho começou a ser afetada, às vezes ficávamos até de madrugada trabalhando, porque nossa filha demandava muito tempo durante o dia”, diz e completa “precisamos contratar uma babá e conseguimos estabelecer uma rotina legal. Alice acostumou com ela e tem dado certo”.
Para fazer atividades voltadas à educação, Débora compra livros de colorir, blocos para montar e fazem outras atividades para estimular a filha dentro daquilo que é possível para a família. Como Alice ainda não está em idade escolar obrigatória, os pais decidiram manter a rotina entre pessoas conhecidas, evitando novos contatos e garantindo a saúde, não só deles, mas também dos avós que ainda não completaram o esquema vacinal contra a COVID-19, e têm contato com a neta constantemente.
No caso da servidora pública Camila Couto Vieira, de 35 anos, o filho Arthur também ficará em casa, dentro da mesma ‘bolha social’. “Tenho uma rede de apoio que me ajuda para trabalhar. Acho que a situação ainda não é favorável, estou grávida de 8 meses e achei muito arriscado mandá-lo. Entendo que algumas pessoas não têm ajuda e passam dificuldades para olhar os filhos, por isso não sou contra”, diz a mãe.
Ainda sem obrigatoriedade para frequentar escola, Arthur tem 2 anos e todos os dias vai para a casa da avó e brinca ao ar livre no quintal: “Ele fica na casa da minha sogra e brinca muito, tem espaço para gastar energia, que não é pouca. Nós matriculamos o Arthur na escola com 9 meses e agora, sem aulas, eu pesquiso bastante e compramos muitos livros de colorir, blocos de encaixar e tentamos ensinar da forma que é possível em casa”, finaliza Camila.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Eduardo Oliveira