Com 1.256.330 recuperados, segundo dados oficiais da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), Minas pode acumular mais de 125,6 mil casos de síndrome pós-COVID e 37,6 mil de COVID longa. Os números foram obtidos com base nas estimativas de incidência da OMS para as duas condições.
O Estado de Minas acompanhou a caminhada de quatro pacientes rumo ao completo reestabelecimento, histórias repletas de medos, dores, frustrações e esperança.
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“As vitórias são pequenas”
Carlos Henrique Costa, de 49 anos, enfrenta a batalha pós-alta hospitalar há quase dois meses. Após contrair o coronavírus, que chegou a comprometer 90% de seus pulmões, ele ficou 13 dias internado na UTI, de onde recebeu alta em 4 de março. O encarregado de transportes ainda se emociona ao recordar o dia em que recebeu alta.
“Quando andei pela primeira vez, foi uma emoção muito grande. Nasci de novo. Tudo para mim foi novidade. Andar de novo, tomar banho, me movimentar. Tive uma outra data de nascimento. Eu estive bem na porta da morte. Mas, graças a Deus, saí de lá”, lembra o convalescente.
Dois meses após a alta, ele ainda faz sessões de fisioterapia e mostra os relatórios médicos. Entre as “heranças” da COVID-19, o documento menciona trombos nas pernas, falta de ar e grande perda muscular.
“Ainda faço fisioterapia três vezes por semana. Tive que aprender a respirar, a andar. E, agora, ainda preciso fortalecer a musculatura dos membros inferiores e superiores, pois fiquei muito flácido. O vírus me enfraqueceu muito. Ainda hoje, sinto cansaço. Não é mais aquela falta de ar do início, mas ainda fico ofegante. Segundo os médicos, esse sintoma deve me acompanhar por cerca de seis meses”, descreve.
Alguns medicamentos acompanharão Carlos pelo mesmo período. Principalmente o anticoagulante, recomendado pelo angiologista. O paciente faz consultas regulares com mais dois especialistas – o pneumologista e o cardiologista.
“Não adianta querer correr para acelerar a recuperação. As vitórias são pequenas, dia após dia. A gente passa a comemorar coisas simples do cotidiano que, antes, costumava tirar de letra. Subir uma escada, suportar um pouco mais de peso. Dia 19 de abril, voltei a trabalhar. Por enquanto, ainda estou pegando mais leve. Muitas coisas que eu tinha o hábito de fazer, ainda não faço. A gente fica muito limitado. Mas estar vivo é, com certeza, a minha grande vitória. Tudo o que eu pedia aos médicos e enfermeiros no hospital era para que me ajudassem a voltar para a minha esposa e para os meus três filhos”, conta.
“Quase 100%”
Aos 33 anos, sem diagnóstico de comorbidades, Lucas Lanza nunca havia quebrado sequer um osso ou manifestado qualquer condição que o obrigasse a permanecer no hospital por mais de um dia. Em julho de 2020, se viu na UTI com complicações gravíssimas decorrentes da COVID-19: inflamação nos pulmões, falência renal e hemorragia.
“O curioso é que eu fui infectado e o meu pai, que tem uma condição cardíaca, também. Ele se internou, mas a recuperação ocorreu sem grandes complicações. Já eu fiquei muito grave”, relata.
O engenheiro mecânico permaneceu no hospital por 26 dias, 14 deles entubado. Quando acordou, estava 14 quilos mais magro, sem coordenação motora ou forças para sequer pentear os cabelos. A retomada do equilíbrio, da autonomia motora e do fôlego foi gradativa e levou cerca de cinco meses, após muita fisioterapia motora e cardiorrespiratória.
“Considerando a gravidade do meu caso, acho que me recuperei até rápido. Me sinto muito bem, diria 99%”, diz o engenheiro. O ‘1%” que ainda falta ele atribui a eventuais cansaços nas caminhadas mais longas e ao coração, que segue sob cuidados. “Ainda preciso tomar um remédio pois, quando tive alta, meu coração ficou um pouco desregulado. O medicamento controla minha frequência cardíaca e a minha pressão”, afirma.
“Não conseguia ficar sozinha em casa”
Para Karin Martins, de 33 anos, a batalha pós-COVID foi, sobretudo, mental. A bancária, que ficou 13 dias no hospital em decorrência do vírus – seis deles no CTI – diz que desenvolveu síndrome do pânico após a alta.
“Nas primeiras semanas, logo que saí do hospital, não conseguia ficar sozinha em casa. Tentei ir algumas vezes ao supermercado, mas não conseguia fazer as compras. Também fiquei sem dirigir, atividade de que sempre gostei muito, por um tempo. Demorei mais de 15 dias para conseguir pegar no volante. Sentia medo, perdia o ar. Felizmente, esse quadro não se arrastou muito e não precisei de antidepressivos”.
Em casa desde 1° de março, Karin diz que fez fisioterapia por cerca de um mês para se recuperar das perdas musculares que sofreu durante a internação. Ela emagreceu 8 quilos e ainda está no processo de recuperação de seu peso normal. “No primeiro mês depois da minha alta tomei anticoagulantes, mas já parei. Restam agora os suplementos vitamínicos, pois a internação provoca perdas nutricionais importantes. Então, tomo as vitaminas B e C, além de Ômega 3”, conta.
“Considero que, hoje, estou bem. Mas a vida muda depois da COVID, né? Repensei muitas coisas. Por exemplo, meu projeto de ter um filho. Antes de ficar doente, eu estava me preparando para engravidar. Agora, eu e meu marido decidimos esperar mais um pouco. Sinto que ainda estou acabando de me organizar. É um processo que leva tempo”, emenda a bancária.
“Vou ter que me adaptar”
Para Ronildo Melo, de 49 anos, a COVID-19 trouxe consequências com as quais ele terá que conviver para sempre. A doença fez com que os rins dele parassem de funcionar definitivamente. Ele agora faz hemodiálise diariamente e entrou na fila do transplante renal.
O técnico de segurança e manutenção, que é também diabético e hipertenso, foi hospitalizado por 47 dias, entre os quais oito na UTI, respirando com o auxílio de respiradores.
“Hoje, tomo 15 remédios diferentes, fora os suplementos vitamínicos. Sou outra pessoa, não tenho mais ânimo para uma caminhada simples. Não consigo mais andar de bicicleta, coisa que eu gostava muito. Vou ter que me adaptar. As vezes, tenho vontade de desistir de tudo. Mas, daí, penso que sobreviver era a parte mais difícil e eu sobrevivi. Se eu estou vivo, isso deve ter um propósito”, reflete.
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