"Eu não tinha paz, passei cinco anos com medo. Sofri de terror psicológico à agressões físicas". Esse é o relato de uma jovem de 22 anos que viveu a violência doméstica e, hoje, respira aliviada por não se tornar um número nas trágicas estatísticas de feminícidio.
Isso porque a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) prendeu, nesta quinta-feira (6/5), um homem, de 41 anos, suspeito de matar o amigo, de 35, e ameaçar e agredir a ex-namorada.
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Carta da mulher do promotor revela depressão e suspeita de traiçãoPromotor tentou atrapalhar a investigação da morte da mulher, diz MPPromotor suspeito de matar a mulher em BH deve ser ouvido nesta terça-feiraviolenciacontramulheresPM prende neto que confessou matar avó a facadas: 'Pediu remédio'Homem que mantinha casa de prostituição com adolescentes é preso em IbiáO suspeito estava foragido desde novembro de 2020, quando matou o amigo, que estaria em um relacionamento com sua já ex-namorada, no aglomerado Cabana do Pai Tomás, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte.
A localização do suspeito foi possível após a vítima comparecer à Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher de Belo Horizonte (Deam/BH) para registrar um novo boletim de ocorrência.
A jovem já tinha medida protetiva e procurou a polícia nessa quarta-feira (5/5) relatando diversas ameaças e o descumprimento de medida protetiva de urgência. "Ele continuava me perseguindo. Ele me ligava, me ameaçava na rua. Ele dizia que ia me matar", contou a jovem.
Diante disso, foi verificado que o suspeito tinha um mandado de prisão em aberto, representado pelo Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), e expedido pela Justiça.
"Ele é um homem muito violento. Muitas pessoas tinham medo dele", contou a delegada responsável pelo caso Cristiana Angelini, da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher.
Por meio de levantamentos, os policiais localizaram o investigado, nesta manhã, no Bairro Maria Helena, em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana.
“A prisão desse indivíduo busca, além da responsabilização pelo homicídio, segurança e tranquilidade para a mulher que precisava viver escondida e com medo das ameaças”, disse a delegada.
A Deam/BH prossegue com a investigação em relação aos crimes de ameaça e descumprimento de medidas protetivas e irá pedir a prisão preventiva do suspeito.
A delegada frisa a importância de denunciar. "É importante denunciar. É importante levar a ameaça à sério. E é através dos registros que podemos pedir a medida protetiva e, em caso de descumprimento, tomar ações mais drásticas como a prisão", relatou.
A vítima conta que, por muitos anos, teve medo de acionar à polícia. "Mas, hoje, eu estou em paz. Peçam ajuda", disse.
Boletim de ocorrência virtual
Pensando em estimular a denúncia, a Polícia Civil de Minas Gerais disponibilizoua uma ferramenta destinada ao registro de violência doméstica por meio da Delegacia Virtual. Pela plataforma é possível gerar, de forma on-line, registros de lesão corporal, ameaça e descumprimento de medida protetiva de urgência cometidos contra mulheres, crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência.A nova ferramenta foi criada a partir da Lei 23.644, que autoriza a Polícia Civil a realizar registros on-line de violência doméstica enquanto perdurar o estado de calamidade pública devido à pandemia da COVID-19. A lei estabelece ainda que a polícia deverá entrar em contato com a vítima, preferencialmente por telefone ou meio eletrônico.
Como pedir ajuda
Para fazer o registro de violência doméstica, a vítima ou o representante legal deverá acessar o site delegaciavirtual.sids.mg.gov.br e, em seguida, selecionar uma das opções relacionadas à violência doméstica, sendo: ameaça, vias de fato, lesão corporal e descumprimento de medida protetiva de urgência.Na sequência, os campos disponibilizados deverão ser preenchidos com informações do solicitante, do(s) autor(es), de testemunhas, o local e a data dos fatos, assim como o histórico da ocorrência.
Após a inserção das principais informações, haverá a possibilidade de requerer a medida protetiva de urgência. O solicitante precisa especificar o tipo de medida protetiva necessária, de acordo com as opções relacionadas na tela.
Demais canais de denúncia
- Ligue 190 - se ouvir gritos e sinais de briga
- Ligue 180 - para denunciar violência doméstica
- Ligue 100 - quando a violência for contra crianças
Atendimento à vítima de violência doméstica em Belo Horizonte
- Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher, ao Idoso e à Pessoa com Deficiência
Endereço: Avenida Barbacena, 288
Telefone: (31) 3330-5752 - Centro Risoleta Neves de Atendimento à Mulher
Telefone: (31) 3270-3235/3270-3296 - Defensoria Especializada de Defesa da Mulher vítima de Violência
Telefone: (31) 98475-2616/ (31) 984643797/ (31) 98239-8863 - Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Benvida)
Telefone: (31)98873-2036 Promotoria da Mulher (31) 3337-6996
*Se na sua cidade não houver nenhum serviço especializado de atendimento à mulher em situação de violência, entre em contato com a delegacia de polícia mais próxima, com serviço de assistência social do seu município (ou CRAS) ou com a Promotoria de Justiça da comarca.
O que é feminicídio?
Feminicídio é o nome dado ao assassinato de mulheres por causa do gênero. Ou seja, elas são mortas por serem do sexo feminino.
O Brasil é um dos países em que mais se matam mulheres, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. O país ocupa, desde 2013, o 5º lugar no ranking de homicídios femininos numa lista que inclui 83 países.
A tipificação desse tipo de crime é recente no Brasil. A Lei do Feminicídio (Lei 13.104/15) entreou em vigor em 9 de março de 2015.
O feminicídio é o nível mais alto da violência doméstica. É um crime de ódio, o desfecho trágico de um relacionamento abusivo.
O que é relacionamento abusivo e como sair dele?
Especialistas ensinam a identificar sinais de uma relação abusiva, falam sobre sua origem e explicam porque a violência doméstica é questão de saúde pública.
Como fazer denúncia de violência contra mulheres
- Para denunciar e/ou buscar ajuda, ligue 180
- Em casos de emergência, ligue 190
Saiba o que é a cultura do estupro
O Brasil tem um caso de estupro a cada oito minutos. Ao contrário do que o senso comum nos leva a acreditar, a violência contra as mulheres nem sempre ocorre de forma explícita.
Os abusos podem começar cedo, ainda na infância. Para tentar entender as origens dessa brutal realidade, o Estado de Minas ouviu especialistas em direito da mulher, ciências social e política, psicologia, filosofia e comunicação para mostrar como a cultura do estupro, da pornografia e da pedofilia fazem parte da nossa sociedade e estimulam, direta e indiretamente, esse ciclo de violência contra mulheres e crianças.
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