O Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV-MG) realizou audiência nessa segunda-feira (17/5), e continuará nesta terça-feira (18/5), a respeito dos casos dos cães Malu e Rambo, possíveis vítimas de crimes dos médicos veterinários Marcelo Simões Dayrell e Francielle Fernanda Quirino dos Santos.
O casal era dono da clínica Animed, fechada pela polícia em dezembro de 2019, logo após a prisão de Marcelo. Francielle ficou foragida da Justiça.
O casal era dono da clínica Animed, fechada pela polícia em dezembro de 2019, logo após a prisão de Marcelo. Francielle ficou foragida da Justiça.
O tutor de Malu, o médico David Barreto, será ouvido em audiência on-line, nesta terça-feira (18/5), às 11h. Nessa segunda, ocorreu a audiência sobre o cão Rambo, do policial civil Bruno Monteiro.
Marcelo Simões Dayrell e Francielle Fernanda Quirino dos Santos são investigados por estelionato, maus tratos, crimes ambientais, ameaças, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, junto com o gerente da Animed, Daniel Gonçalves Ferreira, e o advogado Phelipe Pereira Cardoso. Ele ajudava nas coações e intimidações de vítimas e testemunhas.
Rambo sofreu duas cirurgias desnecessárias
Foram cinco meses de sofrimento em 2018. O cachorro tinha um problema simples, mas foi submetido a duas cirurgias desnecessárias que o deixaram com a pata atrofiada.
Seu tutor, Bruno Monteiro, conseguiu tirá-lo da clínica após ter sido alertado que Dayrell poderia estar cometendo atrocidades e inventando procedimentos apenas para ganhar dinheiro.
O cachorro fazia tratamento para leishmaniose sem ter a doença. Rambo teve necrose na pata, perdeu um dedo e faz tratamento até hoje.
O cachorro fazia tratamento para leishmaniose sem ter a doença. Rambo teve necrose na pata, perdeu um dedo e faz tratamento até hoje.
Na audiência dessa segunda-feira (17/5), os membros do conselho analisara as provas e reconheceram as condutas anti-éticas de Marcelo e Francielle. Ela sofreu uma punição mais leve, por ser sócia e por se omitir, já que quem atuou no caso foi Dayrell.
Apesar de reconhecerem que o veterinário agiu com falta de ética, ele levou uma advertência e foi condenado a pagar uma multa de R$ 1.500. A pena é considerada leve, já que Marcelo é réu primário.
As partes ainda podem recorrer para o Conselho Federal. O relator anunciou seu voto e foi acompanhado por outros 6 conselheiros e 3 diretores.
As partes ainda podem recorrer para o Conselho Federal. O relator anunciou seu voto e foi acompanhado por outros 6 conselheiros e 3 diretores.
Além dos veterinários e do tutor do Rambo, também participaram da audiência os vereadores Miltinho, Wilsinho da Tabu e Reinaldo, que conseguiram junto ao CRMV-MG o direito de acompanhar o caso.
Malu não resisitiu e acabou morrendo
Já a audiência do caso da cadela Malu está marcada para às 11h desta terça-feira (17/5). Antes, às 10h, haverá uma manifestação organizada por protetores dos animais em frente ao CRMV-MG.
Em 2019, Malu foi atropelada em Lagoa da Prata. Após passar por duas clínicas, em Bom Despacho e Pará de Minas, David Barreto recebeu a indicação de levar Malu até a Animed.
Ela passou por três procedimentos cirúrgicos. Depois do primeiro, David começou a perceber que Malu estava com anemia grave.
Ela passou por três procedimentos cirúrgicos. Depois do primeiro, David começou a perceber que Malu estava com anemia grave.
“Depois das complicações da primeira cirurgia, tudo começou a me parecer muito estranho. Comecei a desconfiar e ficar muito angustiado”, lembra David.
Depois da segunda cirurgia, os exames mostravam sinais de infecção e Malu não tinha sensibilidade na pata operada.
Depois da segunda cirurgia, os exames mostravam sinais de infecção e Malu não tinha sensibilidade na pata operada.
“Marcelo chegou a considerar a possibilidade de amputar a pata.” David conta que mencionou a vontade de contratar um neurologista, mas o veterinário tentou demovê-lo da ideia, alegando que ainda faltava uma última cirurgia.
No dia marcado para este procedimento, David recebeu uma ligação de um número desconhecido. Do outro lado da linha, uma mulher alertou que ele estava sendo vítima de um estelionatário e sugeriu que ele tirasse a cadela da clínica.
“(...) E hoje, você não sabe, mas ele vai entrar para o bloco cirúrgico para corrigir erros cirúrgicos das outras duas cirurgias que ele fez.”
“(...) E hoje, você não sabe, mas ele vai entrar para o bloco cirúrgico para corrigir erros cirúrgicos das outras duas cirurgias que ele fez.”
David proibiu que o procedimento fosse feito. Ele levou duas testemunhas e foi até a clínica retirar Malu. Ela foi levada para uma outra clínica, na Pampulha. David se emociona ao lembrar do trajeto.
“O que essa cachorrinha chorou. Eu tentava incessantemente consolá-la. E ela rastejava do banco traseiro para tentar ir para o banco da frente. Ela chorava e foi uma hora de sofrimento imenso.”
Na clínica, ela foi medicada e submetida a novos exames. “Os resultados mostraram que ela tinha alterações multisistêmicas. O fígado já estava com problema de funcionamento. O exame de sangue mostrava consumo das células, ela estava com um quadro de sepse. O raio X também mostrou parafusos soltos e outra placa com parafusos maiores.”
Os resultados comprovaram a denúncia feita pelo telefone e que depois foi confirmada por um funcionário da clínica que participou do procedimento. O próprio Marcelo confessou que fez um mini procedimento durante audiência em janeiro de 2020.
Malu morreu depois de alguns dias. David levou o corpo para a Faculdade de Medicina Veterinária da UFMG, onde foi submetido a uma necropsia. O laudo descreve todas as lesões e conclui que a causa da morte foi infecção generalizada.
“Por ganância e crueldade. É assim a prática desse cidadão e da quadrilha. Ele aplica vários golpes.” David conta que quando foi retirar Malu da clínica, a secretária queria que ele assinasse uma nota promissória em branco.
A primeira audiência foi realizada ano passado. David e suas testemunhas prestaram depoimento, assim como Marcelo e as testemunhas de defesa.
“O relator do processo é um médico veterinário que foi indicado para acompanhar o caso. Ele colhe todos os depoimentos. Eu elaborei um dossiê com a denúncia, ele apresentou a defesa e depois isso foi para apreciação. E desde janeiro estamos esperando o parecer final.”
Na audiência desta terça-feira (18/5) vai ocorrer, além dos depoimentos, o julgamento do caso. E David espera que o veterinário seja condenado.
“De acordo com o que prevê o Código de Ética Médica Veterinária, em função dos múltiplos crimes e infrações éticas gravíssimas que ele cometeu, eu espero veementemente que ele seja cassado. Porque o caso do Marcelo Dayrell não tem precedentes na medicina veterinária brasileira. Uma pessoa dessa está manchando, está tornando indigna a profissão, está causando desconfiança e desconforto. Espero, de fato, que ele seja cassado”, concluiu.
Marcelo e Francielle continuam trabalhando
Marcelo e Francielle Fernanda foram soltos em novembro de 2019 e continuam trabalhando. Segundo denúncias, os veterinários continuam cometendo crimes contra animais e seus tutores desde dezembro de 2020 no São Bento Hospital Veterinário, localizado na rua Kepler, no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-Sul de BH.
Após negativa da juíza do caso e do Ministério Público, eles recorreram ao desembargador Eduardo Brum, que deu decisão provisória para que voltassem a trabalhar até a conclusão do inquérito.
O São Bento Hospital Veterinário está em nome de um amigo – que não é do ramo da veterinária – de Marcelo Simões Dayrell. Antes, ele se apresentava como Marcelo Dayrell e agora usa Marcelo Simões e cabelo grande. Francielle agora se identifica apenas como Fernanda.
O processo aberto contra eles tem dezenas de provas e testemunhos de crimes bárbaros contra animais de seus clientes, num total de mais de mil páginas, divididas em sete pastas e mais de 50 depoimentos. A perícia conseguiu resgatar mensagens de celulares e filmagens apagadas e muitos documentos foram apreendidos.
*Estagiária sob supervisão do editor Álvaro Duarte