Voluntário no comitê de enfrentamento à COVID-19 da Prefeitura de BH, o médico Unaí Tupinambás vê com apreensão a ameaça de uma terceira onda, situação que, mais do que possível, considera provável. E teme que ela seja ainda mais grave que as anteriores.
Como o senhor avalia a probabilidade de uma terceira onda de incidência de casos de COVID-19 em Minas?
Temos visto um aumento sistemático, com a incidência de novos casos subindo no Brasil inteiro. A média móvel está aumentando. Infelizmente, aumentou também o número de óbitos nos últimos dias. Estamos muito preocupados com essa flexibilização das atividades, e também com a chegada do outono e inverno, que facilitam a propagação de viroses transmitidas por via aérea, tanto a COVID-19 quanto outras.
Então, realmente há chance de que tenhamos aumento de casos. Temos de torcer para que a vacinação se amplie ainda mais, para poder fazer frente a essa terceira onda que tem probabilidade muito grande de acontecer, e tão grave quanto foi a de abril.
Então, realmente há chance de que tenhamos aumento de casos. Temos de torcer para que a vacinação se amplie ainda mais, para poder fazer frente a essa terceira onda que tem probabilidade muito grande de acontecer, e tão grave quanto foi a de abril.
Qual a importância de se preparar para essa possibilidade?
Em Belo Horizonte, a Secretaria Municipal de Saúde está se preparando para um cenário pior, mais catastrófico, comprando insumos e medicamentos. A gente se prepara para o pior cenário, na torcida para que aconteça uma coisa mais branda. Mas temos um receio muito grande de que venha uma onda importante. As pessoas estão muito cansadas, achando que já tomaram vacina e já pode flexibilizar, enfim, um cenário ainda muito preocupante.
O que o poder público pode fazer para impedir a alta de casos?
Muita coisa. Na esfera municipal, BH tem feito muitas ações de enfrentamento, já propôs o fechamento da cidade quatro vezes, ficamos em isolamento social durante vários meses.
Mas o mais importante é o poder federal implantar medidas de controle. Infelizmente, vimos no último domingo o presidente promovendo aglomeração, sem máscara. Por outro lado, o auxílio emergencial é muito pouco para (permitir que a população carente fique em casa e) poder abrandar a fome. Vimos que o poder municipal tem um limite de ação. É preciso comprar mais vacinas, fazer negociação, ir atrás; coisas que não vimos no ano passado.
Este ano continua havendo atitudes beligerantes contra a China, contra a Índia, dificultando a importação de insumos. A situação é realmente muito complicada. Poderíamos ter tido 70 milhões de doses da Pfizer ano passado, 35 milhões de pessoas vacinadas... Quantas vidas teríamos salvo? O governo federal tem que começar a acertar.
Mas o mais importante é o poder federal implantar medidas de controle. Infelizmente, vimos no último domingo o presidente promovendo aglomeração, sem máscara. Por outro lado, o auxílio emergencial é muito pouco para (permitir que a população carente fique em casa e) poder abrandar a fome. Vimos que o poder municipal tem um limite de ação. É preciso comprar mais vacinas, fazer negociação, ir atrás; coisas que não vimos no ano passado.
Este ano continua havendo atitudes beligerantes contra a China, contra a Índia, dificultando a importação de insumos. A situação é realmente muito complicada. Poderíamos ter tido 70 milhões de doses da Pfizer ano passado, 35 milhões de pessoas vacinadas... Quantas vidas teríamos salvo? O governo federal tem que começar a acertar.
Como o poder público pode se preparar para uma eventual terceira onda?
O poder público municipal tem comprado insumos, seja para medicação e intubação, seja EPIs. Tem uma dificuldade de compras de teste para COVID-19, que é uma limitação do poder público municipal. Mas acho que o mais importante seria uma ação conjunta, federal, estadual e municipal, coordenada pelo Ministério da Saúde.
Tenho dito que essa pandemia foi municipalizada. BH faz de um jeito, Contagem de outro, Betim de outro... Sem uma centralidade nas ações, fica muito difícil. Infelizmente, estamos colhendo os frutos disso no Brasil. Chegamos a essa calamidade de 435 mil pessoas mortas (444.094, segundo balanço mais recente) e, em breve, infelizmente, vamos bater meio milhão, muito por conta dos erros do Ministério da Saúde e do governo federal.
Tenho dito que essa pandemia foi municipalizada. BH faz de um jeito, Contagem de outro, Betim de outro... Sem uma centralidade nas ações, fica muito difícil. Infelizmente, estamos colhendo os frutos disso no Brasil. Chegamos a essa calamidade de 435 mil pessoas mortas (444.094, segundo balanço mais recente) e, em breve, infelizmente, vamos bater meio milhão, muito por conta dos erros do Ministério da Saúde e do governo federal.
Qual o papel da população neste momento?
A população tem sido vítima. Se tem um presidente que favorece a aglomeração, estimula o não uso da máscara, a população fica confusa. É muito poderosa essa imagem do presidente. A população que está na dúvida se sente um pouco legitimada em sair sem medo.
Ainda divulgando essa questão do tratamento precoce, isso elevou a tragédia brasileira. Uma parte da população não está informada adequadamente, e quando busca informação ela vê as ações do presidente da República e fica em dúvida.
O papel da autoridade sanitária é informar cada vez mais a população sobre a necessidade de manter o uso da máscara facial, duas máscaras bem posicionadas, lavar as mãos, evitar aglomeração. Mas é uma guerra de informação. Eu acho que este ano de 2021 ainda será muito difícil.
Ainda divulgando essa questão do tratamento precoce, isso elevou a tragédia brasileira. Uma parte da população não está informada adequadamente, e quando busca informação ela vê as ações do presidente da República e fica em dúvida.
O papel da autoridade sanitária é informar cada vez mais a população sobre a necessidade de manter o uso da máscara facial, duas máscaras bem posicionadas, lavar as mãos, evitar aglomeração. Mas é uma guerra de informação. Eu acho que este ano de 2021 ainda será muito difícil.
Fila zerada, mas vagas também
A possibilidade de uma terceira onda da pandemia preocupa gestores dos maiores hospitais do Leste de Minas. Governador Valadares, cidade-polo da região, tem 54 leitos de UTI para COVID-19 na rede pública e, após enfrentar colapso no auge da procura, conseguiu zerar a fila de espera por vaga, mas continua com ocupação de 100% nos leitos para casos graves. Não há condições nem previsão para ampliação de leitos por falta de mão de obra para atuar na linha de frente.
“Hoje temos apenas a possibilidade de articulação de leitos clínicos, de acordo com a demanda, que é variável”, informou a Secretaria Municipal de Saúde. A pasta acrescenta que monitora o abastecimento de medicamentos e insumos do kit intubação. Rotineiramente, o município tem oficiado ao governo do estado com pedidos de apoio e suporte.
Para diminuir o impacto de uma eventual terceira onda, a Saúde municipal diz ter ampliado a vacinação contra a COVID-19 seguindo diretrizes do Programa Nacional de Imunização (PNI) e conforme disponibilidade de doses. Equipes têm trabalhado inclusive em fins de semana para aumentar a cobertura vacinal.
Caratinga
O alerta para eventual elevação de casos se repete em Caratinga, no Vale do Aço, mas os gestores da saúde se dizem preparados para atender os pacientes. A direção do Casu-Hospital Irmã Denise, que tem 125 UTIs adulto, cinco pediátricos e 20 clínicos, informou que não houve desmobilização dos leitos em funcionamento, mas reconhece que a unidade já atingiu a estrutura máxima, sem possibilidade de novas ampliações.
“Ressaltamos que durante o pico da segunda onda a ocupação máxima de leitos de UTI foi de 105 pacientes. Sendo assim, não atingimos a utilização máxima dos leitos disponíveis. E em todo o período da pandemia não deixamos nenhum paciente sem assistência. Caso aconteça a terceira onda, o hospital está preparado”, informou a direção, em nota.
O Casu sustenta que os insumos cuja falta foi preocupação meses atrás não são mais problema, já que o hospital tem conseguido adquiri-los, inclusive para complementar a quantidade recebida do Ministério da Saúde. Também informa ter recebido bloqueadores musculares da Secretaria do Estado de Saúde. E, com a queda no número de casos de COVID-19 na região, acrescenta que conseguiu fazer um bom estoque para atendimento imediato em caso de eventual terceira onda.
Além disso, a unidade diz ter estabelecido protocolos de substituição de drogas que permitiram trabalhar no pico da segunda onda. “Se for preciso, eles serão adotados novamente.”
Menos de 10% de leitos para casos graves
A pandemia avança novamente em Poços de Caldas, no Sul de Minas. Apesar de estar com mais de 91,8% dos leitos de UTI COVID-19 ocupados, a prefeitura diz que está preparada para atender pacientes da região. A cidade soma 8.831 pessoas infectadas e 292 óbitos confirmados pela doença. Em 20 dias, o salto foi de mais de mil registros positivos e 44 mortes.
De acordo com a prefeitura, uma ala do Hospital Margarita Morales está disponível caso haja necessidade. A cidade atende pacientes infectados nos hospitais de Campanha, Santa Casa, Santa Lúcia e em dois particulares. Ao todo, são 73 leitos de UTI para a região.
“Estamos preparados, como sempre estivemos em toda a pandemia, para atender pacientes da cidade e da região. Para a aquisição dos medicamentos do chamado kit intubação, já entramos em contato com o governo de Minas”, afirma o secretário municipal de Saúde, Carlos Mosconi.
Do total de leitos, 30 são da Santa Casa, atualmente com 100% de ocupação. No começo da pandemia, o hospital tinha apenas 10 vagas de UTI para atender a todas as demandas. Agora, são 20 só para COVID-19.
Morte sem leito
No começo do mês passado, uma idosa morreu em decorrência da COVID-19 aguardando vaga na UTI da Santa Casa. A mulher, de 76 anos, com doenças associadas, estava na atenção semi-intensiva na unidade de pronto-atendimento (UPA).
Na época, a prefeitura informou que, devido à lotação, pacientes precisaram ser atendidos nos 10 leitos de UTI do Hospital de Campanha, que também estava com 100% de ocupação, e nos semi-intensivos da UPA. “Os números são preocupantes, principalmente pelo longo tempo que os pacientes permanecem nas UTIs se recuperando”, explicou a assessoria de imprensa.
(Com Camilla Dourado - Especial para o EM e Tim Filho - Especial para o EM)
(Com Camilla Dourado - Especial para o EM e Tim Filho - Especial para o EM)