Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Aglomeração no domingo acende alerta para o feriado de Corpus Christi em BH

Os feriados são bem-vindos, os dias de descanso, justos e necessários, mas nem por isso está na hora de aglomerar, encher as ruas, dar munição à COVID-19. Nada de baixar a guarda, alertam com severidade os especialistas, pois os indicadores crescem nos feriados com a queda do isolamento social.



A chegada de Corpus Christi, quinta-feira, com prolongamento de recesso em muitos locais de trabalho até domingo, já preocupa autoridades municipais e epidemiologistas para que não se repita o cenário de ontem, quando houve multidão na Feira de Artes, Artesanato e Produtores da Avenida Afonso Pena (Feira Hippie) e na orla da Lagoa da Pampulha.

O alerta vem do presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estêvão Urbano, para a população tomar cuidado num cenário em que circulam novas variantes do vírus (incluindo as do Amazonas e, agora, a da Índia), que podem levar a um colapso no sistema de Saúde, provocar mais muitas mortes e aumentar o número de transmissão e internações.

"Este feriado poderá ser decisivo e extremamente impactante na evolução da pandemia. Precisamos ficar atentos a esses períodos, cuidando para não aglomerar. Não podemos baixar a guarda em momento algum", recomenda Urbano.



Na abordagem das responsabilidades individuais, o apelo é não piorar o quadro de dificuldades. "Um feriado mal administrado pela população aumenta a gravidade, principalmente com as novas cepas do vírus que podem levar ao caos no país inteiro", avisa o infectologista. Assim, ficar em casa, usar máscara, manter o distanciamento social e higienizar as mãos com álcool em gel seguem como protocolos indispensáveis no feriadão.

O infectologista Unaí Tupinambás, integrante do grupo de médicos responsáveis por aconselhar o prefeito Alexandre Kalil (PSD), também prega prudência nesta semana: “Tem feriado agora, ficamos preocupados, pois estão achando que a pandemia acabou. As pessoas estão cansadas, estamos às vésperas do inverno, há as variantes novas. Tem tudo para aumentar o número de casos e ser outra grande catástrofe”.

Aglomeração

Na manhã de ontem, Belo Horizonte viveu dia de ruas cheias, um contrassenso diante da pandemia de coronavírus. O fluxo de pessoas foi intenso no entorno da Lagoa da Pampulha, onde os belo-horizontinos aproveitaram a luz do sol para se exercitar e admirar a paisagem.



Conforme flagrou a equipe do Estado de Minas, sem máscaras, algumas pessoas praticavam atividades físicas como ciclismo e caminhada. Ao repórter, um guarda municipal disse que, durante parte da manhã, houve distribuição de protetores faciais a quem passava.

Já no Centro, na Feira de Artes, Artesanato e Produtores da Afonso Pena (Feira Hippie), o movimento também chamou a atenção. Com a temperatura mais semelhante a verão do que outono, famílias inteiras curtiram o domingo em total aglomeração, se espremendo entre os corredores da feira para ver e adquirir os produtos expostos pelos barraqueiros.

Em nota, a PBH informou que não havia recebido denúncias sobre esses locais. E que os casos em desacordo com os decretos municipais, incluindo funcionamento irregular de estabelecimento comerciais, podem ser denunciados pelo telefone 156 ou pelo aplicativo BHAPP. Elas são encaminhadas ao Centro Integrado de Operações da Prefeitura (COP-BH), de onde são direcionadas à Guarda Municipal, à Subsecretaria de Fiscalização ou à Vigilância Sanitária, para providências. Segundo as autoridades, tais instituições podem agir de forma independente ou em conjunto. A Polícia Militar atua em parceria com a PBH nos casos de eventos com grande aglomeração de pessoas, sobretudo em ruas e praças.



PBH liga queda de isolamento à flexibilização

A queda no isolamento em Belo Horizonte tem relação com a gradual flexibilização das atividades. Neste mês, por exemplo, a PBH autorizou medidas menos restritivas referentes a supermercados, feiras livres e clubes. Antes proibidos de funcionar aos domingos, mercados e padarias passaram a abrir as portas. Os espaços de lazer e as feiras também foram liberados.

Belo Horizonte encerrou a última semana útil com ligeiras quedas em todos os índices de monitoramento da pandemia – inclusive na taxa de transmissão por infectado. Mesmo assim, o percentual de unidades de terapia intensiva (UTIs) ainda está no nível vermelho, tido como crítico. Segundo os dados, 77,7% dos leitos estavam com pacientes.

As aglomerações em tempo de COVID-19, no entanto, preocupam o comitê montado pela PBH para monitorar o avanço da doença viral. Na sexta-feira, data do último boletim diário sobre a epidemia, o número médio de transmissão por infectado estava em 1,07 – o que representa nível intermediário de risco. O de isolamento, por sua vez, apontava 43,7%.





Aos fins de semana, o isolamento social costuma ter picos: no domingo anterior, por exemplo, bateu 51,8%, ante 46,1% no dia anterior. Em abril e maio (considerando recorte até o dia 26), contudo, o percentual não ultrapassou 55%, marca tida como ideal por autoridades em saúde. A última vez que isso ocorreu foi em 28 de março, justamente um domingo. Naquele dia, 55,6% dos belo-horizontinos evitaram se expor.

Diante deste quadro, vale o alerta das autoridades, pois já constataram que, nos fins de semana e feriados, as taxas de isolamento social caem, com mais gente na rua. No boletim epidemiológico divulgado em 10 de maio, após o Dia das Mães, a taxa ficou em 45,1%. O número médio de transmissão por infectado, em 0,97; ocupação de leito de UTI (COVID), 75,3%; ocupação de leitos de enfermaria, 56,6%.

Avaliação

A Prefeitura de Belo Horizonte informa, em nota, que avalia diariamente o cenário assistencial para definir a necessidade de abertura de novos leitos e contratação de profissionais. "As tomadas de decisão são feitas de forma a sempre garantir assistência à população."



Na Rede SUS, há 579 leitos UTI Covid. Já na rede Suplementar, 484 leitos UTI Covid. Considerando os dados do último Boletim Epidemiológico e Assistencial, de sexta-feira, a taxa de ocupação leitos UTI Covid estava em 77,7%.

A Secretaria Municipal de Saúde informa que mantém o monitoramento constante dos indicadores da doença no município. Assim, "qualquer agravamento que comprometa a capacidade de atendimento será tratado para preservar vidas".
Na Avenida Afonso Pena, barracas ficaram lotadas: PBH diz não ter recebido denúncias (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)

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