Com uma campanha em andamento para contribuição comunitária, padre Elvis pretende trocar a mesa da eucaristia (de madeira tipo cavalete, adquirida há 10 anos) por outra que trará na frente, em dourado sobre fundo branco, entalhes imitando a ornamentação do retábulo. Além disso, deverá substituir o ambão (suporte para leitura) e a sédia (conjunto de três cadeiras para o celebrante da missa e os ajudantes). Na ação “em prol do novo altar” da Igreja São José da Lagoa, localizada no Bairro Manjahy, o líder católico conclama os paroquianos: “Vamos deixar nossa igreja-mãe ainda mais bela, com o conjunto estético no seu estilo de construção”.
Vozes contrárias ecoam, inclusive entre especialistas. “Não podemos aceitar tal descaracterização. Nossa igreja é do século 18, o altar, de Servas, e o tombamento, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), então nada pode ser feito sem autorização”, diz o restaurador-conservador Ricardo Emiliano, nascido em Nova Era e batizado na Igreja São José da Lagoa.
A dona de casa Polyana Maria Costa é uma das que também mostram indignação. “Trata-se de uma agressão ao retábulo da nossa igreja. A comunidade não foi consultada em momento algum. Não podemos permitir”, afirma Polyana, vestida com uma camisa com a estampa da igreja e na qual se lê a frase “Valei-nos, São José”.
Desgostoso com a proposta do padre, Ricardo Emiliano afirma que as peças se encontram em ótimo estado de conservação, sem interferir na atmosfera barroca do templo. “As cadeiras são de palhinha, leves, enquanto as idealizadas pelo padre, revestidas de branco, são inadequadas. A ornamentação da mesa vai criar um clima fake, algo que destoa do original”, avalia. Ao lado de Polyana, o restaurador mostra o projeto do pároco impresso em papel e exposto logo na entrada da matriz para adesão dos devotos. “Veja: está escrito aqui ‘novo altar’”, apontou.
Considerando o gasto com as peças totalmente desnecessário, ainda mais em tempo de pandemia, o conterrâneo José Bonifácio Costa, servidor público, avisa que há urgências na igreja, como reparos na cobertura para evitar goteiras. “O padre diz que a igreja ficará mais bela. Ficando ou não mais bela, o problema é que haverá interferência, tirando a atenção para o altar. Queremos a igreja do jeito que ela é. A madeira crua da mesa atual não compete com o retábulo.”
Nas redes sociais, foi postada uma foto do retábulo com o alerta do grupo: “Podemos não estar reunidos. Mas estamos unidos. Pare! Não aceitaremos intervenções no nosso bem patrimonial”.