Jovens adultos, pobres e sem vacina. O perfil das vítimas da pandemia do novo coronavírus em Belo Horizonte foi confirmado em um estudo do Observatório de Saúde Urbana de BH (OSU-BH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Trata-se da edição 13 do chamado “InfoCOVID”, levantamento ao qual o Estado de Minas teve acesso nesta terça-feira (1º/06).
O informe analisou a base de dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), disponibilizada em 27 de abril de 2021, com enfoque em internações e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda-Grave (SRAG) que evoluiu para COVID-19 e SRAG não especificada, ocorridos em Belo Horizonte.
A nova edição ainda utilizou informações da base de dados do Programa Nacional de Imunização (PNI), com os registros de vacinas contra a COVID-19 aplicadas em Belo Horizonte, de 18 de janeiro a 17 de maio de 2021.
As análises ajudam a descrever a dinâmica da epidemia na capital mineira, diante das intervenções adotadas desde meados de março de 2020, com as restrições e flexibilizações do comércio.
Logo de início, o levantamento evidencia o perfil de internações e óbitos em 2021 e confirma que houve uma segunda onda da COVID-19 no município, em meados de março e abril.
Logo de início, o levantamento evidencia o perfil de internações e óbitos em 2021 e confirma que houve uma segunda onda da COVID-19 no município, em meados de março e abril.
Jovens e sem comorbidade
O estudo comprovou que houve aumento no número proporcional de internações em pessoas sem comorbidades e mais jovens.
Esse perfil refletiu, de certa maneira, nas características das mortes hospitalares, onde também foi observado maior aumento percentual de causalidades em indivíduos de 20 a 40 anos, seguido pelos de 40 a 60 anos, bem como maior aumento entre indivíduos sem comorbidades.
Ainda tímida, mas relevante, é a observada redução negativa proporcional dos casos de internação e óbitos entre quem tem mais de 60 anos, notadamente para os idosos de 80 anos ou mais.
Esse perfil refletiu, de certa maneira, nas características das mortes hospitalares, onde também foi observado maior aumento percentual de causalidades em indivíduos de 20 a 40 anos, seguido pelos de 40 a 60 anos, bem como maior aumento entre indivíduos sem comorbidades.
“O que já se falava com base em alguns elementos, agora a gente vê, com mais tempo para observar os dados, que realmente houve essa curva mostrando um pico muito grande na cidade, em torno de 120 casos na média móvel entre março e abril. Também observamos que os dados epidemiológicos estiveram em sincronização entre fechar e abrir a cidade”, explica a coordenadora do OSU-BH, Waleska Teixeira Caiaffa, professora titular da Faculdade de Medicina da UFMG.
“E vimos também essa mudança do perfil com relação à faixa etária. A gente vê um impacto muito grande em jovens sem relatos de comorbidades”, acrescenta.
“E vimos também essa mudança do perfil com relação à faixa etária. A gente vê um impacto muito grande em jovens sem relatos de comorbidades”, acrescenta.
Por outro lado, os idosos com mais de 80 anos estão mais protegidos, inclusive os que ainda não tomaram a segunda dose.
“É muito interessante o declínio da proporção de 80 anos ou mais, tanto em hospitalização quanto em óbito. A gente vê a modulação de dois fatores: a imunização e a manutenção do isolamento desse grupo. Na medida que a vacinação for progredindo, a gente fica otimista”, pontua a médica.
“É muito interessante o declínio da proporção de 80 anos ou mais, tanto em hospitalização quanto em óbito. A gente vê a modulação de dois fatores: a imunização e a manutenção do isolamento desse grupo. Na medida que a vacinação for progredindo, a gente fica otimista”, pontua a médica.
Lugares mais pobres
Outro ponto da pesquisa mostra a distribuição espacial na cidade com grupos residindo em áreas vulneráveis, alvo constante de maiores densidades de casos graves da COVID-19.“Morar em área de risco vulnerável, a gente vê que ainda tem proporção de óbitos. Áreas mais pobres, que são as pessoas geralmente inseridas nos trabalhos essenciais e que não podem parar, e agravou ainda com o corte da ajuda econômica”, explicou Waleska.
A pesquisa se baseou no Índice de Vulnerabilidade da Saúde (IVS) – índice da prefeitura que faz uma combinação de variáveis socioeconômicas em um indicador síntese, utilizado pela Secretaria Municipal de Saúde/PBH para apontar áreas prioritárias para intervenção e alocação de recursos.
Em relação aos percentuais de variação por IVS entre os dois períodos, no primeiro trimestre de 2021, nas áreas de baixo risco houve diminuição das internações e óbitos; pequeno aumento nas áreas de médio e aumento bem maior nas áreas de elevado e muito elevado risco.
Terceira onda
Diante das novas flexibilizações do comércio e da lentidão no ritmo da campanha de vacinação, há uma especulação de que uma terceira onda de casos possa ocorrer.Para a médica coordenadora do estudo, a hipótese não está descartada.
“É muito difícil prever, mas a gente tem que ter cuidado, senão podemos voltar a cair na curva do ano passado, de quando caímos, flexibilizamos e começou tudo outra vez. Nosso componente novo é a vacinação. Provavelmente, considerando a população vacinada, vamos ter menor taxa de internação e menor número de óbitos”, observa Waleska.
Por outro lado, a professora lembra da presença de novas variantes, que não são consideradas na pesquisa, mas que refletem no aumento de casos de contaminação.
“Sabemos que as variantes têm alta capacidade de transmissão e mesmo que a vacina proteja 70% da população, o que ainda não temos em Belo Horizonte, as variantes vão se multiplicando ao longo do tempo, a mutação faz parte do vírus. Então, as variantes vão aparecendo se as pessoas continuam nessa interação social. Na medida que as pessoas vão relaxando, a gente não sabe o cenário”, adverte.
“Sabemos que as variantes têm alta capacidade de transmissão e mesmo que a vacina proteja 70% da população, o que ainda não temos em Belo Horizonte, as variantes vão se multiplicando ao longo do tempo, a mutação faz parte do vírus. Então, as variantes vão aparecendo se as pessoas continuam nessa interação social. Na medida que as pessoas vão relaxando, a gente não sabe o cenário”, adverte.
A receita para não repetir o cenário de superlotação dos hospitais é óbvia: manter os cuidados sanitários.
“É tudo muito dinâmico, são dois pratos e uma balança. De um lado, temos os vacinados e, do outro, os possíveis infectados. Se pesar mais para o lado dos vacinados, não vamos ter outro pico epidêmico. Mas, se pesar para as variantes, a falta de uso de máscara, de isolamento social, pode desequilibrar e ter novo pico”, alerta a professora.
“É tudo muito dinâmico, são dois pratos e uma balança. De um lado, temos os vacinados e, do outro, os possíveis infectados. Se pesar mais para o lado dos vacinados, não vamos ter outro pico epidêmico. Mas, se pesar para as variantes, a falta de uso de máscara, de isolamento social, pode desequilibrar e ter novo pico”, alerta a professora.