Pandemia e parque fechado: ambulantes da Pampulha relatam dificuldades
Fechamento do Parque Guanabara fez ambulantes mudarem de lugar na pandemia da COVID-19. Eles falam em obstáculos para o comércio e problemas financeiros
Por
Cristiane Silva
05/06/2021 14:21 - Atualizado em 05/06/2021 14:48
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A pandemia da COVID-19 e o fechamento do Parque Guanabara seguem impactando as vendas dos ambulantes que trabalham na orla da Lagoa da Pampulha e entorno, em Belo Horizonte. Alguns classificaram a movimentação no feriado prolongado como “razoável”, mas relatam dificuldades.
O Estado de Minas registrou a movimentação no ponto turístico na manhã deste sábado (5/6), feriado prolongado de Corpus Christi. Em alguns pontos, o número de pessoas era maior, seja de ciclistas, corredores e famílias a passeio. Como ocorre em diferentes pontos da cidade, ainda era possível encontrar frequentadores sem máscara ou usando a proteção de forma incorreta.
De máscara e com dois vidros de álcool no carrinho, a pipoqueira Maria das Dores Pires, de 64 anos, se protege como pode para continuar trabalhando. “Tem pouca gente ainda. Ontem nós não vendemos nada. Mais cedo tinha mais gente, mas não é nem metade do que vinha pra cá”, contou.
Maria das Dores Pires, de 64 anos, 50 deles trabalhando em frente ao Parque Guanabara, fechado por causa da pandemia (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
A vendedora diz que trabalha na Pampulha há 50 anos. “Trabalho mesmo na porta do Parque Guanabara, mas a situação financeira está muito triste. Estou aqui desde que abriu a praça. Não tem como ficar em casa. Estava dependendo de irmãos para a cesta básica, água e luz. O pessoal da Newton Paiva, onde eu trabalhei, me ajudou. Juntou uma turma para me dar coisas de comer. O parque (fechado) atrapalhou demais”, conta.
Segundo ela, muitos colegas que também vendiam alimentos próximo ao parque tiveram de mudar de atividade durante a pandemia, já que não há autorização para colocar carrinhos na orla, como os de cachorro-quente, por exemplo.
Ela conta que alguns deles acabam com materiais apreendidos pela fiscalização da PBH. “Eles (autoridades) têm que procurar saber se temos condições de ficar dentro de casa, se água e luz não vão obrigar a gente a pagar”, reivindicou. Maria das Dores diz, com orgulho, que ajudou a criar 11 irmãos com as vendas na Pampulha, um deles faleceu recentemente. “Estamos pedindo socorro para abrir esse parque, para ter a vida digna que a gente tinha”, pontuou.
Maria Inês Pires, de 58 anos, questiona a fiscalização (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Cabeleireira e maquiadora de formação, Maria Inês Pires, de 58 anos, precisou virar ambulante há alguns anos após um problema em um dos pés que a obrigou a deixar a profissão. Ela também trabalhava perto do Parque Guanabara e precisou migrar para a orla comercializando brinquados.
Ela classificou o movimento das vendas como “razoável”, e questionou a ação dos fiscais. “A fiscalização cai em cima da gente aqui”, disse a mulher, que também mora na Região da Pampulha. “Pago aluguel de R$ 800, minha família está me ajudando. Cheguei a receber auxílio (emergencial) no ano passado, mas neste ano nem eu e nem meu filho. Tem muitas mães de família (com uma situação) igual à minha”, destacou.
Andrielle Soldati, de 31 anos, diz que movimento do feriado prolongado é razoável (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
“O movimento ainda está razoável, porque não está mais igual antes. Muita gente está com medo de sair de casa. Mas, não está ruim, dá para pagar as contas”, avalia Andrielle Soldati, de 31 anos, que vende água de coco na Praça dos Esportes. Do Bairro Ipiranga, na Região Nordeste de BH, e trabalhando na Pampulha há 16 anos, ela diz que o maior movimento nos útlimos dias foi no próprio dia de Corpus Christi, na quinta-feira (3/6).
Segundo ela, ainda há muita gente sem máscara no entorno, mas que quem se aproximada do carrinho costuma usar. Ela também oferece álcool em gel 70% aos clientes. Ela aproveitou a reportagem para fazer uma reivindicação.
“Deviam colocar um banheiro aqui (na praça), todo mundo reclama. E (quero) pedir que as pessoas se cuidem, usem máscara, para viver um pouco normal, não voltar igual antes (na fase restrita). É bom para todo mundo. A gente tem que pensar no futuro, da gente ficar bem, nossos pais, filhos, amigos”, disse.
Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.