Os pacientes reais crônicos e transplantados dos municípios da região de Ponte Nova, na Zona da Mata de Minas, estão vivendo um drama que parece não ter fim, causado pela falta de medicamentos que eles usam no tratamento a que são submetidos. A denúncia foi feita pela Transvida - Transplantes pela Vida em Minas Gerais, que representa esses pacientes, não apenas na região de Ponte Nova, mas em todo o estado.
"Estou convivendo com essa angústia desde dezembro de 2020. Já estou com transtorno de ansiedade, porque o meu medo de ter mais problemas de saúde e voltar a fazer hemodiálise se transformou em um pesadelo", lamenta Kenia de Souza Missuti, de 40 anos, moradora de Viçosa.
Paciente renal, ela foi transplantada há quase três anos. Para agravar o quadro, é portadora de lúpus, doença autoimune. Kenia explica que o problema que ela e outros pacientes de Ponte Nova e região enfrentam não se limita à falta dos medicamentos. O principal é o atendimento na Regional de Saúde de Ponte Nova, que "é vago, pouco esclarecedor e às vezes, desrespeitoso", segundo ela.
"O atendimento na ‘farmácia de alto custo’ daqui (Viçosa) é excelente, mas a Regional de Ponte Nova nos trata com muita falta de educação. Liguei lá e disseram que não me devem satisfação, e que eles só devem satisfação à Secretaria Municipal de Saúde do município", disse a paciente, indignada com a situação.
Kenia toma tanto o imunossupressor Tacrolimo, por causa do transplante renal, como a hidroxicloroquina, para o lúpus, que, se faltar, pode reativar a doença. E está faltando desde que virou a “estrela” do tratamento precoce contra a COVID-19, e quem de fato precisa desse medicamento ficou à míngua.
"E o Tacrolimo, na falta dele, corremos o risco de perder o órgão (rim)", disse, lembrando que para amenizar o problema teve de fracionar o Tacrolimo. As consequências desse fracionamento podem comprometer o tempo de vida do rim e a provoca a variação no indicativo da creatinina, que no caso de Kenia, subiu de 1.21 foi pra 1.4.
Solidariedade entre amigos
A solidariedade de um grupo de pacientes renais no WhatsApp salvou a vida de um paciente renal da cidade Paula Cândido (70 quilômetros de Ponte Nova). Ele estava prestes a ser internado, mas o grupo se uniu e cada integrante doou um pedaço da cartela do Tracolimo para esse paciente.
Agnaldo Coelho de Almeida, conterrâneo desse paciente, também precisa tomar regularmente o Tracolimo e não encontra o remédio na Regional de Ponte Nova. "Lá na Regional me disseram que esse remédio está em falta, e outros amigos transplantados relataram que em Belo Horizonte não está faltando. Então, o nosso questionamento é: por que esse medicamento não chegou à nossa Regional?"
O Estado de Minas fez contato com a Regional de Ponte Nova, mas a ligação telefônica foi transferida para vários setores sem que os servidores esclarecessem o problema, numa atitude que condiz com o que relatam os pacientes renais da região.
O presidente da Transvida, Maurício Silva Victor, também reclama que sua associação não recebe as respostas sobre as indagações dos pacientes, relacionadas à falta de medicamentos na região de Ponte Nova.
O presidente da Transvida, Maurício Silva Victor, também reclama que sua associação não recebe as respostas sobre as indagações dos pacientes, relacionadas à falta de medicamentos na região de Ponte Nova.
Ele encaminhou ofício ao Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais para que solicitem à Secretaria de Estado de Saúde informações sobre o estoque desses medicamentos, o cronograma de requisição junto ao Ministério da Saúde (responsável pela aquisição dos medicamentos), efetuados durante 2021, bem como a programação de novas requisições, recebimentos e regularização do cronograma de fornecimento a todas as Farmácias Regionais de Minas Gerais.
A Transvida aguarda as respostas. E os pacientes renais esperam que as respostas não tardem, porque existem muitas vidas em risco.