Cerca de 20 famílias indígenas do povo Pataxó e Pataxó Ha-hã-hãe ocuparam a Mata do Japonês, em São Joaquim de Bicas, na tarde desta quarta-feira (9/6). O grupo morava às margens do Rio Paraopeba e foi atingido pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019. Desde então, eles reclamam da falta de apoio da Vale para encontrar um novo território adequado para se instalarem.
Leia Mais
COVID: Câmara de Timóteo faz alerta sobre importância das vacinasMoradores de bairro de Pedro Leopoldo só têm ônibus uma vez por semanaKalil alerta que pode fechar BH semana que vem se números voltarem a subirSTF adia votação de caso histórico sobre terras indígenasPosseiros da Mata do Japonês reivindicam usucapião da terraGrileiros se recusam a sair de área preservada de grupo indígena em MGPolícia Civil conclui inquérito de latrocínio em São Joaquim de BicasGrileiros reivindicam lotes em área preservada cedida para povo indígenaSegundo a assessoria das famílias indígenas, antes do rompimento da barragem eles viviam na área rural de São Joaquim de Bicas, às margens do Rio Paraopeba.
Após a tragédia, os moradores ficaram sem água e passaram a ter intoxicações, problemas respiratórios, além de alergias causadas pela contaminação do rio.
Toda a situação obrigou as famílias a se mudarem para a cidade. Há cerca de um ano, eles estão vivendo no Bairro Jardim Vitória, Região Nordeste de Belo Horizonte, e sobreviviam vendendo artesanato e recebendo auxílio da Vale, porém há dois meses a ajuda foi cancelada.
Com a ocupação desta quarta, cerca de 100 pessoas do povo Pataxó tomaram posse da terra, por meio da doação de 70% do território pela AMCNB e agora aguardam retorno da mineradora Vale para negociar 30% do valor restante.
“Queriam que a Vale conseguisse um novo território para se instalarem, mas ainda não tiveram retorno e precisaram procurar um local por conta própria”, disse a assessoria dos indígenas.
Segundo o diretor administrativo da Associação Mineira de Cultura Nipo-Brasileira, Antônio Hoyama, a doação beneficiou tanto a reserva quanto os índios, já que o local está sendo invadido por ‘grileiros’ desde 2010.
“As invasões começaram em 2010, aos poucos foram aumentando e fomos recebendo denúncias. Comunicamos o Ministério Público e todos os órgãos governamentais, fizemos até boletim de ocorrência. Temos um processo na Justiça, que já chega a 710 páginas, com 30 invasores indiciados, mas o juiz não deu sentença até hoje. Os grileiros também têm advogados e entram com recurso, o processo está desde 2016”, disse o diretor.
“Então, negociamos com os índios, porque eles perderam o local que moravam por causa do rompimento da barragem de Brumadinho. Doamos 70% e o pagamento de 30% está condicionado a quando eles receberem indenização da Vale. No momento, eles não têm dinheiro algum, então essa troca atendeu aos objetivos nossos e deles", explicou Hoyama.
"Agora eles terão proteção da Polícia Federal e da Funai para morar, e a mata vai virar terra indígena. Com isso, o processo precisa acabar, não tem como ter demanda judicial sobre terra indígena. A partir de hoje o terreno pertence ao Grupo Indígena Katuramã”, finalizou Antônio Hoyama.
A reportagem entrou em contato com a Vale para saber se há previsão de indenização ao grupo indígena, mas ainda não obteve retorno.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Kelen Cristina