Cerca de 20 famílias indígenas do povo Pataxó e Pataxó Ha-hã-hãe ocuparam a Mata do Japonês, em São Joaquim de Bicas, na tarde desta quarta-feira (9/6). O grupo morava às margens do Rio Paraopeba e foi atingido pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019. Desde então, eles reclamam da falta de apoio da Vale para encontrar um novo território adequado para se instalarem.
A Mata do Japonês faz parte de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), pertencente à Associação Mineira de Cultura Nipo-Brasileira (AMCNB). Atualmente, uma família de japoneses preserva os 36 hectares, mas há interesse em negociar a área com intuito de manter o ecossistema.
Segundo a assessoria das famílias indígenas, antes do rompimento da barragem eles viviam na área rural de São Joaquim de Bicas, às margens do Rio Paraopeba.
Após a tragédia, os moradores ficaram sem água e passaram a ter intoxicações, problemas respiratórios, além de alergias causadas pela contaminação do rio.
Toda a situação obrigou as famílias a se mudarem para a cidade. Há cerca de um ano, eles estão vivendo no Bairro Jardim Vitória, Região Nordeste de Belo Horizonte, e sobreviviam vendendo artesanato e recebendo auxílio da Vale, porém há dois meses a ajuda foi cancelada.
Com a ocupação desta quarta, cerca de 100 pessoas do povo Pataxó tomaram posse da terra, por meio da doação de 70% do território pela AMCNB e agora aguardam retorno da mineradora Vale para negociar 30% do valor restante.
“Queriam que a Vale conseguisse um novo território para se instalarem, mas ainda não tiveram retorno e precisaram procurar um local por conta própria”, disse a assessoria dos indígenas.
Segundo o diretor administrativo da Associação Mineira de Cultura Nipo-Brasileira, Antônio Hoyama, a doação beneficiou tanto a reserva quanto os índios, já que o local está sendo invadido por ‘grileiros’ desde 2010.
“As invasões começaram em 2010, aos poucos foram aumentando e fomos recebendo denúncias. Comunicamos o Ministério Público e todos os órgãos governamentais, fizemos até boletim de ocorrência. Temos um processo na Justiça, que já chega a 710 páginas, com 30 invasores indiciados, mas o juiz não deu sentença até hoje. Os grileiros também têm advogados e entram com recurso, o processo está desde 2016”, disse o diretor.
“Então, negociamos com os índios, porque eles perderam o local que moravam por causa do rompimento da barragem de Brumadinho. Doamos 70% e o pagamento de 30% está condicionado a quando eles receberem indenização da Vale. No momento, eles não têm dinheiro algum, então essa troca atendeu aos objetivos nossos e deles", explicou Hoyama.
"Agora eles terão proteção da Polícia Federal e da Funai para morar, e a mata vai virar terra indígena. Com isso, o processo precisa acabar, não tem como ter demanda judicial sobre terra indígena. A partir de hoje o terreno pertence ao Grupo Indígena Katuramã”, finalizou Antônio Hoyama.
A reportagem entrou em contato com a Vale para saber se há previsão de indenização ao grupo indígena, mas ainda não obteve retorno.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Kelen Cristina