Trabalhadores da limpeza urbana e do transporte público são vacinados em BH
Nesta quinta-feira (10/6), a vacinação para os grupos acontece em postos fixos e drive thru de Belo Horizonte desde ás 7h30
Por
Mariana Costa*
Por
Nathalia Galvani*
10/06/2021 13:23 - Atualizado em 10/06/2021 19:43
audima
Trabalhadores da limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, motoristas e cobradores do transporte público, ferroviários e metroviários estão sendo vacinados contra a COVID-19 nesta quinta-feira (10/6) em Belo Horizonte. A imunização ocorre desde às 7h30 em pontos fixos e de drive-thru disponibilizados pela PBH.
Para os profissionais de limpeza urbana, a pandemia evidenciou a necessidade de maior reconhecimento da importância de sua atuação, principalmente por meio da inclusão da categoria no grupo prioritário para a vacina. Entidades representativas dos trabalhadores da área chegaram a fazer greve e paralisações pela vacinação priopritária em BH.
O gari, Alam Ricardo, de 33 anos, foi um dos vacinados nesta manhã, no Centro de Saúde Vera Cruz, na Região Leste da capital mineira. Em entrevista ao Estado de Minas, disse que a sensação agora é de maior tranquilidade. “A imunização é um alívio, tanto para mim quanto para minha família. Não tem explicação”, afirmou.
Ele começou a atuar no cargo em meio à pandemia do coronavírus, há sete meses. Mesmo utilizando equipamento de proteção sanitária, Alam disse que ainda tinh receio de ser contaminado e, como consequência, transmitir a COVID-19 para entes próximos.
“No meu serviço, meu contato é mais com colegas de trabalho. Não tenho contato com outras pessoas para parar e conversar. É coisa rápida, serviço de gari é assim. Mas é um risco, né? Agora é continuar tomando as medidas que já estava tomando, com álcool e máscara. Não podemos relaxar”, disse o gari.
Ansiedade e alívio
Wellignton Roger Souza dos Santos, de 31, também tomou a primeira dose da vacina, nesta quinta-feira, no Minas Tênis Clube, Região Centro-Sul de BH. Ele trabalha há 2 anos como gari e conta que tinha medo de se contaminar no trabalho. “A gente mexe com uma área de risco. Então tem medo de pegar e, não tomando a vacina, acabar levando para casa essa doença.”
Para se proteger, ele usa sempre a máscara, leva um vidrinho de álcool em gel, lava as mãos com frequência e antes de chegar em casa já trocava de roupa, com medo de contaminar a família.
O gari perdeu a mãe em novembro do ano passado, em razão da COVID-19. Por isso, para ele a sensação de tomar a vacina foi ainda mais especial.
“A sensação foi boa. Tira um pouco aquela ansiedade e preocupação de pegar essa doença. Fiquei feliz demais. Minha mãe não teve a chance de tomar a vacina a tempo. Então tirou uma preocupação que a gente tem de se contaminar também e correr risco.”
Quando ficou sabendo que iria tomar a vacina, ele conta que ficou aliviado. “Não estaria na idade de vacinar ainda e por trabalhar nesse ramo a gente pode adiantar e ter essa alegria. Ainda fico com medo de pegar porque eles falam que só depois de 14 dias da segunda dose que você fica imune. Nesse intervalo, a gente ainda está no risco. Tem que redobrar as preocupações e manter os mesmos cuidados. Não pode dar brecha.”
Abelino da Silva, de 43, trabalha há pouco mais de um mês na limpeza urbana. Antes ele era porteiro em um shopping, mas perdeu o emprego por causa da pandemia.
“Não só eu mas todos os meus colegas tínhamos medo de pegar a COVID no trabalho. A gente toma todos os cuidados, usamos máscara o tempo todo, temos acesso ao álcool em gel. Mesmo tomando a vacina eu fico preocupado. A segunda dose vai ser em setembro Tem aquele clima de preocupação por não estar imunizado ainda.”
Ele e os outros colegas também se vacinaram no Minas Tênis Clube. “Nós tomamos a vacina e fomos para o trecho trabalhar e pra mim foi normal. Ninguém reclamou de nada.”
Segundo ele, estava ansioso para se vacinar. “A gente fica naquela ansiedade danada, mas foi uma sensação muito boa porque se eu não tivesse nessa área, não teria tomado essa vacina agora. Pelo menos a primeira dose eu tomei, agora tô na expectativa de tomar a segunda.”
E nos três meses que ainda faltam para a dose de reforço ele pretende continuar mantendo os mesmos cuidados.
“Mesmo tomando a primeira dose a gente fica preocupado porque pode acontecer, tomara a Deus que não. De ter algum sintoma, pegar COVID. É metade de uma barreira que está nos protegendo já.”
Grande conquista
Paulo César da Silva, presidente do Sindicato dos Rodoviários de Belo Horizonte comemora o início da vacinação da categoria.
“Para nós foi uma grande conquista, mais de um ano e meio que a gente está na linha de frente, tivemos várias perdas de trabalhadores. Alguns ainda estão em recuperação, infectados. Para nós do Sindicato foi uma vitória, foi maravilhoso conseguir esta conquista. Estou muito grato, o esforço não foi em vão. A categoria vai trabalhar mais feliz, mais segura. É lógico que ainda falta a segunda dose, mas já foi um pontapé inicial muito bom para nós. Estamos muito felizes.”
Ele conta que foi uma negociação dificil, mas com resultado positivo.
“Após várias investidas, enviamos ofícios para a Secretaria de Saúde Municipal e Estadual e até então nada. Resolvemos fazer um aviso de greve, de paralisação, caso não fôssemos atendidos. De imediato o prefeito viu que a gente poderia estar realmente realizando esta paralisação e que não era viável no momento. Era necessário que ele ouvisse a voz do trabalhador. Ele nos chamou, nós conversamos e, de imediato ele pediu um prazo de até 30 dias para poder resolver. Antes de 15 dias eles divulgaram que a vacinação dos trabalhadores da categoria se iniciaria hoje, dia 10."
O que é preciso para vacinar
Para se vacinar, é necessário que a pessoa não tenha recebido qualquer outro imunizante nos últimos 14 dias e nem ter sido contaminado com a COVID-19 nos últimos 30.
Além disso, o trabalhador precisa apresentar documento de identificação e um comprovante de vinculação ativa com empresa localizada em Belo Horizonte.
Toda a documentação exigida e os endereços dos locais onde a imunização ocorre nesta quinta-feira (10/6) podem ser conferidos no site da prefeitura.
Ainda sem previsão para novos grupos
Questionada pelo EM, a Secretaria Municipal de Saúde disse que ainda não há previsão para ampliação da campanha a faixa etária de 55 anos, sem comorbidades, e de outros públicos na próxima semana. Confira a nota na íntegra:
"A Prefeitura de Belo Horizonte informa que para ampliar a vacinação para novos grupos é imprescindível que remessas de vacinas sejam entregues ao município pelo Ministério da Saúde.
A Prefeitura reafirma a disponibilidade de pessoal e de todos os insumos necessários para a imediata continuidade do processo de vacinação."
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.
Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.