Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Escolas particulares reprovam esquema de volta às aulas da PBH: 'Inviável'

Caso a prefeitura de Belo Horizonte não reveja os protocolos fixados para retorno presencial dos alunos do Ensino Fundamental, detalhados nesta sexta-feira (11/6)  no Decreto Municipal n° 17.348, as escolas privadas da capital consideram manter as portas fechadas para este público. O aviso é do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG). 





De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SMED), crianças de 6 a 8 anos matriculadas em instituições das redes pública e privada regressam à escola a partir de 21 de junho, duas vezes por semana, por três horas, divididas em “microbolhas” de 6 alunos cada. No início de julho, será a vez dos jovens de 9 a 12 anos.

O sindicato avalia que as regras impostas pelo município inviabilizam a retomada das atividades, onera as empresas, além de comprometer o desenvolvimento pedagógico dos estudantes. Os pais, por sua vez, estão divididos quanto à proposta. Há quem tenha optado por manter os filhos em casa, enquanto outros acreditam que o contato dos filhos com o ambiente escolar após 15 meses de afastamento é fundamental, ainda que sob condições pouco ideais.

“Nenhuma condição”

No Colégio Arnaldo, direção diz que vai discutir retorno do Ensino Fundamental com a comunidade escolar (foto: Ramon Lisboa/EM)
Entidade que representa 984 instituições privadas de BH, o Sinep/MG enviou, nessa quinta-feira (11/6), um ofício ao prefeito Alexandre Kalil (PSD) solicitando revisão das medidas de reabertura





O documento argumenta que a lógica de acolhimento bissemanal em pequenos grupos ignora o número de matrículas das instituições de ensino, o tamanho das salas de aula, bem como a dinâmica de funcionamento das empresas.

“Há colégios em Belo Horizonte com 2 mil alunos matriculados apenas no Ensino Fundamental. Supondo que menos da metade dos pais opte por enviar os filhos à escola, já seria necessário triplicar, quadruplicar o quadro de professores para formar as bolhas de 6 alunos. Não há nenhuma condição estrutural, nem pedagógica para o retorno nos moldes estabelecidos pela prefeitura e 100% das escolas filiadas ao Sinep já se manifestaram: se não houver uma reconsideração, as portas terão que se manter fechadas”, pondera Zuleica Reis, presidente do sindicato. 

A dirigente propõe que o Executivo municipal libere a realização de rodízio semanal com turmas reduzidas à metade. "O que nós pleiteamos é que o ensino seja 50% presencial e 50% remoto. Essa logística é possível e segura. O retorno da educação infantil mostra isso”, diz a líder. 





“Pior do Brasil”

Colégio Santa Doroteia: pais fizeram manifestação pelo retorno das aulas presenciais no início do ano. (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)
Gerente de operações educacionais da Rede Marista, Jefferson Clemente avalia o protocolo adotado pela PBH como “o pior do Brasil”. “Acompanho 29 unidades em 14 estados brasileiros do Centro-Norte. Ninguém definiu aulas presenciais desta forma. Apenas Belo Horizonte. Não nos parece uma proposta comprometida com a qualidade da educação”, analisa.

Para o gestor, a ideia de permitir que os estudantes tenham contato com as instituições de ensino apenas duas vezes por semana por três horas em benefício da socialização escolar é contraditória. 

“As aulas remotas, duram, em média, quatro horas e meia, com interação ao vivo entre os professores e estudantes. Agora, os meninos serão liberados para voltar à sala de aula para ter um contato reduzido com a escola, de 3 horas? A caminhada pedagógica dos alunos certamente ficará prejudicada. A impressão que temos é de que a proposta da prefeitura é ‘pro forma’. Queremos uma que, de fato, contribua para a caminhada pedagógica das crianças, e sabemos que isso é possível. Se for para prejudicar, melhor manter as coisas como estão”, opina Clemente. 





Coordenadora Geral do Colégio Santa Doroteia, no Bairro Sion, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, Sandra Alves critica ainda a orientação dada pela Secretária Municipal de Educação, Ângela Dalben, de que as escolas identifiquem os jovens que precisam estar presencialmente na sala de aula, de acordo com seus níveis de aprendizado e dificuldades. 

“Nossa visão é de que os alunos precisam retornar de maneira igualitária, com senso de justiça. Não faz sentido pedir que a escola foque num processo de recuperação. A função da escola é educar de maneira integral. O reforço escolar é uma demanda que faz parte do cotidiano das instituições, mas não é o foco delas”, afirma 

Situado no Bairro Funcionários, o Colégio Arnaldo diz que ainda não definiu se vai receber as turmas no Ensino Fundamental a partir do dia 21. A direção informou que ainda vai discutir a questão junto à comunidade escolar. “Vamos nos debruçar sobre isso, mas a dinâmica imposta pelo poder público, de todo modo, nos soa descolada da realidade”, afirma a diretora Clea Andrade.

“Se eu tenho cinco turmas de uma mesma série, com um professor para cada matéria, e preciso dividir cada turma em bolhas de 6 alunos, quantos novos professores terei que contratar? Ainda que a escola assuma o ônus financeiro que isso gera, o mercado vai ter todos esses profissionais disponíveis para as centenas de instituições de BH? Inclusive, me pergunto se a rede municipal será capaz de cumprir suas próprias regras”, complementa. 





“O que tem para hoje”

Familiares de crianças e adolescentes da capital mineira parecem divididos sobre o retorno das aulas presenciais no na próxima quinzena. Mãe de um menino de 7 anos, a empresária Márcia Machado está otimista. Ela conta que o afastamento do garoto da escola durante a pandemia trouxe sérios prejuízos ao desenvolvimento e classifica a retomada das atividades como urgente

“Ele sentiu muito essa distância. Está muito triste e melancólico. Chegou até mesmo a regredir em vários aspectos. Dormia sozinho, agora não dorme mais. Tomava banho sozinho, agora já não toma. Sei que o retorno não é o ideal, mas é o que tem para hoje. São poucas horas, só dois dias na semana, mas vai fazer diferença para ele, sim”, afirma. 

Já o engenheiro Felipe Silva relata que, por ora, optou manter os filhos de 6 e 8  anos em ensino remoto. Ele diz que prefere observar os efeitos do retorno presencial antes de enviar os filhos de volta à sala de aula. “Prefiro esperar para ver como a escola vai se adaptar, no sentido pedagógico. Já fui professor, estou achando difícil montar um planejamento razoável capaz de atender às exigências do poder público. No momento, com dois empregos, a dinâmica de levar e buscar os meninos e ainda ter que acompanhá-los nas atividades online também é complicada para mim. Se eles demonstrarem muita vontade de ir, eu levo. Senão, vou aguardar mesmo”, pondera. 





O que diz a PBH

O Estado de Minas solicitou um posicionamento da prefeitura de Belo Horizonte sobre as críticas feitas pelos colégios particulares aos critérios de retomada das aulas presenciais para o Ensino Fundamental. 

O município informou que as normas publicadas no Decreto Municipal Decreto Municipal n° 17.348 não tratam da "retomada das aulas", mas do que chama de "acompanhamento personalizado de crianças até 12 anos", já que os indicadores da pandemia ainda não permitem o retorno total das atividades presenciais.

Questionada sobre a possibilidade de revisão do protocolo, como propõe o ofício elaborado pelo Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG), a PBH disse que ainda não recebeu o documento.   


audima