Um movimento social que atua em Belo Horizonte tenta recuperar 20 mil telhas doadas para uma ocupação na Região Oeste da capital que foram recolhidas em uma ação da Polícia Militar (PM), com apoio da prefeitura, nessa terça-feira (15/6). A corporação afirma que foi ao local após denúncias de moradores da região. Na semana que vem, deve ocorrer uma reunião com a Defensoria Pública de Minas Gerais para discutir a situação.
Hoje, oito famílias permanecem no terreno, já em casas de alvenaria.
O MOB-MG atua no apoio tanto das famílias que permanecem lá, quanto das que saíram, com doação de alimentos e cuidados com a horta que foi feita na ocupação.
De acordo com Fernanda, as telhas doadas pertenciam a uma escola estadual – que, segundo ela, preferiu não ser identificada. Eram 20 mil peças que foram trocadas durante uma reforma.
De acordo com Fernanda, as telhas doadas pertenciam a uma escola estadual – que, segundo ela, preferiu não ser identificada. Eram 20 mil peças que foram trocadas durante uma reforma.
As telhas foram transportadas para um terreno na Rua Bimbarra, no Bairro Calafate, a cinco minutos da ocupação. O objetivo era vendê-las para que o valor fosse revertido às famílias. Estavam no local havia três meses e, há um mês, foram anunciadas em um site de compra e venda.
“As telhas seriam vendidas, a princípio. Achamos um comprador para quase todas. O dinheiro seria para cestas básicas e a horta”, explicou Fernanda.
“As telhas seriam vendidas, a princípio. Achamos um comprador para quase todas. O dinheiro seria para cestas básicas e a horta”, explicou Fernanda.
Na terça-feira, o material foi recolhido. “(Os moradores) ligaram assustados, falando ‘gente, tem polícia aqui’. Era por volta das 8h. Chegaram sem dar muita explicação. Eram 20 mil telhas, eles deixaram 1,5 mil”, detalhou.
No mesmo dia, foi divulgada uma nota sobre o caso, assinada pelo MOB-MG, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelo Coletivo Mineiro Popular Anarquista (COMPA).
Em nome dos moradores da ocupação, os integrantes dos grupos exigiam a devolução imediata das telhas e retratação por parte dos agentes públicos.
Em nome dos moradores da ocupação, os integrantes dos grupos exigiam a devolução imediata das telhas e retratação por parte dos agentes públicos.
Procurada na quarta-feira (16/6), a Prefeitura de Belo Horizonte informou ao Estado de Minas que os fiscais haviam prestado apenas apoio operacional à ação da Polícia Militar.
A PM respondeu a reportagem com uma nota enviada às 21h25 dessa quarta-feira (16/6). A corporação afirma que compareceu ao local após denúncias de moradores da região, que reclamavam que, além das telhas, havia outros materiais dispostos de forma irregular.
Para a polícia, eles seriam usados como barricadas.
Leia a nota:
Para a polícia, eles seriam usados como barricadas.
Leia a nota:
“A Polícia Militar de Minas Gerais, por intermédio do Comando de Policiamento da Capital, em nota, esclarece que desconhece a ação mencionada na comunidade Vila Fazendinha.
A Polícia Militar foi acionada por moradores da comunidade Bimbarra, na Região Oeste de Belo Horizonte, na data de ontem, para verificar as circunstâncias sobre a disposição irregular de materiais em via pública, tais como paletes quebrados, telhas, madeiras, e que estariam impedindo a passagem de pedestres e residentes da localidade, gerando receio e insatisfação social.
A Polícia Militar foi acionada por moradores da comunidade Bimbarra, na Região Oeste de Belo Horizonte, na data de ontem, para verificar as circunstâncias sobre a disposição irregular de materiais em via pública, tais como paletes quebrados, telhas, madeiras, e que estariam impedindo a passagem de pedestres e residentes da localidade, gerando receio e insatisfação social.
Após a avaliação pela Polícia Militar, constatou-se que esses materiais eram usados como verdadeiras barricadas no sentido de impedir o acesso policial e do próprio Estado no atendimento das ocorrências em prol daquela comunidade, nas suas mais diversas necessidades.
Assim, a pedido dos próprios moradores, foi realizada uma operação conjunta com a fiscalização da prefeitura municipal para a remoção dos citados objetos, que encontravam-se em via pública. Inclusive, as condições em que estavam eram propícias à proliferação de várias pragas urbanas.
Por fim, cumpre dizer, que nenhum material foi removido de propriedade particular.”
A Polícia Militar também enviou ao EM fotos de fiscais carregando um caminhão na Rua Bimbarra com pedaços de móveis e galhos. As telhas não estão visíveis.
O movimento nega que as telhas estivessem na rua e que elas seriam usadas para obstruir a via.
“A gente desconhece qualquer uso dessas telhas para barricadas, nunca existiu isso, até porque não tinha nenhuma ação política no momento”, disse Fernanda Vieira, reforçando que as telhas estavam em um lote fora do passeio, como mostra uma foto enviada pela organização, das peças que restaram.
Segundo ela, a polícia e os fiscais disseram aos moradores da ocupação que voltariam para buscá-las também.
Fernanda também diz que, se a situação estava irregular, eles deviam ter sido procurados para mudar os materiais de lugar antes do recolhimento.
“Eu gostaria que fosse enfatizado que a doação das telhas com o valor já estava organizada para a compra das cestas básicas. Estamos ajudando essas famílias, principalmente na pandemia. A gente dava um jeito de tirar as telhas de lá e mudar para outro lugar. Estavam bem cuidadas. A gente precisa dessas telhas de volta”, pediu a integrante do MOB-MG.
Reunião na Defensoria Pública
Ainda segundo Fernanda Vieira, eles acionaram a Defensoria Pública de Minas Gerais, onde devem participar de uma reunião na semana que vem.
A vereadora Bella Gonçalves (PSOL) também encaminhou um requerimento ao presidente da Comissão de Direitos Humanos sobre o caso.
A vereadora Bella Gonçalves (PSOL) também encaminhou um requerimento ao presidente da Comissão de Direitos Humanos sobre o caso.
“Nós tomamos conhecimento de que a prefeitura, através da subsecretaria de fiscalização, e com apoio de força policial, retirou e levou embora 20 mil telhas da Vila Fazendinha, sem qualquer explicação", disse a vereadora.
"A gente entrou com pedido na Comissão de Direitos Humanos com uma explicação em relação a isso, porque as telhas são dos moradores e eles estavam utilizando isso para melhoria de suas casas. São famílias de baixa renda e nada justifica uma atuação tão arbitrária da fiscalização", explica a vereadora.
Segundo Bella, a ocupação está sofrendo represálias desde o início do ano, quando parte da comunidade foi despejada.
"A Vila Fazendinha vem sofrendo uma série de represálias por parte dos órgãos policiais e, também, de fiscalização desde o início do ano, quando houve um despejo em parte da comunidade. Nós vamos fazer esses pedidos e essa intervenção de denúncia, através da Comissão de Direitos Humanos", finaliza Bella Gonçalves.
"A Vila Fazendinha vem sofrendo uma série de represálias por parte dos órgãos policiais e, também, de fiscalização desde o início do ano, quando houve um despejo em parte da comunidade. Nós vamos fazer esses pedidos e essa intervenção de denúncia, através da Comissão de Direitos Humanos", finaliza Bella Gonçalves.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Kelen Cristina