Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Gonçalves sobrevive à pandemia e atrai moradores de cidades grandes

 
Mais discreta e rural queas badaladas vizinhas Monte Verde (MG) e Campos do Jordão (SP), Gonçalves, na Serra da Mantiqueira, também atrai turistas que buscam o conforto de uma boa pousada para curtir o frio nas montanhas mineiras. Além do turismo estar aquecido – há pousadas com lista de espera –, novos moradores, oriundos de grandes centros urbanos, estão se mudando para a cidade.



Em 2020, a cidadezinha pacata e pouco conhecida chamou a atenção do Brasil por não ter registrado, até os primeiros dias de agosto, nenhum caso de COVID-19.
 
Os 4.355 moradores de Gonçalves experimentavam, até então, uma calmaria singular, enquanto o país registrava mais de 3 milhões de infectados.

A falta de estrutura da cidade, que não possui transporte público urbano e nem pronto-socorro, fez com que a prefeitura adotasse medidas mais rígidas para evitar a chegada do novo coronavírus. O município foi completamente fechado de 19 de março a 22 de junho de 2020.
 
Enquanto grandes centros urbanos ainda lutam para controlar a infecção pelo vírus, em Gonçalves há, de acordo com o boletim epidemiológico mais recente divulgado pela prefeitura, 263 casos confirmados, oito suspeitos e apenas seis mortes.



O período em que a cidade ficou completamente isolada em 2020 preocupou os comerciantes, especialmente os que dependem do turismo.
 
É o que conta João Daprá, proprietário da Pousada Serra Vista. Ele enfatiza que aquela fase impôs inúmeros obstáculos, mas que foram superados com reforços em protocolos sanitários para garantir a reabertura com o máximo de segurança.
 
 “Em 2020, quando ficamos fechados, o impacto no turismo e nas finanças foi grande, mas nos adaptamos aos protocolos e reabrimos com todas as medidas cautelares. Desde então, estamos trabalhando dentro das limitações impostas pelo decreto, com 50% da capacidade total”, conta.

Medidas sanitárias

 
A pousada de Daprá foi a primeira no município a receber o selo da prefeitura que garante o cumprimento de várias normas sanitárias, como o uso de máscaras, aventais e protetores faciais.



“Instalei (totens de) álcool em gel na pousada toda, dou máscaras aos hóspedes que chegam sem e o café da manhã não é mais buffet, é servido. Os jogos americanos das mesas são descartáveis, e as embalagens são fechadas hermeticamente com selo de segurança”, comenta.    
 
Segundo Daprá, 95% dos turistas se adaptaram aos protocolos sanitários seguidos rigorosamente pela pousada. “Os outros 5% eu não recebo”, conta aos risos.

Felizmente, os gonçalvenses, assim como os turistas, costumam seguir as medidas de segurança.
 
Engana-se quem pensa que a pandemia desacelerou o turismo em Gonçalves. Daprá conta que, assim que o município foi reaberto, os visitantes retornaram. "Depois que o turismo foi liberado, o movimento aumentou, Gonçalves virou um polo turístico muito grande.”

Para ele, a segurança e os baixos casos de COVID-19 são os principais atrativos.
 
Atuando com 50% da capacidade, a pousada de Daprá tem lista de espera de até dois meses para casais que desejam passar um final de semana por lá.



Embora os turistas sejam muito bem-vindos no município, os residentes se preocupam com um possível crescimento desenfreado de Gonçalves, o que pode arruinar o principal atrativo do local: a tranquilidade.

Preocupação com a essência

 
Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Gonçalves (ACEGon), Roberto Camargo ressalta que a cidade está se desenvolvendo e que isso tem chamado a atenção de moradores de grandes centros urbanos, como São Paulo, que fixam residência no município mineiro.

Há, no entanto, o receio de que o desenvolvimento acelerado implique em prejuízos à cultura e à paisagem bucólica.
 
“Não queremos que os gonçalvenses percam sua essência cultural. O crescimento da cidade implica na diminuição do atrativo natural, então essa é uma preocupação constante da associação e dos moradores”, conta.
 
A chegada de novos moradores à cidade durante a pandemia também foi notada por Lucas Ribeiro, proprietário do Supermercado São Mateus.

“O início de 2020 foi um período muito crítico, ninguém sabia como seria essa fase pandêmica, ficamos assustados e muito preocupados. Nesse período, notamos que moradores de cidades grandes como São Paulo estavam se mudando para Gonçalves. E como tudo era desconhecido, a primeira atitude da prefeitura foi fechar a cidade”, relembra.




 
Passado o período mais difícil da pandemia, o negócio de Lucas, um dos estabelecimentos mais antigos da cidade, continua de pé e seguindo todos os protocolos de segurança.

Operando com a capacidade reduzida a fim de evitar aglomerações, a fila formada do lado de fora do Supermercado São Mateus pode até fazer alguns clientes desistirem das compras, mas, no geral, a estratégia tem dado certo, segundo o empresário.
 
“Durante a pandemia, percebemos que as pessoas de cidades grandes estavam fugindo para Gonçalves. Neste momento, nos demos conta de que a situação era muito grave”, afirma, referindo-se aos primeiros meses de pandemia no Brasil.
 
Embora ainda não seja um grande polo turístico como seus vizinhos mais requintados, como Campos do Jordão e Monte Verde, tudo indica que o turismo sazonal de inverno e a fuga da cidade passam por Gonçalves.
 

audima