“Por favor, achem o meu irmão!” O pedido feito pelo morador de Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte Eustáquio Ramos Flor, para encontrarem o irmão desaparecido há oito dias, após ser liberado de tratamento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) sem a sua presença, é fruto de preocupação e revolta. Isso porque, José Ramos Flor, de 55 anos, que sofre de crises de convulsão, toma vários medicamentos controlados e apresenta quadro de demência, foi liberado sem a presença do familiar.
A causa do desaparecimento do irmão gerou dois boletins de ocorrência na Polícia Militar de Minas Gerais: o primeiro é sobre o desaparecimento de José Ramos, e o segundo acusa a assistente social da UPA de Justinópolis de ter negligenciado o estado de saúde mental de José Flor ao liberá-lo.
O pedreiro conta que José foi internado na quinta-feira feira (10/06) devido a uma crise convulsiva por causa da epilepsia e teve alta no dia 15 de junho, à noite. Eustáquio conta que esteve na UPA, mas que não tinha levado roupa para o irmão e com isso, falou que iria retornar no dia seguinte.
Na manhã da quarta-feira (16/06) ao buscar o irmão, Eustáquio foi recebido pela assistente social da UPA que o informou que José já havia sido liberado.
A justificativa dada pela servidora da UPA, segundo Eustáquio, é que na ficha do paciente constava que ele era morador de rua e não tinha nenhum responsável por ele.
Eustáquio relata que o irmão vem sofrendo com frequência crises convulsivas devido à doença cerebral e faz acompanhamento no Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Também conta que desde de janeiro de 2020 está cuidando de José e, durante esse período, ele já ficou internado na UPA Justinópolis seis vezes pelo mesmo motivo.
“Eles já sabem, me conhecem, conhecem ele, porque já fomos lá por muitas vezes por causa dos mesmos motivos e, ao ser informado pela assistente, tive a impressão que liberaram meu irmão para simplesmente se livrarem dele”.
O pedreiro também questiona o motivo de não ter encaminhado José Flor ao CAPS, por saberem do quadro de saúde mental dele.
Reintegração à família
O pedreiro também conta que antes de começar a cuidar do irmão, José estava em situação de rua, fazia uso de bebida alcoólica e tinha pouco vínculo familiar. Após começar a receber os cuidados e assistência do CAPS, Eustáquio afirma que está conseguindo reintegrar o irmão aos hábitos familiares.
“Estou conseguindo tirar os defeitos de rua dele, estamos reabilitando aos poucos e ele é igual uma criança, não tem noção de nada. Estou sozinho nesse cuidado, larguei muitas coisas para ampará-lo. Moramos só nós dois e estou tentando dar um pouco de dignidade para ele e por causa desse esforço, o meu maior medo é que durante esses dias, José volte a consumir bebida alcoólica e todo o trabalho de reabilitação seja perdido”.
Além disso, Eustáquio conta que o irmão ainda não foi vacinado contra a COVID-19 e por estar sem cuidados adequados pode também correr risco de pegar a doença.
O que diz a prefeitura
Segundo a prefeitura de Ribeirão das Neves, o fato ocorrido não é o protocolo da Secretaria de Saúde, que prima pelo atendimento equânime e humanizado para todos os munícipes e cidadão que procuram as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. Com isso, os fatos estão sendo apurados e serão tomadas as providências cabíveis.
O que diz a Polícia Militar
A Polícia Militar não informou sobre o caso específico de José Flor, mas orienta que, em casos de desaparecimentos, tão logo é feito o registro pelos familiares, as informações são repassadas de imediato para as equipes que, de posse das características do desaparecido, passam a patrulhar com as atenções voltadas, a fim de encontrá-lo.
A Polícia Militar também informa que, para além disso, existe uma delegacia da Polícia Civil especializada em pessoas desaparecidas, cujas equipes têm vasta experiência nesse tipo de situação, motivo pelo qual sugere à família que os procure.