Jornal Estado de Minas

SAÚDE ANIMAL

Sete Lagoas suspende eutanásia no Centro de Controle de Zoonoses

Nesta quinta-feira (24/6), o prefeito Duílio de Castro (Patriota) se reuniu com representantes da causa animal da cidade e ficou decidido que as eutanásias estão temporariamente suspensas no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Sete Lagoas, na Região Central do estado, até que seja realizada uma reunião com a participação do Ministério Público (MP).




 
Nesta semana, o assunto dominou as redes sociais da cidade. Os internautas exigiam que os animais fossem tratados com mais dignidade. Durante a reunião, aproximadamente 100 pessoas protestaram em frente à porta da prefeitura em apoio à causa.
 
Maria Paula Oliveira, médica veterinária e precursora do debate sobre o assunto nas redes sociais, conta que seu objetivo é conscientizar a população sobre a necessidade da castração como meio para minimizar os problemas de disseminação de doenças como a leishmaniose, e, consequentemente, acabar com o sofrimento de muitos animais e tutores.
 
“Essa semana, recebi vários relatos de tutores abordados por agentes da Zoonoses. Eles estavam desesperados, pois haviam sido intimados pelo MP para comparecerem em juízo. O motivo da intimação era obrigá-los a realizar o tratamento com um medicamento específico, caso contrário seus animais seriam sacrificados”, explica.




 
Segundo a CCZ, as mensagens que vêm sendo veiculadas nas redes sociais sobre sacrifício indiscriminado de cachorros em sua unidade são fake news. A eutanásia de cães com resultado positivo para leishmaniose é preconizada pelo Ministério da Saúde.
 
Ainda de acordo com o órgão, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) indica a eutanásia nos casos em que "o bem-estar do animal estiver comprometido; se constituir ameaça à saúde pública; se constituir risco à fauna nativa ou ao meio ambiente; se o animal for objeto de ensino ou pesquisa; se o tratamento representar custos incompatíveis com a atividade produtiva a que o animal se destina ou com os recursos financeiros do proprietário".
 

Luta pela causa animal

 
Segundo Maria Paula, a eutanásia não é a solução. “Elas são usadas em virtude da falta de informação da população a respeito do tratamento da leishmaniose e principalmente em virtude do terror causado pelos agentes públicos durante a abordagem aos tutores dos animais que testam positivo."




 
“Essa triste ação vem sendo adotada desde 1960 no Brasil e os números só crescem, mostrando a total ineficiência deste método. Nosso país é o único que adota a eutanásia como solução. Para resolver o problema, as ações devem estar voltadas para as castrações em massa dos animais da população carente, juntamente com o programa de castração solidária e gratuita”, explica a veterinária.
 
Maria Paula ainda destaca que devemos conscientizar a população a respeito da importância da castração e do tratamento em relação à leishmaniose.

“Isso permitirá o controle populacional desses animais e consequentemente o controle do mosquito vetor", explica.
 
A veterinária conta que teve a oportunidade de conhecer o Centro de Zoonoses de Sete Lagoas e ficou surpreendida, pois as instalações não eram tão ruins. Mas, ela esclarece sobre a importância da abordagem médica, que é específica para cada caso.




 
“Medicina não é matemática e existem outros tratamentos possíveis no controle da leishmaniose no organismo do animal”, comenta.
 
A médica veterinária acrescenta que tem o apoio da sociedade civil, que acompanha seu trabalho nas redes sociais, e também do deputado estadual Noraldino Júnior (PSC) e da assessora jurídica do político, Brenda Sampaio.
 

Posicionamento do Centro de Controle de Zoonoses

 
O CCZ se diz aberto para discutir novas condutas e práticas para o controle da leishmaniose no município, desde que dentro da legislação federal.
 
O órgão destaca que, em Sete Lagoas, realiza dois exames diagnósticos, como recomenda o Ministério da Saúde.
 
A incidência canina da leishmaniose no município, em 2021, está em 8,5% em média, tendo alguns bairros com incidência de 12% dos animais analisados. O esperado pelo Ministério da Saúde é uma média inferior a 2%.




 
De acordo com o CCZ, nos humanos, quando a incidência é de 4,4 casos por ano, o município passa a ser classificado como transmissão intensa. Em Sete Lagoas, o índice nos últimos cinco anos foi de 10,2 casos.
 
Na cidade, já ocorreram três mortes por leishmaniose apenas nos primeiros seis meses de 2021. 
 

Sobre o CCZ

O Centro está vinculado ao setor de epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde e seu laboratório de exames é referência para 34 municípios que fazem parte da Regional de Saúde.
 
Segundo o órgão, “a demanda é contínua e, além dos vários exames, envolve o resgate, castração de animais e o direcionamento para adoção. Nos cinco primeiros meses deste ano, foram mais de 7.500 procedimentos com destaque para 525 animais resgatados, 377 adoções e 5.345 testes de leishmaniose visceral canina”.




 
Para aumentar sua capacidade de atendimento, o CCZ recebeu diversas melhorias em sua estrutura. A unidade ganhou cercamento e o Centro Cirúrgico foi inaugurado.
 
O órgão é responsável ainda pela campanha de vacinação antirrábica, que imuniza milhares de animais nas áreas urbana e rural.
 
No ano passado, foi adquirido pela unidade um castra móvel. O veículo começará a funcionar em julho deste ano e terá capacidade para realizar dezenas de castrações gratuitas por mês.
 
Os animais adotados na feira permanente de adoção, no Terminal Urbano da cidade, além dos proprietários já cadastrados no CCZ, terão prioridade na castração gratuita.

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