A triste história que envolve a vida do garotinho Elias Emanuel Martins Leite, de 6 anos, agredido pelo pai no domingo (27/6), porque não conseguia resolver as questões de uma tarefa escolar, foi desvendada pela Polícia Civil de Caratinga, cidade onde ela morava.
Elias morreu na segunda-feira (28/6) em decorrência de traumatismo cranioencefálico contuso, segundo laudo dos médicos legistas. Além dessa lesão, os legistas encontram pelo corpo da criança várias outras lesões nas pernas, tornozelo e na face, ocasionadas em datas anteriores.
Os delegados Ivan Lopes Sales e Victor Gonçalves Castor informaram na manhã desta sexta-feira (02/7), que as agressões sofridas por Elias no domingo, foram apenas componentes cruéis de um ato final no histórico de agressões que o garoto sofria há tempos.
“A vítima vinha há um bom tempo sofrendo intenso sofrimento físico como castigo dado pelo pai e, infelizmente, nesse episódio do dia 27, acabou ocasionando a sua morte”, disse o delegado Ivan Sales.
Nas investigações conduzidas pelo delegado Victor Castor, a equipe de policiais civis teve acesso a um prontuário médico de fevereiro de 2020, revelando que a criança, nessa ocasião, deu entrada em uma clínica com várias lesões pelo corpo, provocadas pelas torturas que ele sofria.
Sem sentimentos pelo filho
O que impressionou os delegados foi o desprezo do pai pelo filho. Durante os interrogatórios, segundo o delegado Ivan Sales, o pai de Elias se mostrava muito preocupado com os direitos dele, se ele poderia se livrar da prisão, se poderia pagar fiança, e em momento algum se preocupou com o estado de saúde do filho que estava internado no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte.
Na tentativa de se livrar da prisão, o pai agressor tentou minimizar as agressões. Disse que bebeu cachaça e foi ensinar a tarefa escolar para o filho, e como a criança não compreendia a suas orientações, deu um tapa no filho. Depois, segundo contou o pai à polícia, ele deu um chute na criança, que se desequilibrou, caiu e bateu com a cabeça em um móvel, ficando inconsciente.
O delegado Ivan Sales disse que essa confissão do pai, foi feita à maneira dele, tentando se livrar da prisão o mais rápido possível. “Mas a nossa investigação demonstrou que, na verdade, a criança não sofreu apenas essa agressão, mas vinha sofrendo intensa violência causada pelo seu genitor”, disse o delegado Ivan Sales.
Estupro de vulnerável
Além do conjunto de provas contra o pai agressor, que submetia o filho a “intenso sofrimento”, segundo os delegados, ele foi indiciado por outro crime: estupro de vulnerável. A investigação policial apurou que o pai do garotinho, vive com sua atual companheira, de 18 anos, desde que ela tinha 12 anos de idade. E que mantém relações sexuais com ela desde essa época.
Segundo o delegado Ivan Sales, isso caracteriza estupro de vulnerável, porque “há uma súmula do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que, havendo conjunção carnal ou outro ato libidinoso com menor de 14 anos, ainda que a vítima consinta a relação, não desconfigura o crime de estupro de vulnerável”, explicou o delegado.
A mãe de Elias morreu quando ele tinha 1 ano e 7 meses de vida. Órfão de mãe, ele morou um tempo com seus avós maternos, mas depois, foi morar com o pai e a madrasta. O pai havia conseguido a guarda do filho na justiça.
O pai agressor teve sua prisão preventiva decretada durante a audiência de custódia e com todas as provas coletadas pela Polícia Civil, ele foi indiciado por tortura qualificada com resultado morte e estupro de vulnerável.
O corpo de Elias será sepultado nesta sexta-feira, às 15h, em Santa Bárbara do Leste, cidade onde mora seus avós maternos.