Na linha de frente de combate ao novo coronavírus, trabalhadores da saúde tiveram que enfrentar um árduo aprendizado sobre um inimigo desconhecido e traiçoeiro. Nessa guerra, o vírus pode ter vencido batalhas, mas o enfrentamento diário fez com que médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e toda a equipe se armassem de conhecimento para salvar vidas.
Em busca de respostas sobre esse arsenal, o Estado de Minas ouviu profissionais para que revelassem o que tiveram de aprender na prática e hoje funciona para o tratamento desses pacientes – em uma busca contínua, que está longe de terminar ou de ter conseguido todas as respostas.
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Confira a entrevista completa
Já lidou com alguma situação tão caótica como agora?
Não. Na verdade, a gente pegou H1N1 que não se potencializou, graças a Deus, mas nada como isso. É uma guerra de fato.
H1N1 era quase inexistente visto o que está acontecendo hoje. O que nós vimos no inicio dessa pandemia é que potencializou a importância da enfermagem. Já sabíamos, mas ficou mais evidente.
No início não tínhamos EPIs adequados, passamos por momentos muito difíceis realmente, não tinha um suporte para esses profissionais que estavam na linha de frente. Quando começou a chegar os EPIs não era de boa qualidade e acabou que nos vimos em uma guerra e praticamente combatendo com pau e pedra, ou seja, sem proteção adequada e sem conhecimento do nosso inimigo. Ninguém sabia de fato como enfrentar a pandemia.
No início da pandemia, quando se tinha pouca informação sobre a doença, o vírus, quais eram os principais desafios da categoria?
Treinar esses profissionais em tempo recorde.
O uso correto de EPIs foi sendo aprimorado com o tempo?
O uso correto de EPIs foi sendo aprimorado com o tempo?
Sim. Com o passar do tempo, todo mundo percebendo a potência que tinha o vírus, realmente começava a melhorar esses equipamentos.
Como foi lidar com o medo do contágio?
Nossa categoria é 89% feminina. São mães, esposas. Temos profissionais que ficaram a mais de um ano sem dar um abraço no próprio filho.
Quais habilidades precisaram criar para utilizar novas ferramentas de comunicação e lidar com as perdas de pacientes e com a situação da família?
O reconhecimento de um paciente que está numa CTI que vem a óbito é feito muitas vezes por videochamada. Para o enfermeiro ter que fazer isso por vídeo ficou frio, mas necessário. Boletim médico também por videochamada. A tecnologia ajudou bastante. É frio demais, mas é o que tem no momento.
Com o tempo, foi aumentando o número de pacientes, de leitos nos hospitais. Quais técnicas usaram para atender tantas pessoas ao mesmo tempo?
Infelizmente, dentro da assistência, você não tem como escolher quem vai atender. Atende a todos e faz o possível para assegurar o melhor de enfermagem para quem precisa. É onde o profissional enfermeiro ficou sobrecarregado.
A necessidade de leitos foi aumentando, foram criando novos leitos e com isso vieram os chamamentos públicos dos profissionais que ao invés de valorizar, os chamamentos estava igual ou pior. O relato que nós temos é que eu saí pra trabalhar e amanhã não sei se volto. O medo é muito grande. A enfermagem tem seu valor muito grande mas os órgãos públicos não valorizaram.
O que mudou na rotina da UTI com a pandemia?
Numa CTI geralmente tem os pacientes graves e intermediários. O que mudou é que não tinha paciente menos grave. O paciente chega estabilizado e rapidamente ele desestabiliza, o vírus é muito rápido.
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O profissional admite um profissional aparentemente bom e no outro dia ou ele ia a óbito ou estava entubado. Isso levou ao stress máximo da nossa categoria. O enfermeiro precisou de fato colocar o conhecimento em prática.
O que você não sabia antes da pandemia e que acabou aprendendo no tratamento dos doentes de COVID?
Os relatos é que sentiram que não sabiam do carinho da população. O que ficou frisado pra nós é o reconhecimento. Ao restabelecer, o primeiro rosto que vê é do enfermeiro, do técnico em enfermagem.
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