De reservatório com 558 mil metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, água e areia acumulados ao longo de 15 anos em um complexo minerário entre o Rio das Velhas e a rodovia BR-356, em Nova Lima, a um planalto vegetado com canalização de água fluindo ao centro. Depois de nove meses de trabalhos a Barragem de Fernandinho deixou de existir.
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De acordo com a Vale, com a descaracterização, a estrutura perdeu a função de armazenamento de rejeitos e água, sendo reintegrada ao ambiente local e não possuindo mais características de barragem de mineração.
"A conclusão das obras de descaracterização ainda será avaliada pelos órgãos competentes. A descaracterização das barragens a montante é um compromisso assumido pela Vale para aumentar a segurança das comunidades e das operações", informa a empresa.
A barragem tinha Declaração de Condição de Estabilidade (DCE) positiva e durante o processo de descaracterização foram removidos 15 vezes menos volume do que se desprendeu da Barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, em 2019, em Brumadinho.
Um canal central de drenagem foi implantado para o escoamento das águas em períodos chuvosos. A área que antes retinha rejeitos agora está revegetada.
A Vale destaca que esse trabalho gerou cerca de 540 empregos diretos, a maioria proveniente da região de Nova Lima. As obras ainda serão avaliadas pelos órgãos competentes, como o Ministério Público, a Secretraria de estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e Agência Nacional de Mineração (ANM).
A descaracterização das barragens a montante é uma obrigação legal de todas as mineradoras. Desde 2019, a Vale conseguiu descaracterizar e reintegrar os reservatórios 8B, na mina de Águas Claras, em Nova Lima, seguida por três estruturas no Pará. A descaracterização do dique Rio do Peixe, em Itabira, também está concluída e a barragem Fernandinho é a mais recente.
Por si só, os rejeitos contidos na Barragem de Fernandinho não representavam ameaça ao Rio das Velhas, o principal manancial de abastecimento da Grande BH. Contudo, o barramento vizinho, de Vargem Grande, chegou a entrar em nível 2 do programa de segurança, por apresentar problemas não sanados por intervenções, em fevereiro de 2019, semanas depois do rompimento da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.
Em caso de rompimento, os rejeitos de Vargem Grande poderiam ocasionar a ruptura da vizinha Fernandinho, interrompendo segmentos da rodovia BR-356, a principal ligação entre Ouro Preto e Belo Horizonte. No caminho da lama, seria engolida a Lagoa das Codornas e o Rio do Peixe, em um trajeto de 23 quilômetros que findaria no Rio das Velhas.
Em fevereiro de 2019, uma proção da Rodovia BR-356 chegou a ter o fluxo controlado até que a Barragem de Vargem Grande voltasse ao nível 1 do programa de segurança, no dia 5 de junho do mesmo ano. Essa estrutura permanece em nível 1 até o momento.
Áreas evacuadas
Na última segunda-feira (05/07), como adiantou o Estado de Minas, a Vale anunciou ter iniciado o processo de descaracterização da Barragem Sul Superior, operada em Barão de Cocais, no complexo de Gongo Soco. Desde o dia 8 de fevereiro de 2019, quando a barragem foi considerada com nível 3 de emergência, ou seja, com risco iminente de rompimento, 200 pessoas foram evacuadas da chamada Zona de Autossalvamento (ZAS) desse barramento e se encontram vivendo em moradias providenciadas pela mineradora.
O barramento situado no município da Região Central de Minas Gerais, a 96 quilômetros de Belo Horizonte, tem 85 metros de altura e retém 6 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro (2/3 do que despejou a barragem rompida em Brumadinho).
No mesmo dia do anúncio da descaracterização em Barão de Cocais, a mineradora afirmou que o mesmo processo avançou em Nova Lima, com a remoção de rejeitos de minério de ferro sendo feita na Barragem B3/B4 do complexo minerário de Mar Azul. A estrutura também se encontra em nível 3, com risco iminente de ruptura, e obrigou, desde 16 de fevereiro de 2019, que 118 famílias deixassem o povoado turístico de Macacos.
Em caso de rompimento, os 2,7 milhões de metros cúbicos (m3) - cerca de um terço do volume que se desprendeu da Barragem B1, em Brumadinho - de rejeitos da B3/B4 levariam pouco mais de 15 minutos para chegar a Macacos.