Além de superar a COVID-19, muitos pacientes têm outra luta árdua depois da alta hospitalar: contra as sequelas deixadas pela doença. Foi o que aconteceu com o operador de máquinas Daniel da Silva, de 43 anos, que foi infectado pela doença em março desse ano e permaneceu quase 70 dias internado na UTI.
Ele tinha uma vida ativa, alimentação saudável, mas quando procurou o pronto atendimento, em Borda da Mata, no Sul de Minas, precisou ficar no oxigênio e, posteriormente, ser transferido para Pouso Alegre.
Ele tinha uma vida ativa, alimentação saudável, mas quando procurou o pronto atendimento, em Borda da Mata, no Sul de Minas, precisou ficar no oxigênio e, posteriormente, ser transferido para Pouso Alegre.
“Quando conseguimos uma vaga aqui em Pouso Alegre, ele já chegou com parada, saturando muito, e teve que ser intubado na porta. Foram 68 dias na UTI, três paradas cardiorrespiratórias, transfusões de sangue, todas as complicações de uma UTI. Na segunda parada que ele teve, os médicos desenganaram o Daniel. Falaram que ele estava entrando em falência múltipla de órgãos. Foi um momento muito difícil, mas eu tinha muita força, muita fé que ele ia sair ”, conta a esposa de Daniel, Célia Regina de Souza.
Depois de ficar 68 dias na UTI e 18 dias no quarto, Daniel voltou para casa. Mas durante o período em que esteve internado, ele teve uma isquemia, que causou um comprometimento neurológico e deixou algumas sequelas. Daniel pesava 83kg, hoje está com 51kg. Ele ainda não consegue andar, nem falar.
“Por conta das paradas, ele sofreu isquemia hipóxica, que é a falta de oxigênio no cérebro. Os médicos falam pra mim que tem que esperar. Ele vai ter sequelas, mas não se sabe ainda o que vai ficar de sequelas, porque ele tem que se recuperar do pós-COVID para poder evoluir e ver o que vai precisar ser trabalhado”, explica a esposa.
Célia e suas duas filhas – uma de 6 anos e outra de 10 – precisaram se mudar de Borda da Mata para Pouso Alegre, já que Daniel ficou muito tempo hospitalizado no município. Hoje, a família mora na casa de um tio de Célia, que faleceu há cerca de dois meses. Ela também tem outros parentes em Pouso Alegre.
Tratamento pós-COVID
Daniel da Silva está com traqueostomia e ainda precisa usar oxigênio durante o dia e, às vezes, à noite. Mas ele já começou a apresentar melhoras, e o papel da sua esposa e duas filhas tem sido fundamental nesse processo. Daniel já consegue interagir com as crianças, tenta tocar violão e até mesmo falar.
“As crianças são fundamentais. A Allane (10 anos) é muito carinhosa. Toda hora fica na cama com ele: “Papai te amo, papai vamos ter força”. A Valentina (6 anos) alisa ele. Trocam carinhos o dia inteiro. Elas pegam bolinha e falam pra ele pegar, fica animando ele. Essa ideia do violão foi dela, que pegou e colocou na mão dele”, conta Célia Regina.
A técnica de enfermagem Josiane Donizete dos Santos acompanha o Daniel desde o período em que ele estava internado no hospital, e segue auxiliando a família: “Lá [hospital] ele teve vários episódios. Melhorava, quando via tinha paradas, regredia, né?! E depois foi indo e, graças a Deus, ele conseguiu se recuperar. É gratificante ver a evolução dele com a família. É muito importante o contato com as filhas, com a esposa”, afirma Josiane Donizete.
Questão financeira é outro desafio
O principal desafio nesse momento tem sido comprar os medicamentos e materiais para curativos. O Daniel está afastado do trabalho até 2023, mas o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ainda não liberou o auxílio-doença para esposa. Além disso, Célia teve que deixar o emprego para cuidar do marido.“Foi feita a perícia na UTI, e afastaram ele até 2023. Agora eu tenho que entrar como procuradora dele, porque o Daniel depende de mim pra tudo. E até agora nada. Eu entro no Meu INSS e dá pendente a situação, sendo que eu já levei todos os documentos, tudo que eles solicitaram eu já enviei, e dá que está em análise. Eu dependo de ajuda, né?! Como eu não tenho um dinheiro fixo, as pessoas têm me ajudado. Meu tio, minha irmã, minha sogra. Fome, graças a Deus, aqui em casa a gente nunca passou. Mas a questão hospitalar que o Daniel depende – medicamentos, fraldas, gazes – tudo é caro. Pra mim é muito caro, porque não tenho da onde tirar”, diz a esposa.
Além da ajuda de amigos e familiares, a empresa em que o Daniel trabalha há quatro anos também tem dado suporte à família nesse momento delicado.
“Eles foram fundamentais. Deixaram o quarto pronto para receber o Daniel, me ajudaram em primeira mão com as fraldas, porque eu não tinha pra sair do hospital. Me ajudaram muito”, agradece Célia Regina.
Conscientização sobre a COVID-19
Célia Regina alerta sobre a gravidade da doença. Ela explica que o esposo não tinha doenças pré-existentes, se alimentava bem e, mesmo assim, teve complicações da COVID-19.
“O Daniel não tinha comorbidades, era bem ativo, tinha uma alimentação regrada, era vegetariano. Essa doença não escolhe, e deixou meu marido do jeito que ele está. Então não brinca. É muito sério, é muito grave”, destaca a esposa.
“O Daniel não tinha comorbidades, era bem ativo, tinha uma alimentação regrada, era vegetariano. Essa doença não escolhe, e deixou meu marido do jeito que ele está. Então não brinca. É muito sério, é muito grave”, destaca a esposa.
Inclusive Célia criou um perfil no Instagram (@daniel_celinha.recuperacao) para conscientizar as pessoas sobre a doença e também para apoiar quem enfrenta a mesma situação, mostrando como está a recuperação do Daniel.
“Foi pra conscientizar sobre a COVID, o pós-COVID grave e tudo o que ele causa na vida da gente, e pra estar ajudando [outras pessoas]. Porque eu sei que as UTIs estão cheias, então tem muita mulher e marido na mesma situação do que eu passei. E pra dar força, pra você ter fé. A gente põe Deus na frente, ora, ergue a cabeça e vamos. Porque vai dar certo, eu tenho fé nisso”, destaca Célia Regina.
* Gabriella Starneck - Especial para o EM
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