O Museu de Ciências Morfológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (MCM-UFMG) está enfrentando um corte de funcionários que pode levar ao fechamento do estabelecimento.
Apesar da suspensão da visitação presencial desde o início da pandemia, todas as peças do acervo são reais, e por isso necessitam de uma manutenção constante, que era feita pelos colaboradores desligados.
Apesar da suspensão da visitação presencial desde o início da pandemia, todas as peças do acervo são reais, e por isso necessitam de uma manutenção constante, que era feita pelos colaboradores desligados.
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"As pessoas têm a oportunidade de se observar como um corpo saudável, enxergar o organismo e se cuidar, para evitar qualquer situação clínica. Ao enxergar um corpo saudável, você consegue cuidar da sua saúde e se conhecer", afirma a diretora.
Recentemente, há pouco mais de um mês, cinco funcionárias foram desligadas da instituição. Elas realizavam o atendimento de visitantes e manutenção das peças, que precisam de uma atenção específica com uma mistura de soluções, como o formol, por serem estruturas de órgãos humanos reais.
Sem uma equipe para esse cuidado, as peças poderão ser prejudicadas e na falta de acervo o museu não poderá ser aberto.
Sem uma equipe para esse cuidado, as peças poderão ser prejudicadas e na falta de acervo o museu não poderá ser aberto.
"As funcionárias foram demitidas há cerca de um mês e isso, realmente, inviabiliza a manutenção das peças, porque elas são mantidas em cubas com um líquido, como o formol. Algumas funcionárias eram responsáveis pelo atendimento das escolas, que é nosso público principal. Duas estavam mais envolvidas com a manutenção, que requer a troca do líquido, pelo menos, a cada 20 dias. Isso porque não podemos deixar o nível da solução abaixar, pois corre o risco de ressecar", explica Gleydes.
O atendimento presencial do museu está suspenso desde início da pandemia, mas as peças precisam ser mantidas. As crianças de escolas públicas eram as visitantes mais frequentes do local, que atendia mais de 10 mil pessoas por ano.
"Embora nós tenhamos uma parceria muito boa com a universidade, a manutenção era feita por funcionárias terceirizadas. Com as aulas suspensas, não vamos voltar enquanto a universidade não determinar a volta. Isso é absolutamente tranquilo, estamos seguindo as determinações. Mas na circunstância de agora, não temos como voltar, porque precisaríamos das pessoas para atendimento e logística. Os bolsistas são a equipe de explicação para os visitantes, mas estrutura de atendimento fica com os funcionários", disse a diretora.
Demissão foi uma surpresa
Diante dessa situação, a diretora ainda está avaliando como as manutenções serão feitas enquanto não há admissão de novos funcionários ou recontratação das antigas colaboradoras.
"Na ausência delas eu vou ter que intercalar essa função de manutenção. Felizmente eu tenho alguma prática nessa parte, mas ainda estamos analisando".
A demissão foi uma surpresa para a equipe, que não sabia que isso estava para acontecer.
"Não estávamos sabendo da demissão. As universidades sofreram cortes de verbas e nós entendemos perfeitamente essa situação. Não somos inconsequentes a ponto de achar que isso foi de forma irresponsável. Mas nós da diretoria não sabíamos que haveria essa demissão".
"Não estávamos sabendo da demissão. As universidades sofreram cortes de verbas e nós entendemos perfeitamente essa situação. Não somos inconsequentes a ponto de achar que isso foi de forma irresponsável. Mas nós da diretoria não sabíamos que haveria essa demissão".
"Foi uma surpresa, mas é uma situação que precisamos nos preparar e organizar para trabalharmos. Temos certeza que a universidade vai se mobilizar e tenho esperança que vamos poder voltar, quando for possível, com condições de atender no museu", disse Gleydes.
Veja a nota da UFMG
"A Universidade Federal de Minas Gerais, em regime de trabalho remoto desde o dia 18 de março de 2020, suspendeu as atividades presenciais não essenciais em seus espaços físicos. Desde então, foi instituído um Comitê de Enfrentamento ao Novo Coronavírus que desenvolveu um Protocolo de biossegurança, adequação do espaço físico e monitoramento da covid-19 na UFMG, com as recomendações para a retomada gradual das atividades presenciais, respeitando as análises sobre o comportamento da pandemia, a legislação vigente e as recomendações das autoridades sanitárias de Belo Horizonte.
A visitação ao Museu de Ciências Morfológicas da UFMG está suspensa desde então, não justificando a manutenção de funcionários terceirizados. As atividades de manutenção do Museu, consideradas essenciais, continuam mantidas. O Museu, um importante espaço de ciência e de divulgação científica, que atende significativo público da educação básica, retomará suas atividades presenciais tão logo a Universidade esteja funcionando plenamente de forma presencial".
Cortes de verbas
Em maio deste ano, a reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, falou pela primeira vez sobre a situação orçamentária da instituição em entrevista exclusiva ao Estado de Minas e afirmou que a crise é gravíssima e nada parecido tinha acontecido na história da universidade.
Com quase 40% a menos de seus recursos em relação a 2020, a maior universidade federal do estado teme chegar ao fim do ano com caixa no vermelho. O corte e bloqueio de verbas chegou a R$ 103 milhões e poderão ser afetados contratos de terceirizados, pagamento de bolsas e até mesmo o plano de retorno a atividades presenciais.
"A UFMG é séria e preza pelo seu comprometido por responsabilidade financeira. A curto prazo é dramático, a médio e longo prazos é desastroso, não apenas para a universidade, mas para o desenvolvimento do país em todas as áreas do conhecimento. Hoje, 95% das pesquisas do Brasil são feitas em universidade públicas. Para Minas, com 11 universidades e 19 institutos federais, será dramático", disse a reitora à reportagem do EM.
Em um momento crítico para o sistema de saúde brasileiro, as pesquisas das universidades em todo país são essenciais para melhoria do cenário.
Só na UFMG existem sete projetos de vacinas contra COVID-19 em andamento. Uma delas, a Spintec, está entre os três imunizantes com estágio de estudo mais avançado no país.
Só na UFMG existem sete projetos de vacinas contra COVID-19 em andamento. Uma delas, a Spintec, está entre os três imunizantes com estágio de estudo mais avançado no país.
Para contribuir com a fase clínica 1 e 2 da Spintec, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), assinou um repasse de R$ 30 milhões para a UFMG.
"Isso é investimento em ciência. A UFMG foi escolhida como a universidade federal número 1 do Brasil. É um motivo de orgulho de BH e Minas Gerais. Então, a prefeitura vai garantir, sim, a continuidade dos estudos da fase 2 da vacina da UFMG. Nós conveniamos com a UFMG, isso está sendo feito ainda, tudo documentado", afirmou o prefeito em entrevista à TV Globo Minas.
Nesta quinta-feira (15/7), o governo de Minas anunciou investimento de R$ 58 milhões em pesquisa e ciência, sendo que R$ 28 milhões serão destinados à Funed e R$ 30 milhões ao Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG.
"Isso é investimento em ciência. A UFMG foi escolhida como a universidade federal número 1 do Brasil. É um motivo de orgulho de BH e Minas Gerais. Então, a prefeitura vai garantir, sim, a continuidade dos estudos da fase 2 da vacina da UFMG. Nós conveniamos com a UFMG, isso está sendo feito ainda, tudo documentado", afirmou o prefeito em entrevista à TV Globo Minas.
Nesta quinta-feira (15/7), o governo de Minas anunciou investimento de R$ 58 milhões em pesquisa e ciência, sendo que R$ 28 milhões serão destinados à Funed e R$ 30 milhões ao Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG.
Em junho, um pequeno valor foi desbloqueado para o Ministério da Educação (MEC), que já somava mais de R$ 3 bilhões em corte e bloqueio orçamentário. Foram R$ 1,5 bilhões liberados, porém o montante permanece insuficiente para manter as universidades federais de todo o país em pleno funcionamento.
A UFMG divulgou uma nota sobre o desbloqueio e afirma que a redução compromete o funcionamento adequado, entretanto, garante que mesmo com os cortes, a qualidade do ensino permanece crescente e a universidade vai continuar na defesa "de condições para seguir trazendo resultados para toda a sociedade brasileira".
*Estagiária sob supervisão do editor Álvaro Duarte