Jornal Estado de Minas

COVID-19

Peregrinação para receber a segunda dose na capital


Moradores da Região Nordeste de Belo Horizonte enfrentam dificuldades para encontrar centros de saúde com estoque de vacinas da AstraZeneca (Oxford/Fiocruz). Na manhã de ontem, a reportagem conversou com pessoas de 61 anos, público-alvo da campanha ontem, que foram surpreendidas pela indisponibilidade de imunizantes no Centro de Saúde Cidade Ozanan, no Bairro Ipiranga.





Mário Lúcio chegou logo cedo ao local para tentar completar o esquema vacinal. Com agenda apertada por causa do trabalho, ele lamentou o fato. "Muito difícil. Eu me programei pra vir até aqui e não encontrei a vacina. Agora, vou correr para que dê tempo."  Situação semelhante aconteceu com Carlos Monteiro, morador do Ipiranga. "Tomei a primeira dose aqui, e agora não consegui receber a segunda. Complica o planejamento da gente, infelizmente", reclamou.

No Centro de Saúde Cidade Ozanan, a orientação da equipe da Secretaria Municipal de Saúde era para que o cidadão se dirigisse ao Centro de Saúde Alcides Lins, no Bairro Concórdia, na mesma região. "É o que mais acontece", afirmou uma funcionária da unidade, em anonimato. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que o problema é pontual e resolvido "o mais rápido possível" quando acontece.

De carro, o trajeto até a unidade do Concórdia leva cerca de cinco minutos. Porém, como a rede pública atende pessoas de todas as classes sociais, alguns moradores precisam se deslocar a pé, o que leva 20 minutos. Como o público-alvo é de idosos, pode ser necessário recorrer ao transporte público. Nesse caso, o morador precisa andar até a Rua Jacuí, 3.641, onde quatro linhas diferentes vão até o número 2.227 da mesma via. De lá, mais uma pequena caminhada até a unidade do Concórdia. A passagem custa R$ 4,50. Em caso de contratação de transporte privado por aplicativo, o custo é de aproximadamente R$ 8 entre as duas unidades, em cotação realizada na manhã de ontem.





VIA-SACRA 


Um relato nas redes sociais motivou a reportagem a se dirigir até a Região Nordeste ontem para verificar o problema. Na quarta-feira, o jornalista Marcus Rocha precisou enfrentar uma verdadeira peregrinação para encontrar a AstraZeneca nos centros de saúde da regional.

O desafio dele começou justamente no Centro de Saúde do Bairro Ipiranga, onde recebeu a mesma resposta das pessoas ouvidas pelo Estado de Minas. De lá, a orientação foi para que ele fosse até a unidade do Bairro Cachoeirinha, na Rua Borborema. Novamente, não encontrou a dose.

"Após rodar uns 20 minutos, localizei o CS (Centro de Saúde) no alto do Bairro Cachoeirinha. Ali, para minha decepção, fui informado de que também não havia a vacina AstraZeneca. E que para consegui-la teria de ir ao CS do Bairro União (Leopoldo Crisóstomo de Castro), Rua Leôncio Chagas, limite com o Bairro São Joaquim", escreveu Rocha no Facebook. Mais uma vez, o sistema de saúde exigiu paciência do jornalista: sem estoque da vacina produzida pela Oxford, em conjunto com a Fiocruz.





A última tentativa foi no Centro de Saúde São Paulo, na Rua Queluzita. Lá havia vacina, mas faltavam seringas para aplicação. "Achei até que era brincadeira! Mas, ao verificar melhor o local, notei que havia dezenas de pessoas. Todas esperando as seringas que, segundo a atendente, chegariam a qualquer momento", relatou. "A espera durou uma hora, mas o jornalista conseguiu se vacinar. "Só assim entendi por que tanta gente tem desistido de tomar a segunda dose. Eu só não desisti porque estava de carro e determinado a me imunizar para ficar livre", completou.

OUTRO LADO 


Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que "não há falta de imunizantes na capital", apenas escassez pontual em dias de grande procura. "Quando acontece, a Secretaria Municipal de Saúde trabalha para fazer o reabastecimento de doses o mais rápido possível. A informação sobre falta de seringas no Centro de Saúde São Paulo não procede", disse a PBH. O Executivo informou, ainda, que todos os grupos convocados "só podem ser vacinados em unidades exclusivas para cada público", portanto, a imunização não acontece em todos os centros de saúde.

CRONOGRAMA 

O cronograma da secretaria prevê a imunização das pessoas de 41 anos com a primeira dose hoje, enquanto os idosos de 60 completam o esquema vacinal amanhã. Ontem, a prefeitura anunciou que o público de 41 anos receberá vacinas da Janssen. Segundo a administração municipal, a estimativa é de que cerca de 43 mil pessoas sejam imunizadas com a vacina, aplicada em dose única. Segundo o Boletim Epidemiológico e Assistencial publicado ontem pela prefeitura, a cidade aplicou até o momento 2.226.892 doses de vacinas. Receberam a primeira dose, 1.285.723 moradores, enquanto 470.869 completaram o esquema vacinal com a segunda injeção, e 18.156 receberam a vacina da Janssen, que não exige reforço.






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