O cofundador do Movimento Gay de Minas (MGM), Marco Trajano, morreu nesse sábado (17/7), às 15h10, aos 57 anos, em decorrência das complicações da COVID-19. O ativista – que atualmente estava lotado na Procuradoria-Geral do município de Juiz de Fora – deixa extenso legado na luta pelo direito à dignidade da população LGBTQIA%2b.
Internado há 30 dias no hospital Santa Casa de Misericórdia da cidade, Trajano deu entrada na unidade para ser submetido a uma angioplastia.
“Durante a realização de exames pré-operatórios, a infecção por COVID-19 foi confirmada. Na UTI, ele foi intubado e não resistiu após uma parada cardíaca”, contou Oswaldo Braga, que foi companheiro de Trajano por 30 anos, em entrevista ao Estado de Minas.
“O Marco estava muito animado para se vacinar, mas infelizmente não deu tempo. Ele foi mais uma vítima de um governo irresponsável na compra de vacinas”, criticou.
“Ele era um líder! Brigou muito pelo direito de ser quem ele é! Ele se emocionava com a dor dos outros e, ao mesmo tempo, brigava por essas pessoas”, relatou Oswaldo, destacando que o MGM, criado por ele e Marco nos anos 2000, surgiu diante da necessidade que ambos tinham de criar uma rede de assistência à população LBGTQIA%2b.
No mesmo ano em que nasceu o Movimento Gay de Minas, a Lei Municipal 9.791 foi sancionada em Juiz de Fora. Popularmente conhecida como Lei Rosa, a nova legislação foi um marco no município em relação ao combate às práticas discriminatórias por orientação sexual.
“Ele foi um dos grandes articuladores dessa iniciativa. O Marco ajudou a redigir o texto da lei”, destacou Oswaldo, reforçando a luta constante de seu companheiro a favor do exercício pleno da cidadania.
“Era pelo direito de beijar"
Nesse sentido, conforme revela Oswaldo, Marco assumia nas manifestações públicas de amor e afeto muito mais do que as trocas de olhares e os toques entre duas pessoas apaixonadas. O ato de demonstrar – a céu aberto – o amor que ele sentia era, sobretudo, um discurso a favor da liberdade.
“Era pelo direito de beijar. Nós nos beijamos em público milhares de vezes”, afirma o ex-companheiro de Marco, deixando claro que os beijos eram também um ato de resistência contra o preconceito.
E várias dessas demonstrações de amor para quem quisesse ver ficaram registradas nas fotografias em cima dos trios elétricos que cortavam a Avenida Barão do Rio Branco, no Centro de Juiz de Fora, durante a tradicional Parada Gay. “A de 2006 foi histórica, pois contou com cerca de 200 mil pessoas”, relembra.
Marco Trajano participou ativamente da organização das edições do Rainbow Fest – evento do MGM que, por muitos anos, contou com palestras, seminários, exposições, cinema e muitas outras manifestações culturais. A atividade sempre antecedeu a realização da Parada Gay.
Manifestações de pesar
O Movimento de Colaboração LGBTQIA%2b do Partido Democrático Trabalhista (PDT) – no qual Marco Trajano atuava como coordenador nacional – emitiu um comunicado nas redes sociais.
“Juiz de Fora perde seu brilho, sua garra e sua persistência na construção do Rainbow Fest. À frente do Movimento Gay de Minas, Marco construiu uma brava resistência e coloriu não só Minas Gerais, mas o Brasil, o país que aprendeu a te amar”, diz o PDT em nota.
O partido relembra ainda o momento no qual o ativista iniciou os trabalhos em prol da comunidade LGBTQIA%2b. “Um amigo incomparável e um guerreiro (...). Não pensou duas vezes quando recebeu o convite para nos auxiliar na construção do PDT Diversidade. Por isso lhe entregamos esta homenagem”.
A Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), mantida pela Prefeitura de Juiz de Fora, também publicou uma nota nas redes sociais lamentando a morte do ativista.
“A Funalfa lamenta o falecimento de Marco Trajano, servidor público de carreira da PJF e ativista dos direitos LGBTQIA%2b. Aos familiares e amigos, nossos sentimentos. A Marco, querido amigo, gratidão pela grande contribuição com a cultura e defesa de direitos em Juiz de Fora. Descanse em paz, Marco!”
O sepultamento de Marco Trajano aconteceu na tarde deste domingo (18/7), no Cemitério Municipal. Seguindo os protocolos sanitários em decorrência da pandemia de COVID-19, a cerimônia foi realizada de forma restrita, sendo permitida a presença de oito pessoas.
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