Jornal Estado de Minas

ALÉM DE GUARAPARI

Loucos por surfe, mineiros superam falta de mar e criam torneio do esporte



Eles conhecem as ondas da Nicarágua, Peru, Indonésia, Havaí, Costa Rica, El Salvador, disputaram ao menos doze torneios e colecionam troféus. O currículo certamente caberia ao surfista Ítalo Ferreira, que conquistou o primeiro ouro do Brasil nos jogos olímpicos de Tóquio nessa segunda-feira (27/7), ou ao campeão Gabriel Medina. Os “atletas” em questão, porém, são do Campeonato Mineiro de Surfe





“Não, a gente não treina na Lagoa da Pampulha”, adianta o criador do evento Kau Cavalcanti, acostumado a piadas infames relacionadas à inusitada combinação entre Minas e oceano. “Mas, com certeza, vamos muito mais à praia do que muito morador de litoral”, brinca o empresário. 

Ele lidera um grupo de aproximadamente 60 mineiros unidos pela paixão pelas pranchas. Há 20 anos, decidiu elevar o hobby a um patamar mais sério e criou um campeonato, com direito a patrocinador e prêmios. 

“Na época, eu trabalhava numa fábrica de pranchas e ofereci a eles um projeto de patrocínio para uma competição só de mineiros. Felizmente, eles toparam e, desde então, tem sido uma diversão”, conta o lojista. 





Vitor Shipiakoff, de 61 anos, o 'couro de sapo', foi campeão da última edição do Campeonato Mineiro de Surfe. (foto: Arquivo pessoal)


Desde 2001, os surfistas já organizaram doze disputas, realizadas em praias do Rio de Janeiro e do litoral de São Paulo. A última ocorreu em 2018. Kau diz que, em 2019, a empresa que costumava patrocinar o evento suspendeu a verba. As atividades seriam retomadas em 2020, mas os planos foram frustrados pela pandemia. 

O torneio é dividido em duas categorias: a Minas Minas, em que competem mineiros residentes no estado, e a Open Minas, que inclui os mineiros que moram no litoral. Os vencedores são laureados com troféus e ganham prêmios como pranchas, acessórios de surfe e hospedagens em hotéis. 

Um dos campeões da última edição é Vitor Shipiakoff, conhecido como “Couro de sapo”. O apelido é uma alusão à afinidade do empresário com a água gelada. “Eu sou o único que não usa roupa de neoprene para surfar nem quando está muito frio. Tem água, eu estou entrando”, relata o divinopolitano de 61 anos. 





Ele diz que costuma pegar ondas com os amigos a cada quarenta dias em praias da capital carioca, Cabo Frio (RJ), e Guarujá (SP). O surfista também se aventura no exterior, nas águas do Peru e da Nicarágua. 

Mineiro de BH, Josué Soares viajou até o Peru para surfar (foto: Arquivo pessoal)


Um dos companheiros de viagem de Vitor é Josué Soares, de 31 anos. Em 2019, a dupla viajou para a cidade de Puerto Malabrigo, no norte do Peru, onde viveram uma experiência que o rapaz descreve como inesquecível. 

“Conseguimos pegar a famosa onda chicana, que é a onda e esquerda mais longa do mundo, com 3 km de extensão. Demos muita sorte! Ficamos mais de sete meses vigiando promoção de passagens de avião, além do comportamento do mar, mas valeu muito a pena”, relembra o belo-horizontino, que é bombeiro militar. 





Assim como Vitor, ele diz que costuma surfar ao menos uma vez por mês. “Não tem como ficar longe da água salgada por muito tempo. Para você ter uma ideia, toda vez que eu vejo um carro da Cemig com uma escada, eu enxergo um carro carregando uma prancha! Surfe é mais do que um esporte, é um estilo de vida. Todo surfista é um tanto fissurado com a atividade”, entusiasma-se o bombeiro que, frequentemente, encara viagens de mais de 600 quilômetros no fim de semana apenas para surfar. “As vezes faço um bate-volta de ônibus mesmo. Vou na sexta e volto no domingo à tarde para trabalhar na segunda”. 

Água doce

O surfista Paulo Guido aproveita as cheias Rio Doce para praticar surfe (foto: Douglas Magno/AFP)


Kau Cavalcanti já faz planos de retomar o campeonato após a pandemia. A próxima edição deve ocorrer em Governador Valadares, nas águas do Rio Doce. Segundo o empresário, durante o período de cheias, o rio tem águas revoltas capazes de desafiar até mesmo surfistas experientes. 

“Tem um mineiro que surfa nesse rio que admiro muito, o Paulo Guido. Confesso que tenho um pouco de medo do Rio Doce. Já peguei onda na Indonésia, mas ainda não tive coragem de surfar em Valadares! O mar, por mais perigoso que seja, eu conheço. Sei para onde ele vai me jogar, como eu vou cair e como sair de situações difíceis. Já os rios são um mistério. Esse campeonato em Valadares, com certeza, vai ser muito desafiador", avalia o surfista. 

audima