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Estado de Minas PÓ DE MINÉRIO

Nuvem de poeira encobre Congonhas e revolta: 'Muito ruim abrir os olhos'

O fenômeno é recorrente nos meses de inverno, mas nunca foi visto com tanta intensidade e duração, segundo os moradores; MP foi acionado


30/07/2021 19:50 - atualizado 02/08/2021 17:38

Cidade de Congonhas na última quarta-feira (28/7), quando uma nuvem de poeira atingiu a cidade(foto: Hugo Cordeiro/Arquivo pessoal )
Cidade de Congonhas na última quarta-feira (28/7), quando uma nuvem de poeira atingiu a cidade (foto: Hugo Cordeiro/Arquivo pessoal )
O céu da cidade histórica de Congonhas está sendo tomado por uma nuvem de poeira. O fenômeno causado pelo pó de minério das atividades mineradoras nunca teve tamanha intensidade, durando até 4h, segundo moradores. O Ministério Público foi acionado nesta semana para punir os responsáveis pela poluição.

 

“Parece que a cada ano isso vem com mais frequência. As nuvens que antes duravam 20 minutos, agora duram três, quatro horas. Fica muito ruim abrir os olhos quando o vento bate”, relata o morador Hugo Cordeiro, de 28 anos, ao reforçar que a nuvem de poeira ocorre durante o inverno na cidade há mais de uma década.
 
Mesmo com o incômodo e a sujeira, a principal preocupação é com a saúde dos moradores. "É uma coisa invisível, você vai tendo problemas com a respiração e percebe ao longo da vida. A população está respirando isso. É um problema maior até que a própria barragem. Se ela estourar, ela mata ‘à vista’, a poeira vai matando ‘a prazo’", afirma o residente.
 
Os congonhenses desconfiam que a intensidade jamais vista da nuvem seja resultado do trabalho das mineradoras. "Tem uma novidade que é o empilhamento de rejeitos a seco. O que era barragem, a partir desse ano, passou a empilhar a seco", afirma Sandoval Souza, diretor de meio ambiente e saúde da União de associações comunitárias de Congonhas.

"É um pátio bem grande (onde fica o rejeito de minério). Então está tudo se somando, o preço do minério também está muito alto, eles estão com a produção alta", explica.
 
Em nota, a Vale informa que não foram identificadas anormalidades em suas operações em Congonhas e região nesse período. As estações automatizadas de monitoramento de qualidade do ar registraram dados dentro dos padrões legais na semana anterior. Os controles operacionais para redução de material particulado estão funcionando normalmente nessas unidades. 
 
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Congonhas informou, por meio de nota que, "no dia 28 de julho de 2021 houve uma nuvem de poeira que atingiu áreas habitadas do município. No início da manhã percebemos a emissão e a dispersão do material particulado, momento este que, imediatamente, entramos em contato por telefone com as empresas para que as medidas de mitigação para o controle de dispersão de particulados fossem imediatamente intensificadas. Além disso, a fiscalização ambiental se deslocou até o local para a verificação do fato no qual foi lavrado os autos de infração.
 
Ressalta-se, que a Secretaria de Meio Ambiente, desde maio de 2021, por meio de ofícios e reuniões com as empresas, vem desenvolvendo um trabalho em busca de um efetivo Controle Ambiental Municipal. No dia 01 de junho, as mineradoras instaladas nas proximidades da Serra Casa de Pedra receberam recomendações para que houvesse a intensificação das medidas de controle de emissão e dispersão de material particulado no período de seca. Nos meses de maio e junho foram realizadas diversas reuniões com as transportadoras para adotarem medidas de contenção de emissão de poeira."
 
O Estado de Minas questionou também a mineradora CSN sobre a nuvem de poeira. No entanto, nenhum retorno foi obtido. Tão logo a empresa responda as questões, esta reportagem será atualizada.
 

Pedido de punição

 
Na quarta-feira (28/7), o tamanho e a duração - entre o fim da manhã e o meio da tarde - de uma nuvem assustou os moradores. O diretor das associações, então, fez uma representação ao Ministério Público para pedir punição às secretarias de meio ambiente municipal e estadual. Antes, na semana passada, já tinha acionado o órgão. 
 
“Com base no que aconteceu ano passado, quando eles falaram que iam fazer uma força-tarefa para melhorar a situação, fizemos uma representação preventiva. O objetivo é que o MP apure o que eles têm feito para evitar o problema”, explica Sandoval Souza.
 
O líder é um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas e acredita que essa entidade pode ajudar em causas como esta. “Agora vamos partir para a filiação estadual. O objetivo é a preservação da cidade como um todo, da cultura, meio ambiente, turismo, história e resguardo de documentos”. 
 
Enquanto isso, os moradores sofrem - e ficam preocupados - com a sujeira lançada nas residências. “Você limpa e no dia seguinte já está tudo cheio de poeira", afirma Hugo Cordeiro.  
 
*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Ricci
 


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