As manobras radicais executadas com perfeição pela garota de 35 quilos e milhões de seguidores nas redes sociais brilham nos olhos de toda uma geração de meninas que, ao vê-la no pódio, se viram também como atletas possíveis.
Muitas deslizam nas pistas, ruas e praças de Belo Horizonte – desde a vitória de Rayssa, mais motivadas e confiantes para conquistar espaço num esporte ainda tão dominado pelos homens.
Algumas já trilham o caminho do skate profissional, com títulos e troféus na bagagem. Outras se equilibram há pouco tempo nas pranchas urbanas, mas já sonham em voar alto como a fada maranhense.
Algumas já trilham o caminho do skate profissional, com títulos e troféus na bagagem. Outras se equilibram há pouco tempo nas pranchas urbanas, mas já sonham em voar alto como a fada maranhense.
“Me vejo na próxima olimpíada”
Oitava no ranking infanto-juvenil nacional feminino de skatistas, Iandra Gomes, de 15 anos, é uma das campeãs inspiradas por Rayssa, que ela define como “muito incrível”. Segundo a jovem, a admiração pela medalhista é antiga, começou bem antes dos jogos olímpicos deste ano. “Eu a acompanho faz muito tempo. Já a tinha visto competir em outros campeonatos, inclusive pessoalmente. Rayssa é muito maravilhosa”, elogia a estudante.Ver a fadinha conquistar a medalha de prata, descreve Iandra, foi como uma “vitória pessoal”. “Trouxe muito orgulho e muita felicidade para todas nós do skate feminino. Imagina, foi uma medalha para o Brasil conquistada por uma menina de 13 anos, num esporte que ainda é tão masculino. Você tem noção do que é isso? Do que isso significa para nós, mulheres skatistas?”, entusiasma-se a garota. Cheia de autoestima, com postura de vencedora, ela projeta onde quer estar daqui a quatro anos. “Com certeza, na próxima olimpíada”.
Disciplinada, Iandra conta que recebe patrocínio para treinar e leva o esporte muito a sério. Nota-se pela desenvoltura com que ela percorria as pistas do Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado, na Região da Pampulha, na tarde de quinta-feira (29/7).
Parte do talento, garante a skatista, está no DNA, já que o pai dela, o engenheiro civil Vladmir Gomes, também é um craque das pranchas.“Meu pai é outra pessoa que me inspira. Eu já vi muitos vídeos dele praticando quando tinha a minha idade, ele andava muito, num nível a que, um dia, eu ainda quero chegar”, sonha a atleta, que se dedica à modalidade vertical skate – aquela praticada em rampas íngremes.
Entre as manobras mais desafiadoras, ela cita a invert, na qual o skatista sobe até a borda da pista e fica de ponta cabeça usando apenas uma das mãos. Nenhum movimento radical, contudo, parece mais difícil do que lidar com o machismo no esporte. Aos 15 anos, Iandra já perdeu a conta de quantas vezes teve que enfrentar o desagradável comportamento.
“Com 12 anos, eu já sofria com o machismo por estar num esporte que é mais praticado por meninos. Várias vezes já me disseram que eu não ia conseguir fazer uma certa manobra ou atividade porque eu era menina”, queixa-se.
“Com 12 anos, eu já sofria com o machismo por estar num esporte que é mais praticado por meninos. Várias vezes já me disseram que eu não ia conseguir fazer uma certa manobra ou atividade porque eu era menina”, queixa-se.
“Fora que é muito chato, numa pista pública, não ter um banheiro. A gente não pode trocar de roupa em qualquer lugar. Não pode nem tirar a blusa, mesmo estando de top. Usar um short é difícil. Dependendo da manobra, a gente fica exposta, tem menino que fica comentando. Outra coisa muito ruim são os ‘assuntos desnecessários’ que os homens ficam conversando perto da gente ou com a gente mesmo”, emenda a jovem, referindo-se a comentários obscenos ou que tratam das mulheres com desrespeito.
"Eu posso sim"
As conquistas de Rayssa Leal também pavimentam os caminhos de Sofia Dias, de 12 anos, que pratica skate desde 2018. A timidez da adolescente contrasta com o jeito destemido com que ela “surfa” em ladeiras e salta obstáculos sobre rodas.Praticante da modalidade vertical bowl – com pistas em formato de piscinas profundas e redondas –, Sofia gosta de manobras complicadas, na execução e na nomenclatura (ao menos para os leigos no assunto). Entre as preferidas, ela enumera o feeble (deslizar o skate nas bordas da pista), ollie (quando o praticante e o skate saltam para o ar sem o uso das mãos), e o frontside rock n’roll (quando o skatista empurra as rodas da frente para as bordas da pista, para, por alguns segundos, dar um giro de 180 graus e seguir deslizando).
A garota já disputa campeonatos e coleciona alguns prêmios. Com a vitória de Rayssa em Tóquio, ela diz que passou a sonhar em ir mais longe. “A vitória dela significou muito. Não foi uma vitória só dela, foi de todas as meninas que andam de skate. Nessa olimpíada, ela, com certeza, influenciou muita gente, mais do que já influenciava. Para mim, ficou a confiança de que eu posso, sim, ser uma atleta. Quem sabe na próxima olimpíada eu também não esteja lá no pódio?”, desafia-se a menina.
A garota já disputa campeonatos e coleciona alguns prêmios. Com a vitória de Rayssa em Tóquio, ela diz que passou a sonhar em ir mais longe. “A vitória dela significou muito. Não foi uma vitória só dela, foi de todas as meninas que andam de skate. Nessa olimpíada, ela, com certeza, influenciou muita gente, mais do que já influenciava. Para mim, ficou a confiança de que eu posso, sim, ser uma atleta. Quem sabe na próxima olimpíada eu também não esteja lá no pódio?”, desafia-se a menina.
Além de troféus, o skate rendeu à garota alguns tombos, dos quais ela se lembra com bom humor. “Por incrível que pareça, o pior deles não foi em nenhuma competição ou pista. Foi quando estava só brincando, descendo uma rampa que tem na minha casa. Estava chovendo e o skate, se molhar, estraga. Então, para desviar da chuva, eu subi numa poltrona que estava no corredor. Acabei caindo e batendo a cabeça. Tive que ir para o hospital de ambulância, fiz tomografia e tudo mais. Ainda bem que não foi nada grave no final. Hoje, eu acho graça, mas, na hora, foi tenso!”, relembra a skatista.
"São muitas emoções"
Rafaela Diniz, de 9 anos, é “radical” até mesmo no penteado. Com a lateral do cabelo raspada, a garota cheia de estilo começou a andar de skate há seis meses. Articulada, a menina é fã da modalidade street – a mesma de Rayssa Lea –, praticada em pistas que simulam a arquitetura da cidade. Ela diz que ainda não decidiu se pretende se profissionalizar no esporte, mas certamente já aprendeu muito com ele.
“As vezes eu sinto medo, principalmente quando faço um movimento mais perigoso. E eu caio bastante, né? Todo mundo que pratica cai. Com isso, passei a ter menos medo de errar. Mas o mais importante é que eu me divirto muito! No skate, são muitas emoções o tempo todo!”, filosofa a garota.
“As vezes eu sinto medo, principalmente quando faço um movimento mais perigoso. E eu caio bastante, né? Todo mundo que pratica cai. Com isso, passei a ter menos medo de errar. Mas o mais importante é que eu me divirto muito! No skate, são muitas emoções o tempo todo!”, filosofa a garota.
Para ver Rayssa competir na olimpíada, Rafaela diz que ficou acordada até 2h da madrugada e vibrou intensamente com a medalha de prata conquistada pela atleta. “Fiquei muito feliz quando ela ganhou. Admiro muito a Rayssa, ela nunca desiste! Durante a olimpíada, ela caiu várias vezes. Mas ela se levantou, sacudiu a poeira e seguiu em frente”, diz a estudante, que também se inspira nas skatistas Letícia Bufoni a Pamela Rosa.
Esbanjando espírito esportivo, ela incentiva aqueles que ainda não se arriscam nas pranchas urbanas. “O mais legal no skate é que é um esporte para todo mundo. Qualquer um pode andar de skate. Até meu pai que já tem 42 anos anda!”.
Esbanjando espírito esportivo, ela incentiva aqueles que ainda não se arriscam nas pranchas urbanas. “O mais legal no skate é que é um esporte para todo mundo. Qualquer um pode andar de skate. Até meu pai que já tem 42 anos anda!”.
Meninas do skate
Cinco jovens skatistas do cenário nacional e internacional da modalidade
Rayssa Leal
Prata em Tóquio, Rayssa Leal, 13 anos, ficou famosa aos 7, quando um de seus vídeos andando de skate vestida de fadinha foi postado pelo Tony Hawk, uma das maiores estrelas do esporte. Além da medalha olímpica, a menina de Imperatriz (MA) acumula conquistas em competição internacionais como Street League Skateboarding Championship e Campeonato Mundial de Skate.
Leticia Bufoni
Aos 28 anos, Letícia bufoni é o maior nome brasileiros no street mundial. Aos 14 anos, a paulista mudou-se para Los Angeles, na Califórnia, onde tornou-se skatista profissional. Além de ser maior medalhista e vencedora da história do skate de rua no X Games - os jogos olímpicos dos esportes radicais - , Letícia foi protagonista do reality show Letícia Let's Go, no Canal Off, e virou personagem do jogo de videogame Tony Hawk's Pro Skater 5.
Isadora Pacheco
Aos 15 anos, Isadora é destaque das competições nacionais e internacionais. Desde os nove anos, compete no Circuito Brasileiro de Skate na modalidade Bowl/Skate Park. Atualmente é a oitava colocada no ranking da World Skate. A jovem também comanda o programa Partiu Skate do Canal Off.
Dora Varella
Com 19 anos, Dora Varella é atualmente sexta colocada no Ranking Olímpico da World Skate. O esporte radical entrou na vida da jovem quando ela tinha 10 anos e pediu skate para a avó no Natal. O talento da garota foi descoberto pelo pai, que a incentivou a treinar em pistas e a participar de competições.
Gabriela Mazetto
Gabriela Pereira Mazetto, de 23 anos, é de Praia Grande, litoral paulista. Ela começou no esporte aos 13 anos. Craque da prancha urbana, ela já conquistou medalhas em vários eventos internacionais como Oi STU Open e o mundial da China.