Depois de longos cinco anos, os servidores públicos do estado de Minas Gerais voltaram a receber o salário integral, no quinto dia útil, nesta sexta-feira (6/8). O feito foi muito comemorado entre os funcionários, que se endividaram e passaram por grandes inseguranças nesse período.
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Zema anuncia pagamento dos salários dos servidores públicos para sexta (6)BH tem queda nas mortes de idosos por COVIDBH: veja locais de vacinação para mulheres de 34 anos neste sábado (7/8)"Eu entrei em 2014 e dois anos depois a gente passou receber parcelado. Acho que o momento mais crítico foi no início, porque precisamos nos adaptar e não sabíamos de onde tirar o dinheiro para pagar as despesas que a primeira parcela não dava conta de cobrir", disse.
Para não ficar no vermelho, ela precisou usar a reserva de dinheiro que tinha feito para outros planos pessoais.
"Eu sempre fui muito organizada e o que me ajudou foi ter uma reserva financeira. Tinha reservado para outros planos pessoais e precisei tirar disso para pagar as contas fixas, que não tinham como alterar data. Deu para mudar o vencimento do cartão de crédito, telefone e internet. Mas, água, luz e IPTU não tinha jeito".
"Eu sempre fui muito organizada e o que me ajudou foi ter uma reserva financeira. Tinha reservado para outros planos pessoais e precisei tirar disso para pagar as contas fixas, que não tinham como alterar data. Deu para mudar o vencimento do cartão de crédito, telefone e internet. Mas, água, luz e IPTU não tinha jeito".
No início do parcelamento, as dificuldades também foram grandes para o professor da rede estadual Márcio Antônio de Castro, de 51 anos.
"Eu lembro que o parcelamento foi na época do Pimentel . Começou atrasando e depois passaram a parcelar. No início foi muito difícil, porque nossa vida financeira já estava organizada de acordo com o pagamento", afirmou.
"Eu lembro que o parcelamento foi na época do Pimentel . Começou atrasando e depois passaram a parcelar. No início foi muito difícil, porque nossa vida financeira já estava organizada de acordo com o pagamento", afirmou.
Márcio tinha efetivado um plano há pouco tempo, quando começou a receber o salário parcelado.
"Eu tinha apartamento para pagar, não dava para ficar negociando muito. Isso foi bem complicado. Inclusive, sei que boa parte dos servidores pegou empréstimo. Eu consegui alterar todos os vencimentos de cartões e do boleto da outra faculdade que estava cursando, mas financiei o apartamento pela Caixa, não dava para atrasar parcelas", explicou o professor.
"Eu tinha apartamento para pagar, não dava para ficar negociando muito. Isso foi bem complicado. Inclusive, sei que boa parte dos servidores pegou empréstimo. Eu consegui alterar todos os vencimentos de cartões e do boleto da outra faculdade que estava cursando, mas financiei o apartamento pela Caixa, não dava para atrasar parcelas", explicou o professor.
Dívidas
Ao longo dos anos, tanto o Márcio quanto a Paula conseguiram formas para não fazer dívidas. Porém, esse caminho não apareceu para todos os servidores públicos de Minas, como aconteceu com a professora de educação física Joseline de Andrade, de 41 anos.
Ela precisou fazer diversos empréstimos para pagar suas contas, entretanto, o que era uma ajuda acabou virando pesadelo. Além de não pagar as contas nas datas de vencimento, os juros iam aumentando e novos empréstimos eram feitos para tentar pagar a dívida anterior.
"Bola de neve. É isso que viram as contas quando você não pode contar com seu próprio pagamento. As contas vão chegando e com prazos. Nesses anos, precisei fazer empréstimo. Um não, vários, no plural mesmo. Foram contas atrasadas, juros e aluguel. É muito complicado trabalhar e não saber se vai receber", desabafou a servidora.
Em meio à crise financeira, a saída para Joseline foi montar o próprio negócio, para completar a renda como professora. Ela e o marido, Samuel Almeida, abriram uma marcenaria no fim de 2016, logo após o parcelamento de salários ter início.
"Abrir a marcenaria e, com certeza, ajudou muito. Se não fosse esse trabalho extra que temos, a gente não ia dar conta. Meu marido saiu do emprego há dois anos e fica por conta da marcenaria. E eu ajudo quando não estou dando aula" explica Joseline.
Como começou o parcelamento
Em janeiro de 2016, a primeira folha de pagamento dos servidores públicos de Minas Gerais foi feita com um aviso: a partir de fevereiro do mesmo ano os salários seriam escalonados.
Os vencimentos de até R$ 3 mil seriam pagos no quinto dia útil, enquanto quem ganhava até R$ 6 mil iria receber duas parcelas. Já os servidores com salário superior a R$ 6 mil receberiam de três vezes.
Os vencimentos de até R$ 3 mil seriam pagos no quinto dia útil, enquanto quem ganhava até R$ 6 mil iria receber duas parcelas. Já os servidores com salário superior a R$ 6 mil receberiam de três vezes.
Toda a mudança foi feita pelo ex-governador Fernando Pimentel (PT), durante uma situação considerada emergencial, devido à crise enfrentada pelo poder Executivo estadual.
No início, a previsão era que os salários fossem divididos apenas por 90 dias, mas somente em agosto de 2021 todo o funcionalismo voltou a receber integralmente.
No início, a previsão era que os salários fossem divididos apenas por 90 dias, mas somente em agosto de 2021 todo o funcionalismo voltou a receber integralmente.
Quando eleito, o atual governador Romeu Zema (Novo) afirmou que chegaria as contas do estado 'no lugar'. Durante dois anos e meio de mandato, ele permaneceu parcelando os salários, porém, com a chegada da pandemia, os servidores da saúde e segurança passaram a receber o valor integral.
Ainda assim, faltavam mais de 300 mil servidores para serem pagos da mesma forma. Até que em 19 de julho deste ano, o anúncio que muitos queriam ouvir foi feito.
"Depois de cinco anos e meio, acabou o pesadelo do funcionário público de Minas Gerais. A partir deste mês de agosto, todo funcionário passará a receber no quinto dia útil. Nós estamos aqui arrumando a casa, equilibrando as contas. E eu fico muito satisfeito. Agora que estamos colocando o trem em cima dos trilhos, vamos acelerá-lo", disse o governador em uma sequência de vídeos publicados em rede social.
A certeza da notícia também foi dada por Zema no início de agosto. Através do Twitter, ele confirmou que os pagamentos seriam feitos de forma integral, para todos os servidores, nesta sexta (6/8).
"Atenção para a escala de pagamento de agosto dos servidores públicos de Minas: todos receberão integralmente no dia 06, próxima sexta. Depois de mais de 5 anos de atraso e parcelamentos, o salário dos servidores será pago no 5º dia útil do mês a partir de agosto", dizia na mensagem.
Alívio e segurança
Com o salário na conta, os servidores voltaram a pensar nos planos guardados há anos e que precisavam da segurança financeira para serem realizados.
"Não cheguei a fazer dívida de cartão ou empréstimo. Eu tive o benefício de já ter quitado bens, como o carro. Com o pagamento em dia, conseguimos olhar pra frente com mais garantia financeira para tomar uma decisão. Agora posso pensar nos planos de casamento com mais segurança", afirma a servidora Paula Oliveira.
"Não cheguei a fazer dívida de cartão ou empréstimo. Eu tive o benefício de já ter quitado bens, como o carro. Com o pagamento em dia, conseguimos olhar pra frente com mais garantia financeira para tomar uma decisão. Agora posso pensar nos planos de casamento com mais segurança", afirma a servidora Paula Oliveira.
Já a professora Joseline de Andrade pretende fazer uma reserva de emergência, para evitar novas surpresas.
"Ter o salário no prazo vai ser uma diferença muito grande. Saber quando vamos receber é essencial. O objetivo agora é fazer uma poupança, mesmo estando apertada, para evitar que outros imprevistos me peguem na saia justa".
"Ter o salário no prazo vai ser uma diferença muito grande. Saber quando vamos receber é essencial. O objetivo agora é fazer uma poupança, mesmo estando apertada, para evitar que outros imprevistos me peguem na saia justa".
"Terminei de pagar minha última negociação há dois meses. Cada dívida quitada é uma benção, foram anos assim. O parcelamento nos deixou na mão demais, mas agora é uma fase nova, vamos ver como vai ser", disse a professora.
Paula tirou uma lição importante durante os anos de parcelamento. "Conseguimos aprender muito sobre planejamento e como se auto gerenciar nos momentos de crise", finaliza a servidora pública.
*Estagiária sob supervisão do editor Álvaro Duarte