Jornal Estado de Minas

PATRIMÔNIO

Igrejinha do Ó, em Sabará, será reaberta na quinta-feira


Caminho da fé, livre e desimpedido, para brasileiros e estrangeiros visitarem um dos templos barrocos mais importantes de Minas e originais do país. Após um ano e seis meses fechada em decorrência da pandemia, a Igreja Nossa Senhora do Ó, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, reabrirá na próxima quinta-feira (12/8), informa o titular da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, padre Eribaldo Pereira dos Santos.




 
Interior da igreja, considerada uma das 10 mais bonitas do país pela agência espanhola Civitatis (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 26./5/21)
Considerada uma das 10 igrejas mais bonitas do país pela agência espanhola Civitatis, conforme o Estado de Minas divulgou em 30 de maio, a Nossa Senhora do Ó abriga as famosas “chinesices”, alvo de constantes pesquisas e curiosas descobertas. Derivada da palavra francesa chinoiserie, chinesice se refere ao conjunto de pinturas que recriaram, no século 18, em igrejas e capelas de Minas, os pagodes ou pagodas (tipo de torre com fins religiosos, comuns na China e outros países da Ásia), além de animais e paisagens.
 
“Assim que saiu a reportagem, muita gente começou a nos telefonar pedindo para visitar a Nossa Senhora do Ó, que está fechada desde março de 2020. Como a situação ficou mais tranquila em Sabará, onde foram reabertas as igrejas e capelas, resolvemos receber os turistas, seguindo, claro, todos os protocolos sanitários”, afirma o pároco. Na época da divulgação da lista da Civitatis, padre Eribaldo apontou outro sério motivo para o fechamento causado pelo coronovírus: com a queda na receita da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, à qual a Igrejinha do Ó se encontra vinculada, ficou impossível manter um funcionário no local.

REABERTURA Como parte das cerimônias de reabertura, haverá missa no sábado (14/8), às 19h30, presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de BH, dom Geovane Luís da Silva. “Duas vezes por mês, haverá missa, com número limitado a 18 pessoas. Da primeira celebração com o bispo auxiliar, participam fiéis da comunidade, e a capacidade está esgotada”, informa o pároco.




 
A construção do século 18 conhecida como Igrejinha do Ó e localizada no Bairro Nossa Senhor do Ó, a cinco minutos do Centro da cidade, ficará aberta aos turistas de quinta a domingo, das 9h às 12h e de 13h às 16h, sem necessidade de fazer reserva. O ingresso custará R$ 5. No último domingo de cada mês, ficará fechada à visitação.
 
Na manhã de ontem, as moradoras do Largo Nossa Senhora do Ó, Maria da Conceição do Carmo e Marilene de Oliveira, comentavam sobre a reabertura da igreja. “Estou satisfeita, pois ficou muito tempo fechada, né? Quanto mais aberta e arejada, melhor para preservar”, disse Maria da Conceição, que ajuda na conservação do templo. Marilene concordou e lembrou que muitos turistas chegam ao local e se decepcionam por não poderem visitar. Passando por ali com o filho Frederico, de 6 anos, todo encapotado devido ao frio matinal, a balconista Andréa Aparecida Ribeiro, que mora nas proximidades, se alegrou, afinal, “é muito triste ver as portas trancadas”.

DESTAQUES Das 10 igrejas brasileiras destacadas pela agência espanhola Civitatis como as mais bonitas do Brasil, mais três enriquecem o patrimônio de Minas e do mundo, pois ficam em áreas reconhecidas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Uma dessas joias, integrante do acervo barroco de Ouro Preto, na Região Central do estado, é a Basílica Nossa Senhora do Pilar, que sobressai como uma das mais ricas em elementos artísticos do país. Também do século 18, o Santuário Basílica Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na Região Central, atrai gente de todo canto para ver os profetas esculpidos em pedra-sabão por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814). Da década de 1940, e de arquitetura moderna, está a Capela Curial São Francisco de Assis, mais conhecida como Igrejinha da Pampulha, em BH.




 
Quem chega a Sabará, que se tornou Vila do Ouro há 310 anos, tem muito para descobrir e se encantar, especialmente na Igreja Nossa Senhora do Ó, nome derivado das antífonas em louvor à Virgem Maria.
Conforme os estudos, devotos iniciaram em 1717 a construção da capela, sobre a qual persistem mistérios. Pesquisadores supõem que nela teriam trabalhado artesãos vindos das possessões portuguesas no Oriente, e que o pintor Jacinto Ribeiro seja o autor das “chinesices” no interior. Documento datado de 1721 se refere ao artista como natural da Índia e morador da capitania das Minas desde 1711.
 
No templo, se destacam paredes revestidas de painéis emoldurados e teto em caixotões também com moldura. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), são 15 painéis com pintura decorativa em ramagens e cartelas contendo símbolos da Virgem Maria, enquanto nas paredes laterais se encontram 14 painéis com pinturas figurativas alusivas ao nascimento e à infância de Cristo.




 
Também o arco-cruzeiro, com trabalhos em talha dourada, apresenta pintura em pequenos painéis em moldura octogonal, em estilo e motivos chineses, delicadamente pintados em ouro sobre azul, além de painéis no forro sobre a vida de Maria e, nas paredes laterais, cenas diversas alusivas à sagrada família.
 
Especialistas explicam que “a unidade decorativa do seu interior advém, principalmente, da harmonia conferida pelos elementos de policromia, o ouro, o vermelho e o azul, de gosto orientalizante, inspirado talvez na louça de Macau (China), largamente usada no Brasil naquela época”.
Brasileiros e estrangeiros se impressionam com as chinesices do templo barroco, que incluem até santos com olhos puxados. Segundo levantamento do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), chinesices podem ser contempladas também na Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Sabará, e em outras cidades mineiras, a exemplo de Mariana, Catas Altas e no distrito de Cocais, em Barão de Cocais.

SERVIÇO


Igreja Nossa Senhora do Ó, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte

. Aberta a partir de 14 de agosto, de quinta a domingo, das 9h às 12h e das 13h às 16h, sem necessidade de fazer reserva

. O ingresso custará R$ 5. No último domingo de cada mês, ficará fechada à visitação




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