A lentidão no processo de vacinação no Brasil vai dando espaço ao sopro da esperança. Municípios mineiros concluem ou estão a um passo de fechar a aplicação da primeira dose contra a COVID-19 em toda a população adulta. O entusiasmo que possibilita o avanço da imunização também permite vislumbrar o controle da pandemia. Esperança é exatamente a palavra usada por Fernanda Abadia Couto, de 18 anos, para descrever o sentimento ao receber a primeira dose. De Santo Antônio do Monte, município com quase 30 mil habitantes no Centro-Oeste de Minas, ela foi imunizada ontem. A mais de 230 quilômetros de distância de Samonte, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, outro município já vacina pessoas com 18 anos: Confins. No Vale do Mucuri, Nanuque celebra o feito e, no Sul de Minas, Natércia faz o mesmo hoje.
Enquanto algumas cidades começam a vacinar pessoas de 18 anos ou na faixa próxima aos 20,outras aplicam a primeira dose em moradores com idades em torno dos 30. Nesse último caso estão, por exemplo, Unaí, na Região Noroeste, Timóteo, no Vale do Rio Doce e Sete Lagoas, na Região Metropolitana de Em Belo Horizonte (RMBH). Na capital mineira, as doses de hoje são destinados justamente a quem tem essa idade e amanhã a capital passa para a geração seguinte, vacinando os de 29 anos.
A vizinha Betim, na RMBH, vacina entre hoje e amanhã moradores de 30 a 34, mas também, paralelamente, adolescentes de12 a 17 anos com comorbidades, deficiência permanente ou grávidas, lactantes e puérperas dessa faixa etária. A vacinação dos adolescentes com deficiência permanente e com comorbidades foi autorizada pela Lei 14.190, de 29 de julho, embora o Ministério da Saúde ainda não esteja recomendando a imunização desse grupo. A vacina utilizada será a da Pfizer, única autorizada pela Anvisa para uso em adolescentes acima de 12 anos.
O avanço da vacinação em cada um dos municípios depende da disponibilidade de doses, que são entregues pelo Ministério da Saúde aos governos estaduais e por esses às cidades. O tamanho dessa população em cada um dos municípios e dos grupos prioritários nela inseridos – profissionais de saúde, educação e transporte, forças de segurança, pessoas com comorbidades, grávidas e puérperas, entre outros – é decisivo para ritmo da imunização dos moradores em geral, que tem ocorrido em ordem decrescente de idade, segundo as normas acordadas pelos setores de saúde das três esferas da Federação. Entretanto, não é o único. O esforço local também pode fazer, e faz, a diferença.
Busca ativa
Para a pequena Natércia, cidade de 5 mil habitantes no Sul de Minas, esse esforço foi decisivo, segundo a prefeitura. O município, que vacina hoje com a primeira dose moradores de 18 anos, chega à marca por meio de um plano estratégico montado com o objetivo garantir que todos recebessem as doses o mais rápido possível. “Trabalhamos desde o início da campanha com a estratégia de saúde da família com toda a equipe. Monitoramos todo o processo. Caso a pessoa não comparecesse, nossa equipe ia atrás para saber o que houve. Quando a pessoa não aceitava a vacina, a gente explicava sua importância e acabamos sensibilizando a todos. Tivemos uma adesão muito boa da população. Também não tivemos perda de nenhuma dose no município”, explica Vivian Androsina, secretária municipal de Saúde.Natércia tem 4.812 habitantes e, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG), o município aplicou 3.794 primeiras doses, com 100% de cobertura, 1.454 na segunda e 75 doses únicas de vacinas contra a COVID-19. “Com a segunda dose, já vacinamos a população idosa, comorbidades e algumas pessoas entre 30 e 36 anos, que receberam a CoronaVac, com um intervalo de tempo menor entre as doses”, informa. Natércia registrou 434 casos positivos do novo coronavírus e oito mortes confirmadas pela doença.
Ansiedade
Santo Antônio do Monte, por sua vez, é a primeira da região a ampliar a vacinação para jovens a partir de 18 anos. Sem esconder a ansiedade, Fernanda Couto chegou ainda cedo para ser imunizada. “É a nossa esperança de voltar tudo ao normal”, afirmou. Para chamar a atenção para a causa, ela vestia uma camisa em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS).Para possibilizar a ampliação do público, a prefeitura de Santo Antônio do Monte criou um ponto de vacinação exclusivo para COVID-19. Outra medida foi a compra de seringas específicas, o que fez com que a perda técnica, com restos em frascos, fosse zerada.
"Normalidade"
Com expectativa de encerrar o ciclo até a próxima semana, o prefeito Léo Camilo (Avante) comemora e fala em “normalidade”. “As pessoas terão sua vida e cotidiano de volta”, celebrou. Os sinais de esperança podem ser vistos pelos indicadores. Em março, quando a pandemia atingiu o pior momento, a cidade registrou 35 mortes. Esse número caiu para seis em julho. Em agosto, até o momento, nenhuma vida foi perdida em decorrência da doença. As confirmações de novos casos positivos também caíram. Passaram de 721, em março, para 192 em julho.O município do Centro-Oeste vai estudar a possibilidade de avançar para a faixa etária inferior aos 18 anos, mas isso depende da disponibilidade da vacina Pfizer, a única aprovada para o grupo no Brasil. O boletim mais recente de Samonte, publicado na segunda-feira, aponta que já foram aplicadas 21.946 doses.
Festa
Em Nanuque, o início da vacinação de pessoas de 18 anos mereceu até solenidade da prefeitura. Jamylle Gomes Teixeira foi a primeira a receber a primeira dose da vacina nessa faixa etária. E comemorou muito. “Fiquei muito feliz, mas ao mesmo tempo, triste em pensar que muitas pessoas perderam a vida esperando por esse momento. Mas agora chegou a nossa vez. E todos os jovens devem se vacinar, porque somos o futuro do Brasil”, disse.Nanuque tem 40.665 habitantes (IBGE, 2020) e já vacinou 22.121 moradores com primeira dose, mais 760 com dose única. A SMS vacinou 6.250 com a segunda dose. “Hoje comemoramos o fato de sermos o primeiro município da região e um dos primeiros do Brasil a oferecer a vacina para toda a população acima de 18 anos. A vitória é de Nanuque, dos cidadãos e de todos os guerreiros da saúde”, disse o prefeito, Gilson Coleta Barbosa.
O secretário municipal de Saúde, Ricardo Viana, atribuiu o feito ao trabalho de sua equipe e ao apoio que recebeu da população. “Temos profissionais de saúde que são diferenciados, e um povo acolhedor, que cumpriu as nossas determinações”, disse.
Em Ipatinga, no Leste do estado, desde ontem, as pessoas com idade acima de 23 anos, sem comorbidades, estão recebendo a vacina contra a COVID-19. Outra cidade que avançou na região é Governador Valadares, onde moradores de 24 podem se vacinar hoje.
*Amanda Quintiliano, especial para o EM
Çampanha rompe distâncias
Nos pequenos municípios do Norte de Minas, profissionais de saúde enfrentam longas distâncias para imunizar moradores da zona rural. A situação é verificada em Botumurim (foto), de 6.288 habitantes, situado numa região de relevo acidentado, cortada pela Serra do Espinhaço, onde 48% da população vive na zona rural. O público-alvo no município é de 4.566 moradores, dos quais 2.876 (62%) já receberam a primeira dose da vacina contra o coronavírus e 1.108 (24%) receberam a segunda dose ou dose única. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), Botumirim, até então, teve 233 casos do coronavirus e quatro mortes provocadas pela doença. Na próxima segunda- feira, a prefeitura inicia a vacinação de pessoas de 30 anos. A cidade registrou 237 casos de COVID-19, com 19 mortes.