“Como a produtividade das plantas e o clima afetam as espécies de mamíferos e invertebrados?” Chaim Lasmar – pesquisador de pós-doutorado da Universidade Federal de Lavras (UFLA) – apoiou-se nessa indagação ao liderar a elaboração de um artigo que ganhou as páginas da revista "Oecologia", na Alemanha, na quarta-feira (11/8).
O trabalho – que foi lançado na versão on-line da publicação alemã, referência internacional em ecologia – recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO).
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Intitulado Temperature and productivity distinctly affect the species richness of ectothermic and endothermic multitrophic guilds along a tropical elevational gradient, o artigo analisou 307 espécies, sendo 286 de invertebrados ectotérmicos e outras 21 de grandes mamíferos endotérmicos.
O pesquisador Chaim Lasmar explica que foram usadas 400 armadilhas para capturar os invertebrados ectotérmicos. “As armadilhas ficaram em campo por 48 horas. Nós voltamos em todos os pontos e recolhemos todo o material. No laboratório, a gente identificou e separou as formigas, os besouros, os opiliões e as aranhas e depois mandamos para os taxonomistas, coautores do trabalho”, explica.
Em relação aos mamíferos, Chaim conta que foram instaladas 14 câmeras ao longo da montanha com o objetivo de fotografá-los e, posteriormente, catalogá-los. Mais de 20 pessoas – entre pesquisadores e professores da UFLA e contratados do parque – auxiliaram neste trabalho de campo realizado entre 2014 e 2015.
Os dados de temperatura e produtividade das plantas foram coletados com o auxílio de satélites da Nasa.
Resultados da pesquisa publicados no artigo
O estudo apontou que os animais ectotérmicos e endotérmicos, de diferentes níveis tróficos, responderam de forma diferente à variação de temperatura e produtividade. Esta última, para efeitos ecológicos, refere-se ao quanto de energia as plantas produzem para os animais consumirem.
Numa cadeia alimentar trófica há os produtores (geralmente plantas), os herbívoros e onívoros (nível trófico intermediário que pode assumir dietas herbívoras e de predadores) e os predadores.
“Para ectotérmicos, quanto maior o nível trófico dentro da cadeia alimentar, como os predadores que estão no topo, maior é a dificuldade para conseguir consumir a energia liberada pelas plantas no ecossistema”, aponta Chaim Lasmar durante entrevista ao Estado de Minas.
“Logo, o número de espécies de predadores ectotérmicos foi melhor explicado pela produtividade das plantas do que pelas mudanças na temperatura”, conclui.
Já para os endotérmicos, o estudo revela que apesar da produtividade ter influenciado positivamente o número de espécies de herbívoros, tal influência não se acumulou nos níveis tróficos maiores, como onívoros e predadores, assim como aconteceu com os animais ectotérmicos.
“Ao contrário do esperado, a temperatura influenciou mais o número de espécies de endotérmicos herbívoros e onívoros do que mudanças na produtividade. Nenhum dos fatores ecológicos em questão influenciou o número de espécies de predadores endotérmicos”, complementa.
“Isso pode ter acontecido devido ao fato de que mamíferos herbívoros e onívoros encontram sua alimentação nas plantas (folhas e frutos) e em insetos e todos são fortemente afetados pela temperatura”, pondera Chaim.
Como conclusão, o trabalho demonstrou que as diferenças do papel da temperatura e produtividade ao influenciar o número de espécies também se aplicam quando são comparados invertebrados ectotérmicos e vertebrados endotérmicos.
“Por fim, baseando-se nesses resultados, alertamos que a mudança da temperatura global, além de afetar fortemente os animais ectotérmicos, também impactará os animais endotérmicos, já que muitas das suas interações são com animais e plantas sensíveis à temperatura”, finaliza.
Coautores do artigo
Além do pesquisador Chaim Lasmar, que conduziu os trabalhos, a pesquisa também contou com a participação dos docentes da UFLA Carla Ribas, Júlio Louzada e Marcelo Passamani, professores no Departamento de Ecologia, e Letícia Vieira, do Departamento de Ciências Florestais.
Além disso, o trabalho contou com parcerias de pesquisadores e professores de outras instituições. Nesse sentido, também são coautores do trabalho Clarissa Rosa, pesquisadora no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Rodrigo Feitosa, professor na Universidade Federal do Paraná, e Antônio Brescovit, pesquisador no Instituto Butantan.