Cinco meses após receber recomendação da Defesa Civil de Diamantina para que deixasse o prédio imediatamente, diante dos riscos de desabamento ou incêndio, o Museu do Diamante (MD), enfim, começou a mudar de endereço, na segunda-feira (16). O casarão do século XVIII, que pertenceu ao Padre Rolim, também é a sede do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) na cidade.
O acervo, servidores e funcionários estão sendo transferidos para a Casa de Chica da Silva, sede do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/Diamantina), onde poderá ser visitado pelo público.
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Ainda segundo a equipe do museu, "foram realizadas tratativas junto ao Escritório Técnico do Iphan em Diamantina, visando a montagem de exposição temporária com peças do acervo do MD nas dependências da Casa de Chica da Silva, além da disponibilização de profissionais qualificados para a realização de mediação junto ao público, assim que for possível, e durante o período em que o casarão do MD permanecer interditado ou passando por obras."
Em nota da assessoria do Iphan em Brasília, a autarquia informou que possui um projeto de intervenção estrutural elaborado, cujo orçamento de R$ 700 mil "está em análise e aguardando disponibilidade orçamentária."
Diz ainda que parte do acervo a ser exposto na Casa Xica da Silva é resultado de "esforço para que não haja a interrupção do funcionamento do museu em suas atribuições, ainda que de modo reduzido e em outro endereço." E que o MD fez parceria com o Instituto Espinhaço, "para concorrer no edital da Vale Cultural a recursos para essa obra, usando o projeto desenvolvido pelo Iphan."
A Prefeitura de Diamantina não se manifestou e nem respondeu aos e-mails, mensagens e telefonemas da reportagem do Estado de Minas.
Museu é marco histórico em Diamantina
O Museu do Diamante, situado no centro de Diamantina e no início da Estrada Real, foi criado em 12 de abril de 1954, por Juscelino Kubitscheck. Atualmente é administrado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). A cidade é Patrimônio Cultural da Humanidade.
O casarão que abriga o MD remete a uma dimensão sociocultural regional e nacional: a Inconfidência Mineira (Conjuração Mineira), por ter sido residência do padre José da Silva e Oliveira Rolim.
Seu acervo é formado por objetos de estilos e tipologias diversas. Entre os objetos sob a guarda do museu, estão vasto acervo de numismática, mineralogia, além de instrumentos utilizados no processo de mineração do ouro e diamante, instrumentos de tortura e peças sacras, instrumentos musicais e utensílios utilizados pela côrte, que juntos compõem o quadro do que foi o processo de formação e ocupação do norte de Minas Gerais.
Além disso, o museu também possui um acervo fotográfico significativo para a história da cidade e seu entorno, composto por imagens de personalidades de Diamantina, das ruas, do casario e dos monumentos da cidade, bem como sobre a mineração e o garimpo na região.
Quem foi Padre Rolim?
A antiga residência do padre José da Silva e Oliveira Rolim está situada na Rua Direita, na área central. Seu amplo terreno de fundos, onde se localizava o Córrego do Tijuco, compõe uma das mais áreas livres do Centro da cidade, oferecendo uma interrupção no aglomerado construtivo, permitindo que se destaque o ritmo escalonado dos telhados e torres das igrejas na paisagem urbana.
Padre José da Silva e Oliveira Rolim nasceu no Arraial do Tijuco em 1747. Era filho de José da Silva e Oliveira, sargento-mor das Forças Auxiliares e caixa da Real Extração Diamantina, que tinha fortuna considerável, chegando a possuir diversos bens imóveis, lavras e escravos.
Envolvido na Inconfidência, Padre Rolim foi preso na Casa dos Contos e depois no Quartel de Infantaria de Vila Rica, tendo sido enviado para Lisboa em 1792, recolhido à Fortaleza de São Julião da Barra e depois ao Mosteiro de São Bento da Saúde.
Em 1804, foi autorizado a regressar ao Brasil, chegando ao Arraial do Tijuco em 1805. Tentou reaver os seus bens haviam sido confiscados, inclusive o prédio que foi vendido e arrematado por José Soares Pereira da Silva. Apesar de não ter readquirido a casa, foi indenizado. Faleceu em 1835 e foi sepultado na Igreja Nossa Senhora do Carmo, em Diamantina.