Vídeos inéditos de um 'surto' de meteoros único e inesperado que abrilhantou o céu de Minas foram divulgados nesta quinta-feira (19/8). O fenômeno não ocorria desde 2009 e pôde ser visto entre sexta (13/8) e sábado (14/8) em pontos diversos das Américas, inclusive em Patos de Minas.
As imagens que ainda não tinham sido publicizadas foram, inclusive, gravadas da casa de um astrônomo amador na cidade do Alto Paranaíba. Conhecida como chuva de meteoros, a passagem de corpos celestes surpreendeu especialistas: tanto pelo dia quanto pelo volume.
Isso porque o 'surto' estava previsto para ocorrer nas noites dos dias 11 e 12 de agosto. A passagem até aconteceu nesses dias, mas, na madrugada de sábado (14/8), o volume foi mais de seis vezes superior.
No Canadá, foram registrados 449 meteoros em um período de três horas. Estações da América do Norte chegaram a registrar uma média de 210 meteoros por hora. Já no Brasil, essa média por hora foi de 145 - sendo que um dos pontos de observação ocorreu em Patos de Minas.
Meteoros Perseidas
Esse fenômeno registrado no último fim de semana é chamado chuva de meteoros Perseidas. “Esses meteoros parecem vir da direção da constelação de Perseu. Por isso, tem esse nome: quando aparecem no céu, é justamente no ponto da constelação de Perseu”, explica Marcelo Zurita, diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON).
A chuva, explica o diretor, é formada quando a Terra atinge a trilha de detritos do cometa 'swift-tuttle' (junção dos sobrenomes dos cientista que descobriram esse tipo de cometa: Lewis Swift e Horace Parnell Tuttle). Esses detritos são pequenas partículas do tamanho de um grão de areia capazes de gerar os meteoros.
“Os meteoros surgem quando poeira ou mesmo pequenos asteroides adentram a atmosfera. Grande parte das chuvas de meteoros são geradas por cometas, e os cometas são corpos celestes instáveis. Rupturas e quebras acabam gerando quantidades de partículas que são difíceis de mensurar", explica o pesquisador e astrônomo amador da BRAMON, Lauriston Trindade.
Os primeiros registros da chuva Perseidas vêm dos chineses, por volta de 36 d.C., quando mais de 100 meteoros foram vistos no final de uma madrugada de agosto.
São perigosos?
Apesar do volume impressionante no céu, pode ficar despreocupado. A chuva Perseidas é gerada por material proveniente de cometas, ou seja, essas partículas são pouco densas, sendo totalmente consumidas em uma altitude de mais de 80km. Dificilmente algum material sobrevive à passagem na atmosfera e, portanto, a chance de atingir pessoas ou prédios é mínima.
Os cientistas, no entanto, não esperavam tal chuva no fim de semana. “Isso provavelmente ocorreu porque um fragmento do cometa ou alguma interferência gravitacional gerou o filamento adicional necessários naquela trilha de meteoros”, afirma Marcelo Zurita.
“A BRAMON está em operação desde o início de 2014 e, nesse tempo de operação, a gente vem acompanhando 'surtos' de outras chuvas de meteoro. Mas o da Perseida foi a primeira vez. Sem dúvida nenhuma foi o melhor ano para a gente nessa questão de chuvas de meteoros”, vibra o diretor.
"Um 'surto' como o do último final de semana apenas mostra que não conhecemos todos os mecanismos que geram as chuvas de meteoros”, destaca Lauriston Trindade.
Patos de Minas
Um dos observatórios filiados à BRAMON é o de Patos de Minas, que conseguiu registrar imagens do 'surto' da Perseida. O Observatório IDS, do astrônomo amador Ivan Soares, fica no Bairro Jardim Europa, a 20 minutos do centro da cidade.
Ele possuiu sete câmeras de monitoramento de meteoros que geram dados e análises, que são capturadas no céu da região. Essas informações são enviadas diretamente a BRAMON quando captadas.
Além de cobrir todo a área de Patos, Soares afirma que as sete câmeras têm capacidade de filmar todos os meteoros que passam por Minas e ainda pegar informações das áreas do Rio de Janeiro e parte do estado de São Paulo.
“Observar o universo eu acho que faço desde pequeno. Lógico que eu era criança e não tinha tanto recurso e informação. Mas desde essa época eu já olhava para o céu e ficava observando”, conta Soares.