Nos últimos meses, tem crescido o número de pessoas que praticam o ciclismo em grupo, sobretudo nos finais de semana, em Passos. Há vários grupos que percorrem as ruas da cidade aos sábados e domingos, bem cedinho, para evitar o trânsito. Outros vão mais longe: para a zona rural ou até para a Serra da Canastra. Esses grupos são formados por profissionais de diversos segmentos que aliaram o lazer à vida saudável da prática esportiva.
Há até “personal trainers” para esses grupos. Uma empresa de Americana (SP), por exemplo, encaminha os treinos e, por meio de um sistema, avalia, ajusta e traça as estratégias de evolução, sempre considerando o calendário de competições. O custo é de R$ 150. As bicicletas dependem do bolso de cada um. Há bicicletas de R$ 3,5 mil, mas há verdadeiras máquinas que chegam a custar R$ 60 mil,. Quem está disposto a pagar, consegue as que mais duram e rendem.
À noite, em meio aos carros, na cidade, é comum ver grupos pedalando até altas horas. Em grupos de 3, 4 ou 10 pessoas, cortando avenidas e ruas. Nos fins de semana, o destino é outro: a paradisíaca Serra da Canastra e belas estradas rurais na região de Passos. Há grupos de WhatsApp que reúnem os praticantes do ciclismo. Eles combinam as saídas e o trajeto e andam em média 20 quilômetros por dia. Dependendo do grupo, rende até mais: 25 quilômetros diariamente.
Exemplos de disposição e de paixão ao esporte não faltam. Alguns para largar a vida sedentária; outros para recordar-se da infância, não importa. O representante comercial Sérgio Gomes Filho, de 45 anos, casado, pai de três filhos, se diz um “apaixonado por bike”. A bicicleta entrou na vida dele há mais ou menos 10 anos. Incentivado por um amigo a praticar um exercício diferente do futebol, voltou a dar novamente as pedaladas que estavam guardadas na memória de sua infância, com intuito de melhorar o condicionamento físico e, consequentemente, uma melhora na saúde como um todo.
“Nessa época, já estava com sobrepeso (120 kg) e o corpo começava a dar os primeiros sinais de que algo não ia bem. Algumas alterações em exames, estresse do trabalho e apreciador de uma boa cerveja com tira-gosto, vi que era o momento de iniciar a mudança. Voltei a pedalar inicialmente aos finais de semana e, aos poucos, essa paixão foi se intensificando. As distâncias foram aumentando, o número de dias praticando o esporte também e, com isso, vieram junto as primeiras competições”, conta Sérgio.
Há três anos, surgiu um grande desafio para ele: uma corrida que saía de Alfenas (MG) e chegava a Aparecida (SP). Seriam 282 quilômetros de trilhas e estradas rurais. Além disso, tinha que enfrentar o fato de que a largada se daria às 20h. Então, boa parte desta corrida seria durante a noite. “Procurei uma assessoria esportiva de ciclismo que me acompanha até hoje e iniciei o processo de preparação, com o intuito de apenas conseguir concluir o desafio. Foram quatro meses de treinos duros, muitas vezes de madrugada, com o objetivo de acostumar a virar a noite pedalando. E essa rotina só fazia crescer o amor pelo esporte e pela ‘magrela’. A corrida foi um sucesso e eu consegui o 5° lugar na classificação geral e 1° na minha categoria (sub 45), frente a mais de 300 atletas, ou malucos como eu, que estavam dispostos a pedalar mais de 15 horas ininterruptas”, comenta, orgulhoso.
Depois disso, Sérgio nunca mais parou de treinar e de tentar melhorar a cada dia seu desempenho sobre as duas rodas. “Já participei de várias outras corridas e tenho treinado atualmente seis dias por semana, acumulando mais de mil quilômetros por mês. A bicicleta tem me ajudado muito na saúde física e mental. Dos 120 kg há 10 anos, hoje estou com 85. Tenho uma rotina de viagens constantes devido ao trabalho, pois sou representante comercial e, mesmo nas viagens, a minha "parceira" me acompanha. A relação do ciclista com a bicicleta vai muito além da ação repetitiva de pedalar 3, 4 ou até mais vezes por semana. No meu caso, já se tornou um caso afetivo com as "minhas magrelas", fazendo parte de minha rotina diária, independentemente do clima, do cansaço do trabalho ou dos compromissos familiares”, comenta ele que, nos fins de semana, se junta com três ou quatro amigos e parte para as trilhas rurais.
Tem gente que gosta de cuidar da saúde e troca outras atividades físicas pelo ciclismo. O professor, consultor de liderança e processos de comunicação em vendas e escritor Anderson Jacob Rocha trocou o futebol, esporte que amava, mas que o fazia machucar muito, pelo costume de andar de bicicleta. Em 2012, tudo começou. Ele tomou a decisão de comprar uma bicicleta, os equipamentos, começou a andar e tomou gosto pela coisa. Anderson diz que o ciclismo é um esporte individual, mas o mais coletivo de todos, porque há muita solidariedade entre os ciclistas. “É um esporte que dá um vigor físico, elimina bastante gordura e, como a gente pratica na natureza, os hormônios ficam bem mais aflorados e a sensação de bem-estar é bem grande”, conta.
Os percursos já foram maiores – 70 quilômetros nos fins de semana –, até ele perceber que bastavam 20 ou 30 quilômetros para manter o condicionamento físico. “Eu tenho procurado lugares menos acidentados, mas como nossa região tem subidas, caminhos íngremes e pedras, nem sempre isso é possível. Nós temos espaço no Glória (município vizinho a Passos) e, em Passos, nas regiões dos Campos, das Areias, que são belíssimas”, comenta.
A advogada Tayanne da Silva Reis, casada, tem dois filhos, e diz que “praticar ciclismo traz muitas alegrias, pois fazemos novas amizades e cuidamos da nossa saúde física e mental. Pedalar é a melhor terapia”. Os passeios são combinados via WhatsApp. Segundo Tayanne, o esporte se popularizou muito com a chegada da pandemia. “Veio o tempo livre e também a necessidade de se praticar esportes individuais, em respeito ao isolamento social. Respeitado o isolamento, não podíamos mais fazer caminhadas com amigos, e somente individualmente. Acontece que também aos poucos houve o toque de recolher e assim não podíamos fazer caminhadas ou corridas nas avenidas ou ruas principais da cidade. O despertar para os que se afeiçoavam à bike aflorou, principalmente com a possibilidade de continuar se exercitando, mantendo o distanciamento que exige a pandemia”, relata.
Tayanne conta que o número de ciclistas quadruplicou em Passos, chegando a virar febre entre os praticantes de esportes. “Com as academias e ruas fechadas, ganhamos as estradas rurais e descobrimos que esses passeios trazem prazer e descanso da mente, além do contato com a natureza.”
Em dezembro do ano passado, a advogada fez com a antiga Caloi 10, a quem carinhosamente chama de Luxinho, o "Pedal da virada" (dia 31 de dezembro) – passeio ecológico em que pedalou pela estrada da Usina Açucareira Passos rumo ao local conhecido como Três Ilhas (no Rio Grande), entrando pelo Caminho das Borboletas e saindo no Corredor São Domingos, já em Passos.