Jornal Estado de Minas

PATRIMÔNIO

Ação popular pede socorro para recuperar Igreja do Rosário, em Caeté

Uma ação popular chamada ‘S.O.S. Igreja do Rosário’ pede socorro para o templo mais antigo de Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), construído na fundação da cidade, período final do ciclo rococó. A igreja, importante para o patrimônio cultural e histórico, está necessitando, urgentemente, de reformas já que parte da estrutura está desabando. Apesar de haver projeto, as autoridades buscam recursos para as obras.





O muro lateral desabou há mais de um ano e o adro afundou, dificultando o acesso dos fiéis à igreja, e oferecendo riscos à comunidade com velhas ferragens expostas. Além disso, o entorno está com entulho de construção e cheio de mato.

A igreja é circundada por um cemitério que, segundo o movimento popular, também está com estrutura comprometida. Não ocorrem novos sepultamentos no local, a não ser de pessoas que têm jazigos perpétuos. 

Todo o conjunto é considerado um museu a céu aberto pelos historiadores. A igreja é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pertence à Arquidiocese de Belo Horizonte. O cemitério é de responsabilidade da Prefeitura Municipal. Esses três órgãos e instituições são os responsáveis pelo monumento.





A restauradora e conservadora Maria Regina Ramos, moradora de Caeté, integra o movimento e afirma que os problemas poderão piorar. “A igreja precisa, na parte interna, restaurar o púlpito, mas o mais grave é o afundamento do adro com a escadaria interditada. Tem todo tipo de problema. A parte do cemitério corre risco com as fortes chuvas, que tendem a agravar esses problemas”, pontua a restauradora.

Um dos idealizadores do movimento S.O.S Igreja do Rosário, o jornalista Gustavo Pinheiro disse que a Igreja do Rosário não recebe a atenção que merece. “Ao mesmo tempo em que a igreja Matriz de Nossa Senhora do Bonsucesso, uma edificação posterior à Igreja do Rosário, recebe investimentos nos últimos anos, a do Rosário fica à margem do poder público”, lamenta Gustavo, que acredita em um possível racismo estrutural.

A Igreja Nossa Senhora do Rosário é originada de tradicional irmandade dos negros, com invocação dos santos negros da Irmandade do Rosário, São Benedito, Santa Efigênia e Santo Expedito.

“Não gostaria de fazer uma acusação irresponsável, mas não quero crer que exista o racismo estrutural por ser historicamente um local dedicado à devoção negra. Eu gostaria de acreditar que o local não esteja sendo preterido por questões racistas por parte dos gestores, só que, a observação de outros templos religiosos históricos da cidade, nos leva a essa comparação”, ressalta Gustavo.





A faixa escrita “S.O.S” foi colocada na igreja no último sábado (21/8) por integrantes do movimento popular. “O objetivo era alertar o poder público e chamar a atenção da comunidade para a precariedade que se encontra tanto o cemitério quanto a própria igreja”, diz Gustavo.

O que dizem o Iphan, a Arquidiocese e a prefeitura


Em nota, o Iphan explicou que está ciente da situação da igreja e fará uma nova vistoria para atualizar as informações sobre o estado de conservação da edificação. “No momento, a autarquia busca recursos para execução dos serviços de restauração necessários e, somados aos esforços junto ao município de Caeté e Arquidiocese de Belo Horizonte, restabelecer as condições adequadas de preservação desse patrimônio cultural protegido”, disse nota.

A Arquidiocese de Belo Horizonte ressaltou que o local reúne bens tombados por diferentes instâncias do poder público e, por isso, as obras nesses importantes espaços são planejadas de modo compartilhado.



“Assim, foram elaborados os projetos de reforma da cobertura e drenagem do adro. O projeto dedicado à cobertura foi elaborado em 2015, por empresa contratada pela Prefeitura de Caeté, e aprovado pelo Iphan em 2016. O projeto de drenagem do adro foi elaborado em 2020 pela Arquidiocese de Belo Horizonte, por meio da PUC Minas e da parceria entre o Memorial Arquidiocesano com a Universidade Federal de Minas Gerais. O projeto foi encaminhado para análise do Iphan. Além disso, já foram realizadas, em 2018, manutenções emergenciais da cobertura”, informou a arquidiocese, salientando, porém, a busca pelos recursos para execução.

“Atualmente, estão sendo buscados recursos para as obras, a partir de legislações que estimulam investimentos da iniciativa privada na proteção de bens culturais, de diálogos nas Casas Legislativas e de campanhas específicas.”

Quanto ao cemitério, que é responsabilidade da Prefeitura de Caeté, a Secretaria Municipal de Obras informou que está realizando um levantamento para solucionar o problema de drenagem de água pluvial, uma das causas do rompimento do muro. 





“Contudo, este é um muro de construção antiga, sem aço e já frágil. O que nos levou a ter atenção também para a parte patrimonial da estrutura. A reconstrução da parte aberta não pode ser nos moldes modernos e com os materiais que temos disponíveis em nossa secretaria. Portanto, estamos estudando soluções junto à Secretaria de Turismo, Cultura e Patrimônio para que façamos a compra do material apropriado ou até mesmo a terceirização dos serviços especializados o quanto antes”, posicionou a prefeitura por nota.  
 

Importante obra para a história colonial mineira


A Igreja Nossa Senhora do Rosário fica em uma parte elevada da cidade de onde se tem uma visão privilegiada de Centro Histórico de Caeté. A construção é anterior à Matriz de Nossa Senhora do Bonsucesso e tem adro murado que contorna toda a edificação, servindo de cemitério, inclusive com túmulos à porta principal. 

(foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press - 07/05/2009-)
Sem torres, possui planta em partido simples composta por nave, capela-mor, corredores laterais e sacristia transversal ao fundo. A nave é em alvenaria de pedras, com cunhais, enquadramento dos vãos e guarnição do frontão em cantaria. 

O forro da nave tem pintura que remonta provavelmente ao período final do ciclo rococó de pintura perspectivista mineira. 

A composição é feita por muro-parapeito sinuoso ao longo das paredes laterais, incluindo varandas nos eixos transversais e figuras dos santos dominicanos.

Destacam-se os altares do arco-cruzeiro, sob a invocação dos santos pretos, caracterizados pelo estilo nacional português, o mais antigo de Minas Gerais. 
 




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