Embalagens usadas, plásticos e outros entulhos viraram parte do cenário do Ribeirão Arrudas, em Belo Horizonte. Na altura do Bairro Santa Efigênia, Região Centro-Sul da capital mineira, a reportagem do Estado de Minas flagrou na segunda-feira (23/8) acúmulo de lixo que pode se transformar em um problema ainda maior com a chegada do período chuvoso, dentro de um mês. Especialista explica que é justamente esse tipo de resíduo que termina impedindo a drenagem da água durante as chuvas e contribuindo para as enchentes. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, o leito do Arrudas passou por limpeza recente, mas novos resíduos foram carreados para o manancial.
O Arrudas, que recebe água de todos os córregos das regionais Oeste, Leste, Centro-Sul e do Barreiro, nasce no município de Contagem, na Região Metropolitana, e encontra o Rio das Velhas em Sabará. A visão que se tem das águas é normalmente composta por uma enorme quantidade de poluição adquirida durante o seu percurso pelos maiores centros urbanos de Minas Gerais.
Uma forte preocupação é que o lixo acumulado agrave os riscos de enchentes no local. No início de 2020, os maiores estragos das enchentes em BH aconteceram na Região Centro-Sul. Carros foram arrastados, restaurantes inundaram, ruas viraram rios e os prejuízos foram enormes para os moradores e comerciantes.
Para o professor de engenharia hidráulica e de recursos hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Raphael Barros, o amontoamento de sujeira no manancial é resultado da junção de “falhas da gestão municipal” com atitudes pouco conscientes dos moradores.
“Tem a falta de colaboração mais ativa da população, combinada com uma má gestão dos resíduos. O Rio Arrudas é um esgoto a céu aberto, na época de chuva, drena a cidade. Logo abaixo do Santa Efigênia, já quase atingindo Sabará, tem uma estação de tratamento de esgoto. Então, esse material vai até mesmo atrapalhar o funcionamento dessa estação. Com a vazão que o viaduto tem, se jogar lixo vai arrastar tudo para baixo”, disse.
Segundo o professor, com o período de chuva, esse grande volume de entulho nas bocas de lobo – peças que permitem que a água seja drenada até a rede de escoamento – do sistema de drenagem da cidade podem agravar as chances de alagamentos e inundações.
“Na chuva tropical, com uma quantidade muito grande de água em um período curto, isso tem que ser escoado rapidamente. Se esses dispositivos do sistema de drenagem que estão tomados por outros resíduos de origem humana, como embalagens, ou resíduos naturais, como folhas na época de seca, não são convenientemente retirados, eles acabam obstruindo esses canais. Vemos muito, nos cantos das ruas e esquinas, bocas de lobo tampadas, o que acaba diminuindo a capacidade dos dispositivos de drenagem para a qual eles foram pensados”, disse Raphael.
Ele considera que cabe ao Executivo municipal encontrar soluções para essa grande quantidade de resíduos que não é eliminada de forma correta pelos moradores de BH e cidades vizinhas.
“Tem um papel que compete a cada cidadã e cidadão de colaborar com sua cidade e bairro. Todos deveriam ter carinho com nosso ambiente. A administração, para compensar a falha da população, tem que melhorar esses serviços, como esvaziar e fazer manutenção nos sistemas mais vezes. Se ele não for regularmente limpo, pode causar problema”, relatou.
Operação
Em nota ao Estado de Minas, a Prefeitura de Belo Horizonte informou, por meio da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), que promoveu uma operação de retirada de resíduos no Rio Arrudas entre os dias 3 e 21.
“Os resíduos que estão visíveis agora, em uma área que já havia sido limpa, foram carreados pela última chuva, dia 17 de agosto, vindos em sua maioria de outros córregos que deságuam no Arrudas. Na próxima quinta-feira (amanhã), os garis da SLU voltarão ao leito do rio para limpar os locais afetados. A SLU solicita a colaboração dos cidadãos para a manutenção da limpeza nas vias e córregos da cidade”, afirmou a pasta.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho