No próximo ano, a Igreja Santa Teresa e Santa Teresinha, na Região Leste da capital, vai completar nove décadas do início de sua construção e, nesta semana, ganha o merecido reconhecimento pela importância histórica e presença na vida da cidade. O templo em estilo neocolonial foi tombado definitivamente como patrimônio cultural do município de Belo Horizonte, conforme divulgado, ontem, pela Prefeitura de BH, via Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura. A decisão foi do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte, com publicação no Diário Oficial do Município (DOM).
O titular da Paróquia Santa Teresa e Santa Teresinha, padre Célio Xavier, se mostra muito feliz com a decisão e planeja para 27 de setembro, início dos festejos em louvor às santas padroeiras do bairro, missa especial para comemorar o tombamento municipal. “No ano que vem, vamos celebrar os 90 anos do início da edificação, mas, em 2021, a paróquia completa nove décadas. Então, é motivo de muita alegria, pois um dos pontos importantes do tombamento é a integração do templo com a praça e a comunidade”.
Se traz contentamento, a decisão aponta também para as condições do bem, que demanda obras urgentes. “Esta igreja nunca foi restaurada. Houve algumas intervenções pontuais, mas nada completo. Estamos trabalhando para elaborar um projeto e apresentá-lo à prefeitura, pois, agora, qualquer serviço precisa ser comunicado às autoridades”, diz o pároco.
Urgências
Padre Célio Xavier aponta urgências como a troca da espuma de todo o sistema acústico, que é material altamente inflamável, e execução de serviços para acabar com vazamentos e trincas, que, segundo informa, estão “enormes”.
Pinturas externa e interna também serão contempladas no orçamento de restauração, a exemplo de 15 imagens sacras. “Conseguimos fazer uma revisão na cobertura da igreja, troca da fiação, que era antiga, ainda de pano, e restauro das imagens de Nossa Senhora das Dores, Senhor Morto, Nosso Senhor dos Passos e Cristo Crucificado.”
Embora muitos conheçam a igreja como de devoção a Santa Teresa, o pároco faz questão de citar Santa Teresinha. “Temos aqui a união do vigor de Santa Teresa de Ávila com a ternura de Santa Teresinha de Lisieux.”
Tombamento integral
De frente para a Rua Mármore e Praça Duque de Caxias, principal via e espaço público local, a igreja integra o conjunto urbano do Bairro Santa Tereza. Segundo a diretora de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura/PBH, Françoise Jean de Oliveira, o conjunto se encontra sob proteção municipal, com muitas casas tombadas e uma centena na lista de espera, além de estar sob diretrizes especiais que garantem a integridade e impedem a descaracterização do casario do século passado.
“A Igreja Santa Teresa e Santa Teresinha é um marco em Belo Horizonte e, além de estar no conjunto protegido, tem agora tombamento isolado. Começou a ser construída em 1932 e demorou 30 anos para ser concluída”, explica Françoise.
O estilo neocolonial do templo, projetado por João de Almeida Ferber (1898-1971), natural de São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes, seguiu as linhas das igrejas Nossa Senhora do Carmo e São Francisco de Assis, joias barrocas da terra natal do arquiteto.
A diretora de Patrimônio ressalta que o tombamento da Igreja Santa Teresa e Santa Teresinha inclui todo o bem, como os vitrais. “A igreja está numa parte elevada, então, de vários cantos da região ela pode ser vista, principalmente as torres. É um marco físico e também religioso em BH, embora não seja suntuosa como aquelas nas quais o arquiteto se inspirou”, afirma Françoise.
Conservando ainda um modo de vida quase interiorano, com apropriação dos espaços públicos pelas famílias, o Bairro Santa Tereza preserva modos de vida tradicionais, mostrando que é “tênue o limite entre as casas e as ruas”, explica a diretora. Dessa forma, as diretrizes especiais foram criadas para preservar o conjunto arquitetônico e protegê-lo da especulação imobiliária. “A ambiência interiorana e o modo de vida singular são grandes características do Santa Tereza”, acrescenta.
Referência
Com a decisão do Conselho Deliberativo, ficou estabelecida a inscrição da igreja no Livro do Tombo Histórico, por se tratar de edificação de relevante valor cultural e referência importante para a memória de Belo Horizonte. O tombamento contou com anuência da Mitra Arquidiocesana e dos padres da paróquia, por isso não houve necessidade de ser antecedido por ato provisório.
Diante da aprovação do tombamento pelo CDPCM-BH, a igreja passa a ter acesso aos benefícios dos bens nessa condição, como solicitar a transferência do direito de construir, que é o direito de alienar ou de exercer em outro local o potencial construtivo do lote; inscrever projetos nas leis de incentivo municipal, estadual e federal; pleitear recursos de medidas compensatórias do Conselho do Patrimônio; ou ainda se inscrever no programa Adote um Bem Cultural, que incentiva a parceria entre poder público e iniciativa privada na restauração, conservação e promoção dos bens culturais.
O proprietário do bem, por sua vez, terá de zelar pela boa conservação do bem tombado, submetendo à análise do Conselho de Patrimônio todo e qualquer projeto de restauração ou modificação que se pretenda fazer no imóvel tombado.
Com capacidade para 900 pessoas, a Igreja Santa Teresa e Santa Teresinha tem missa diária às 18h, e mais um horário às terças e sextas – às 15h. Aos domingos, as celebrações ocorrem às 7h, 9h e 18h.
Doutoras da Igreja Católica
Santa Teresa...
Teresa de Ávila (1515-1582), conhecida como Santa Teresa de Jesus, chamava-se Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada e nasceu no antigo Reino de Castela, hoje Espanha. Foi uma freira carmelita, mística e santa católica importante por suas obras ligadas à vida contemplativa e espiritual e pela atuação durante a Contrarreforma. Foi também uma das reformadoras da Ordem Carmelita e considerada cofundadora da Ordem das Carmelitas Descalças junto com São João da Cruz.
... e Santa Teresinha
A francesa Teresa de Lisieux (1873-1897), nascida Marie-Françoise -Thérèse Martin, conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face, também foi uma freira carmelita descalça e conhecida como um dos mais influentes modelos de santidade. O papa Pio X a chamou de "a maior entre os santos modernos". A exemplo de Santa Teresa, também foi proclamada doutora da
Igreja Católica.