Jornal Estado de Minas

SINAL DE ALERTA

Na pior crise hídrica em 111 anos, cursos d'água minguam na Grande BH


Sinal de alerta para os recursos hídricos da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). O nível baixo da represa da Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima, reflete a pior seca dos últimos 111 anos. O quadro de emergência hídrica foi emitido pelo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), que informou que a escassez atingiria, entre junho e setembro, Minas e outros estados brasileiros. O SNM resulta da atuação conjunta de instituições federais para aprimoramento e elaboração de previsões de eventos meteorológicos extremos, pesquisa, desenvolvimento e inovação.



Em meio à crise hídrica, governo omite risco de racionamento

De acordo com o meteorologista Ruibran dos Reis, da Climatempo, choveu muito pouco no período de outubro de 2020 a abril de 2021, o que se reflete agora no nível dos cursos d'água e reservatórios. Já são quase seis meses sem chuvas, volume suficiente para o abastecimento hídrico. "Somente em fevereiro, tivemos chuvas acima da média. De março para cá, as chuvas pararam. Ficamos sem chuvas para as nascentes e para abastecer os reservatórios."

A exemplo de Nova Lima (RMBH), a estiagem castiga também a capital. A previsão é de que a chuva deverá chegar amanhã a Belo Horizonte, segundo informações do 5º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Ontem, a capital mineira teve nuvens esparsas e a umidade relativa do ar atingiu, à tarde, a mínima de 35%.

O meteorologista Ruibran dos Reis ressaltou que chuvas significativas só devem ocorrer em outubro. "A seca continuará em setembro", projetou. Ele lembrou que a mudança nos regimes de chuva decorre do aquecimento global. "O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou relatório com participação de 100 países, com os melhores artigos científicos do mundo dizendo que o homem é o causador da mudança de clima", observa.





Entre as consequências das mudanças climáticas estão as secas extremas, como as que atingem o Brasil, colocando o país em risco de desabastecimento de energia elétrica. "Em um ano chove muito, no outro chove pouco. Quando tem seca, é seca extrema", analisa o meteorologista. Ruibran lembrou que o período chuvoso de 2019 e 2020 foi bom, mas que o mesmo não ocorreu nesta temporada. Fases chuvosas bastante ruins deverão ocorrer também no período 2021-2022.

O diretor do Minas Náutico (clube localizado no condomínio Alphaville Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima), Jorge Guimarães, disse ontem que fica triste ao ver a lagoa como se encontra atualmente, mas observou que o nível tão baixo não impossibilita a prática de esporte, embora traga danos. "Estamos no fim da seca. A lagoa já esteve em dias melhores. Estava bem cheia há dois meses, mas baixou muito", contou.

O Minas Náutico tem permissão para realizar esportes aquáticos na lagoa, que é de propriedade privada, a exemplo de remo e barco a vela. "Os esportes ficam prejudicados, mas ainda não impossibilitados. A gente fica muito triste de ver a lagoa assim. Ela é bonita cheia."



Escassez

Em outras regiões de Minas, o cenário já é desolador devido à escassez hídrica. Conforme mostrou o Estado de Minas na edição de 23 de agosto, cursos d’água antes caudalosos, como o Rio das Pedras, se transformaram em ruas na comunidade de Água Boa, na zona rural de Glaucilândia, na Região Norte de Minas. De acordo com a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), dos 33 municípios mineiros mais críticos na chamada "vulnerabilidade climática", 13 estão na região Norte – um deles é Glaucilândia.

A situação enfrentada pela comunidade se repete em outras dezenas de municípios da região, onde os efeitos drásticos das mudanças climáticas são cada vez mais visíveis e permanentes, com elevação da temperatura, desaparecimento de nascentes, diminuição e esgotamento de centenas de rios e córregos. O drama da seca ocorre em 89 municípios norte-mineiros e levou à situação de emergência, segundo a Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams).


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