Um estudo feito pela Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), com base em dados do Hospital João XXIII, revela que, de 2015 até este ano, o número de atendimentos a ciclistas vítimas de acidentes aumentou 72%. Os ciclistas representam quase 6% do total de vítimas de acidentes atendidas no hospital de janeiro a julho deste ano.
“Nossos motoristas estão mais impacientes, irritados e imprudentes. Esse cenário foi amplificado durante a pandemia e o que vemos, infelizmente, é uma crescente inabilidade de convivência harmônica em espaços coletivos como o trânsito. Os mais vulneráveis, como pedestres e ciclistas, são os mais atingidos nessa crescente desvalorização da vida”, afirma o especialista em Medicina do Tráfego e diretor científico da Ammetra, Alysson Coimbra, segundo a entidade.
De acordo com o levantamento da associação, em 2015, os acidentes com ciclistas correspondiam a 3,47% do total de atendimentos no João XXIII, hospital que fica na Região Centro-Sul da capital. De janeiro a 31 de julho deste ano, das 4.164 vítimas de acidentes levadas ao hospital, 249 pedalavam quando se feriram.
A Ammetra também cita uma pesquisa da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), que revela um aumento de 30% nos acidentes graves com ciclistas de janeiro a maio de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado. “Em Minas Gerais, esse aumento ficou acima da média nacional. Enquanto em 2020 foram computados 796 casos de traumas em ciclistas no estado, em 2021 o número saltou para 1.102, um acréscimo de 38%”, diz a entidade mineira.
O aumento do número de vítimas também reflete o crescimento do percentual de ciclistas nas ruas. A entidade explica que, em todo o ano de 2015, o Hospital João XXIII prestou atendimento a 12.262 vítimas de acidentes de trânsito, sendo 426 ciclistas. Durante alguns anos, o número de feridos foi diminuindo, mas o de ciclistas segue crescendo proporcionalmente desde 2018. “Entre 2015 e 2017 os números vinham se mantendo estáveis, um percentual médio de 2,9%. A partir de 2018, aumentou a proporção de ciclistas entre as vítimas do trânsito, até atingir o índice de 5,97% em 2021”, detalha Alysson Coimbra.
A entidade diz que dados do setor indicam um aumento de 50% na venda de bicicletas em 2020 em relação a 2019. O veículo foi uma opção para quem queria circular pelas cidades mantendo o isolamento em função do coronavírus ou praticar uma atividade física. “O aumento do uso da bicicleta notado durante a pandemia e o crescimento do número de atendimentos hospitalares revelam a necessidade urgente de desenvolver campanhas educativas voltadas ao público e principalmente aos motoristas. Ciclistas integram o elo mais vulnerável da implacável luta diária pelo deslocamento saudável em um trânsito cada vez mais agressivo e letal, motoristas precisam entender que são responsáveis pela segurança dos demais integrantes da via e precisam ser punidos rigorosamente ao infringir as regras de circulação”, afirma o especialista.
Coimbra acredita que o aumento no número de ciclistas vítimas de acidente é um dos sintomas de uma mudança no comportamento dos brasileiros no trânsito. Os outros são as ocorrências de direção em alta velocidade e aumento das mortes no trânsito. “Essa mudança no comportamento do brasileiro no trânsito é preocupante e reflete o trágico momento que atravessa o trânsito brasileiro, com afrouxamento de normas do CTB (Código de Trânsito Brasileiro) e uma tendência do governo federal em reduzir as fiscalizações por radares e isso afeta todos, e não somente os portadores de Carteira Nacional de Habilitação. Sair de casa e retornar em segurança já não é mais uma tarefa simples”, analisa.