O hábito de mexer com animais silvestres em contexto urbano quase teve um final triste em Lagoa Santa. Um morador da cidade resolveu tocar a cauda de um jacaré e foi surpreendido com uma tentativa de mordida do animal. A cena foi gravada em um vídeo que também mostrou outras pessoas próximas ao réptil.
Segundo o morador Jadir Martins, a relação dele com o jacaré Alfredo é íntima e a atitude tomada foi para direcionar o réptil de volta para a lagoa Central. “Tenho experiência em manejar jacaré, aprendi quando era jovem. Nesse dia, tentei por três vezes levar o Alfredo de volta para a lagoa, mas ele estava muito teimoso. Com a ajuda da Polícia Militar de Meio Ambiente de Lagoa Santa conseguimos voltar com ele."
De acordo com o biólogo do ICMBio e coordenador do programa de cooperação entre o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN) e a UFMG Marcos Coutinho, ao ser tocado na cauda, o réptil agiu na tentativa de morder porque estava se protegendo da ameaça humana.
O biólogo afirma que a espécie Caiman latirostris, conhecido como jacaré-de papo-amarelo, tem esse nome por apresentar um focinho mais largo que os demais crocodilianos, sendo que a força na mandíbula é muito grande.
“Morde e não solta mais. Ele tem uma boca composta de muitos microrganismos, um acidente indesejável que pode causar lesões graves”.
O morador conta que a ação se deu na tentativa de evitar que o jacaré invadisse uma residência para se alimentar dos filhotes de cães. Além disso, o morador teme que as travessias na avenida da orla possam causar um atropelamento ou que pessoas cacem o animal para se alimentar.
“Sou uma espécie de cuidador do Alfredo e da sua família, que já tem uma fêmea e quatro filhotes. Costumo alimentá-los com restos de carne bovina, ele também se alimenta de filhotes de capivara, mas acho que estava enjoado de comer e foi experimentar um novo cardápio”.
Para o biólogo que atua na área de manejo sustentável de répteis e anfíbios, a ação de moradores que ofertam alimentos aos répteis que habitam a lagoa é inadequada. O ideal é não alimentar, não mexer com o animal e deixá-lo caminhar por todo o ambiente, inclusive fora da lagoa.
“Ele é um animal silvestre, ele faz parte da fauna, ele não é um animal de criatório O jacaré está no ambiente dele, ele está lá antes de existir a cidade, ele faz parte antes da paisagem urbana existir, nós temos que aprender a conviver com a nossa fauna”.