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Estado de Minas OS IMPROVÁVEIS CAMINHOS DO GOL

Jovem ferido por linha chilena vai jogar na Seleção Brasileira de amputados

Gabriel Feijão, de 17 anos, que sonhava em ser jogador, disputará as Eliminatórias para o Mundial da categoria em 2021, na Turquia


01/09/2021 06:00 - atualizado 01/09/2021 13:01

Aos 17 anos, Gabriel Feijão (à direita) integra projeto de associação mineira que cedeu mais dois atletas para a disputa do torneio na Turquia(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Aos 17 anos, Gabriel Feijão (à direita) integra projeto de associação mineira que cedeu mais dois atletas para a disputa do torneio na Turquia (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)

Sonhos podem ser alcançados mesmo depois de um drama que vai mudar para sempre a vida de uma pessoa. Para o adolescente Gabriel Lucas Alves do Nascimento, ou simplesmente Gabriel Feijão, de 17 anos, o recomeço já teria o sabor de uma vitória épica, mas o êxito vai muito além. Sonhador, o jovem mineiro franzino foi um dos convocados da Seleção Brasileira de futebol de amputados para a disputa das Eliminatórias para a Copa do Mundo da categoria, no ano que vem, na Turquia.

O dia 20 de julho de 2019 pode ser considerado um divisor de águas na vida de Gabriel. Foi nessa data que ele sofreu um acidente com linha chilena, usada ilegalmente para empinar pipa, quando caminhava pela Avenida José Inácio Filho, em Betim, na Grande BH. Um ônibus puxou a linha, que ficou presa no para-choque de um carro e atingiu os joelhos da vítima. O corte profundo afetou veias e artérias e o adolescente teve de amputar a perna esquerda.

Este tipo de linha tem poder cortante quatro vezes maior do que o do cerol (com vidro moído). A Lei Estadual 14349 proíbe o uso de linhas cortantes em Minas Gerais, com multa que pode chegar a R$ 1,5 mil. Em Betim, também há uma lei de 2017 impedindo a utilização desse tipo de item.

Gabriel queria ser jogador profissional, mas teve de abandonar o sonho para se dedicar à recuperação. Foram necessárias várias sessões de fisioterapia até a colocação de uma prótese. Logo, o adolescente disse aos familiares que queria ser atleta paralímpico.

“É uma felicidade muito grande. Meu sonho era me tornar um jogador profissional, mas por tudo o que aconteceu, foi preciso mudar esse sonho. Eu fiquei muito emocionado com a notícia (da convocação para a Seleção), sabendo que tudo está ocorrendo do jeito que eu queria, mas numa modalidade diferente. É algo inexplicável”, afirma Gabriel Feijão, que se apresenta à Seleção ema 26 de setembro, em São Paulo, para um período de preparação e treinos.

No momento da convocação, ele estava em casa descansando, depois de ir à aula (cursa o 1º ano do Ensino Médio). O jovem não conteve a emoção quando viu o técnico Rodrigo Oliveira ler seu nome. “O treinador começou a ler os nomes e, no momento em que falou dos atacantes, o primeiro nome foi o meu. Aí, comecei a pular de alegria. Recebi muitas mensagens de incentivo, ligações... Sabia que não ia ser fácil. Mas disse que correria atrás do sonho e chegaria à Seleção”, afirmou o jogador.

Gabriel Feijão atua no projeto Associação Mineira de Desportos para Amputados (AMDA), no Bairro Lagoinha, Região Noroeste de BH, que também cedeu à Seleção Brasileira os meias Breno e Tadeu. Na modalidade, eles se livram momentaneamente das próteses e usam muletas. Cada time atua com sete jogadores num campo de futebol society, mais reduzido. O Comitê Internacional Paralímpico tem a intenção de testar o esporte nos Jogos de Paris, em 2024, e torná-lo definitivo a partir de 2028, em Los Angeles.

Disputar uma Paralimpíada passa a ser mais um sonho para o mineiro. Por enquanto, ele se dedica aos treinos em Belo Horizonte e faz trabalhos em academia para complementar a preparação física. “No começo, tudo é difícil. Até a gente se acostumar com a muleta, ter noção de jogo, é preciso muita dedicação. Mas com o tempo me adaptei”.

Emoção de pai

A conquista de Gabriel Feijão foi acompanhada pelo pai, Amilton do Nascimento, de 48 anos, que presenciou todo o drama do filho nos últimos dois anos. “Para um pai, tudo isso é uma vitória. Toda a história foi muito triste. Quando ele perdeu a perna, aos 15 anos, foi uma dor no coração muito grande. Mas ele é muito esforçado e conseguiu dar mais um passo, o que nos deixa muito felizes. Aprender o futebol de amputados não é algo fácil. Foi preciso muito esforço, já que, sem a dedicação, ele iria desistir facilmente”, ressaltou.

Para ele, ver o filho dando o primeiro passo é uma sensação indescritível: “O processo foi muito lento. Primeiro, ele não sabia se ia querer. Depois, começou a treinar e, aos poucos, foi se adaptando aos exercícios e tomou gosto. O caminho agora é esse. Queira ou não, ele realiza o sonho de jogar futebol, como sempre quis”.


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