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Estado de Minas VIOLÊNCIA

Suspeita de esquartejar marido já teria tentado envenená-lo há nove anos

Corpo foi encontrado concretado na cozinha da casa da vítima. Com a prisão da mulher, detalhes do relacionamento conturbado vieram à tona


01/09/2021 13:44 - atualizado 01/09/2021 17:17

Investigadora da Polícia Civil notou diferença no piso sob uma mesa da cozinha. Corpo estava enterrado lá(foto: Polícia Civil/Divulgação)
Investigadora da Polícia Civil notou diferença no piso sob uma mesa da cozinha. Corpo estava enterrado lá (foto: Polícia Civil/Divulgação)

A mulher de 62 anos presa nessa terça-feira (31/8) em Ribeirão das Neves, na Grande BH, suspeita de matar, esquartejar e concretar o corpo do marido no chão da cozinha, já havia passado cerca de três meses presa por ter tentado matá-lo por envenenamento em 2012. A informação e outros detalhes do caso foram divulgadas pela Polícia Civil em entrevista coletiva virtual na manhã de hoje.

A suspeita foi presa em flagrante e já foi encaminhada para o sistema prisional de Minas. O corpo da vítima está no Instituto Médico-Legal (IML) da capital e deve passar por exames de reconhecimento. 

O homem de 55 anos estava desaparecido desde 11 de agosto. No dia 21, uma das irmãs dele registrou um boletim de ocorrência. A denúncia anônima que levou a Polícia Civil até a casa da vítima, no Bairro Florença, chegou na manhã de ontem.

Enquanto pesquisavam mais detalhes nos registros da segurança pública do estado, além do desaparecimento, eles localizaram um boletim de ocorrência de uma tentativa de homicídio da suspeita contra a vítima de nove anos atrás, como informa o delegado Fábio Werneck, titular da Delegacia de Homicídios em Ribeirão das Neves. 

Assista à coletiva na íntegra




“Havia um boletim de ocorrência do ano de 2012 que relatava que a vítima tinha sofrido um atentado contra sua vida em que sua companheira teria colocado soda cáustica em uma garrafa d’água que estava na geladeira. A vítima ingeriu essa água com soda cáustica, foi parar no hospital, e a companheira acabou presa”, narrou o delegado. “Ficou presa por alguns dias, parece que foi algo em torno de 90, foi solta e retornou para o lar, com o convívio com a vítima e, de lá para cá, esse convívio foi bem tumultuado. Há relatos de ameaças, de separação de corpos – os dois não dormiam mais na mesma cama. Vizinhos informaram que a investigada não se dava muito bem, não gostava da vítima”, relata a polícia. 

Com base nessas informações, a equipe da delegacia foi até o imóvel averiguar a denúncia. A mulher autorizou a entrada deles e permitiu que o imóvel fosse revistado. Segundo Werneck, a casa fica em uma área de preservação permanente próxima a um curso d’água poluído e com mau cheiro, o que chegou a confundir um pouco os policiais com a suspeita da presença do corpo. O imóvel é composto por cozinha, quarto e banheiro. A vítima dormia no quarto e a mulher em um sofá na cozinha. 

Primeiramente, chamou a atenção dos policiais um retângulo de concreto no quintal com terra que parecia ter sido mexida. Eles chegaram a escavar, mas não encontraram nada. Como os indícios eram fortes, a polícia insistiu nas buscas, diante da mulher e de testemunhas, e partiu para a revista nos cômodos. 

“A Bárbara (investigadora que integra a equipe) notou que, sob uma mesa entre a pia e a geladeira da cozinha havia um pequeno retângulo de concreto fino, recente, com material e pintura destoantes do resto do piso, estufado e trincado, mal feito”, conta o delegado. “O odor da casa já não estava muito agradável. Foi feita também uma escavação nesse local e o mau cheiro foi piorando, até que foi visto algo parecendo um saco. Nesse momento, os trabalhos sessaram, a perícia foi acionada”. 

O Corpo de Bombeiros foi chamado para ajudar nas escavações e a denúncia se confirmou. Foi descoberto um corpo esquartejado, dentro de um saco e coberto por cal. 

“A investigada acompanhou as diligências muito fria, muito tranquila, não derramou uma lágrima. Ela apresentou diversas versões conflitantes entre si e com os relatos que nós tínhamos de familiares e vizinhos, e acabou sendo conduzida e presa em flagrante pelo crime de ocultação de cadáver. A notícia que estamos apurando sobre motivação, além desse problema conjugal, do convívio ruim entre o casal, é que a vítima tenha contraído um empréstimo no valor de R$ 8 mil para custear um tratamento, uma cirurgia para câncer de próstata. E, para colocar a mão nesse dinheiro, a investigada o teria matado. Ainda não sabemos do envolvimento de terceira pessoa. Temos algumas informações que ainda precisam ser melhor trabalhadas”, disse o delegado. 

Esquartejado vivo


O corpo ainda precisa ser reconhecido oficialmente como da vítima. Os profissionais do IML vão avaliar se será possível fazer o procedimento pelas digitais ou por exame de DNA. De acordo com o delegado Fábio Werneck, os exames feitos até agora mostram que a vítima foi morta com grande violência. 

“Eu conversei agora cedo com o médico legista responsável pela perícia e ele informou que encontrou lesões no coração e próximo do coração, compatíveis com faca ou algum instrumento nesse sentido, e também uma fratura na base do crânio muito grande. Segundo ele, há reação vital em algumas partes do corpo para esquartejamento. Traduzindo, quando o esquartejamento começou, a vítima ainda estava viva, provavelmente agonizando, em razão do local dos golpes, da severidade dos golpes que ele tinha sofrido no coração e no crânio. Ainda não foi possível apontar qual dessas lesões ou quais foram a causa da morte, mas foi algo nesse rumo”, explicou o titular da Delegacia de Homicídios em Ribeirão das Neves. 

A suspeita é de que um serrote teria sido usado no esquartejamento da vítima. Considerando a idade e compleição física da mulher, o delegado disse que existe a possibilidade de ela ter sido ajudada, embora ainda não seja possível afirmar o envolvimento de uma terceira pessoa no crime, mas que também não se pode descartar que, com tempo, ela tenha feito sozinha todos os atos e a ocultação do cadáver. 

Contradições no depoimento e à família da vítima


Na coletiva, o delegado disse que a mulher atribui o assassinato do marido a um amigo do homem. “Ela disse que na noite anterior ao desaparecimento, no dia 10 de agosto, a vítima apareceu com esse amigo na casa, e os dois pernoitaram, inclusive na mesma cama. Ela informou só o primeiro nome desse suposto amigo, que ela disse nunca tinha visto o amigo, não sabe de onde veio, onde mora, qual é o telefone. Passou apenas características físicas. Ela alega que, no dia seguinte, o companheiro dela saiu cedo, 5h pra ir ao Rio de Janeiro, ela foi a Belo Horizonte fazer compras, e quando voltou não viu nem o marido, nem o amigo dele. Depois, ela muda de versão e fala que saiu por volta de 6h para ir até Belo Horizonte e deixou o marido e o tal amigo dormindo. Quando voltou não viu nenhum dos dois e não notou nada de estranho na casa”, disse o delegado. 

Werneck também ressaltou que, na época do desaparecimento da vítima, a mulher criou diferentes versões à família dele antes que a ocorrência fosse finalmente registrada. Eles moram em outra cidade e o contato era feito por telefone. Preocupados e procurando saber detalhes sobre o tratamento do câncer da vítima, eles tentaram falar com ele, mas sem sucesso. 

“Ligaram algumas vezes para a investigada em busca de informações. Para uma irmã, enquanto ela ainda atendia as ligações, a investigada contou que ele teria ido visitar um irmão no Rio de Janeiro. Para outra irmã, ela disse que ele saiu de casa sem rumo dizendo que se jogaria debaixo de um caminhão”, afirma o delegado Fábio Werneck.

As irmãs ficaram preocupadas e pediram que uma sobrinha ligasse para a suspeita se passando pela secretária de um médico para lembrar que ele tinha uma consulta marcada. “Ela disse a essa sobrinha, acreditando que ela fosse mesmo a secretária, que ele tinha desistido dessas consultas em razão do alto custo e que procuraria um tratamento mais barato no interior, mas também não entrou em detalhes”. 

Relacionamento começou há 25 anos


De acordo com o delegado, a vítima e a suspeita estavam juntos desde 1996. A mulher diz ter vindo da região de Governador Valadares, mas já falou também em Teófilo Otoni. Ela e o homem se conheceram em Belo Horizonte. 

Na época, ele morava em uma casa de aluguel no Justinópolis, em Ribeirão das Neves. Ela chegou a morar com ele nesse imóvel e, no mesmo ano, se mudaram para a casa no Florença. A mulher diz ter comprado o imóvel por R$ 6 mil que economizou trabalhando como camareira. Eles não tinham filhos. 

O delegado diz que a mulher é imprecisa em seus relatos, dá datas e versões conflitantes, e afirma já ter sido agredida pelo companheiro. “Ela diz que essa tentativa de homicídio com a soda cáustica lá em 2012 foi em retaliação a uma agressão que ela sofreu. O companheiro dela lhe desferiu um soco que causou a cegueira do olho esquerdo e, por isso, ela revidou. Hora ela diz que essa agressão foi no ano de 2001, hora afirma que foi uma semana antes dessa tentativa de homicídio”, diz o delegado. A mulher também falou sobre um episódio em que ele, teria sonhado que estava brincando de “lutinha” com um amigo e dado um soco no estômago dela. 

A mulher detida também disse ao delegado que o marido bebia muito. “Em determinado momento do interrogatório a investigada disse que esse consumo exagerado mais recente de álcool o transformou em uma pessoa mais agressiva, mas não com ações, com palavras. Dizendo que a mataria e jogaria o corpo em uma lagoa em Venda Nova. Mas, não dá para saber a concretude disso”, explicou. 

Além do câncer de próstata, e do consumo excessivo de álcool, vizinhos relataram que a vítima tinha outros problemas de saúde, como no pulmão. 

“A gente trabalha, por enquanto, com pelo menos duas hipóteses. Com esse problema conjugal que eles tinham. Ela demonstra até um certo ódio quando fala de algumas coisas que agradavam a vítima. A vítima tratava muito bem, tinha adoração pela horta do quintal de casa e, a primeira coisa que ela parece ter feito depois que a vítima morreu foi destruir essa horta. O que mostra essa motivação passional. Mas a gente trabalha também com esse cúmulo de motivações também por conta desse dinheiro, mas é uma hipótese ainda a ser confirmada”, disse Werneck. 

A localização do dinheiro emprestado à vítima também será apurada pela polícia. O dinheiro não estava na casa e, para verificar as contas, é preciso solicitar a quebra do sigilo bancário. 

O delegado de Ribeirão das Neves disse que, além do flagrante por ocultação de cadáver, a mulher será investigada por homicídio ou latrocínio – roubo seguido de morte, a depender do rumo do inquérito. O responsável pelas investigações também pediu à Justiça a conversão da prisão da mulher para preventiva. 


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