A gerente de uma unidade de saúde de Betim está sendo investigada após ser alvo de denúncias de colegas. As queixas afirmam que a responsável pela gerência da Unidade Básica de Saúde (UBS) Antônio Sabino de Souza - Imbiruçu fura a fila da marcação de consultas - e até mesmo remaneja a vacinação contra COVID-19 - para favorecer conhecidos.
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MP investiga denúncia de irregularidade em vacinação de servidores da SESVacinação: Uberaba apura erro de enfermeira e suspeitas de irregularidades COVID-19: MPMG apura possíveis irregularidades na vacinação em AlpinópolisValadares antecipa a aplicação da 2ª dose da vacina contra a COVID-19Veja onde jovens de 19 anos devem se vacinar em BH nesta quinta-feira (1/9)A reportagem ouviu detalhes das supostas irregularidades de quatro pessoas diferentes: dois servidores da UBS Imbiruçu e dois ex-funcionários que saíram da unidade justamente por não concordar com as irregularidades. Todos pediram para não ser identificados com nomes e cargos por medo de retaliação.
“Essa gerente foi indicada por um vereador faz poucos meses e ela passa pessoas à frente na marcação de consultas que seriam indicadas por ele. Várias vezes atendi pacientes que estavam no dia e horário que deveria ser de outras pessoas. Essa prática era comum", denuncia um ex-funcionário que trabalhou por anos na UBS Imbiruçu.
"No SUS há uma forma de se trabalhar. A equipe de médicos e enfermeiros se reúne, discute os casos e agenda conforme prioridade. Em alguns casos graves o paciente não pode esperar e isso o coloca em risco de morte uma vez que a sua vaga é tirada para dar a outra pessoa meramente por ordem da gerente”, afirma o profissional, que alega nunca ter vivenciado algo semelhante na carreira.
'Lista de favorecidos'
Outro funcionário relata que muitas consultas tinham que ser desmarcadas repentinamente. “Ela chegava com uma lista de pessoas que deveriam ter as consultas agendadas. Mesmo não tendo a vaga, ela pedia para colocar no lugar de outras pessoas e os recepcionistas tinham que ligar para esses pacientes e remarcar a consulta para outra semana", afirma.
"Ela dizia que não tinha que nos dar satisfação quanto a isso”, complementa.
Vacinação contra COVID-19
Outra funcionária afirma que as ações são feitas na frente de todos e incluem a imunização contra COVID-19. “Em uma ocasião, uma usuária do posto chegou a ouvir a gerente pedir a uma enfermeira que deixasse de aplicar a vacina de dose única (Janssen) porque iria descer umas 'pessoas dela'. A própria usuária fez uma denuncia anônima. Já teve caso dela passar ‘gente dela’ na frente da fila da farmácia”.
Já uma agente comunitária de Saúde (ACS) que atua na UBS Imbiruçu fez um desabafo em uma rede social no dia 10 de agosto. "Querendo passar usuário conhecido dela na frente de vacinas e outras necessidades do posto como consultas entre outras especialidades (psicólogo, fisioterapia, nutricionista, etc), colocando assim os funcionários em más situações já que a mesma com seu tom de ignorância, deixa transparecer as ameaças de assédio, dizendo transferir quem ela quiser, na hora que quiser, pois tem acessos à Prefeitura de Betim e que o vereador que a indicou deu a ela esse poder”, escreveu, em trecho da publicação.
Investigações
Procurada, a prefeitura de Betim admite que tem conhecimento das denúncias. “Uma auditoria assistencial está sendo aberta na Ouvidoria para investigar as denúncias de irregularidades nas marcações de consultas. E a Secretaria de Corregedoria está investigando as denúncias referentes às irregularidades na aplicação das vacinas contra a COVID-19. A Secretaria de Saúde aguarda o resultado das investigações para tomar as providências cabíveis”, diz, por nota (leia a íntegra abaixo).
A gestão municipal também reforçou que o suposto direcionamento de determinada fabricante de vacina contra COVID é irregular. "Os profissionais são orientados a não fazer reserva de qualquer que seja o fabricante. E não é permitido aos usuários escolher a vacina que receberão", argumenta, ao complementar que apenas as gestantes e os adolescentes devem receber imunizantes específicos - o primeiro grupo não pode tomar AstraZeneca e o segundo, apenas Pfizer.
A servidora que protocolou denuncia na Ouvidoria Geral do Estado (OGE) informou à reportagem que recebeu retorno do órgão através de e-mail no qual foi avisada que por intermédio da Ouvidoria de Saúde, a manifestação foi encaminhada à Ouvidoria Municipal de Betim. O órgão estadual ainda esclareceu, neste e-mail, que a ouvidoria da cidade da Grande BH informou que será promovida a apuração imediata do fato.
Nota da prefeitura de Betim:
"A Secretaria Municipal de Saúde já tem conhecimento das denúncias referentes à atuação da gerente da Unidade Básica de Saúde (UBS) Imbiruçu. Uma auditoria assistencial está sendo aberta na Ouvidoria para investigar as denúncias de irregularidades nas marcações de consultas. E a Secretaria de Corregedoria está investigando as denúncias referentes às irregularidades na aplicação das vacinas contra a covid-19. A Secretaria de Saúde aguarda o resultado das investigações para tomar as providências cabíveis.
A Prefeitura de Betim desde o início da Campanha de Vacinação contra a Covid-19 segue o Plano Nacional de Imunização. A vacinação, em todos os postos de imunização do município, incluindo as UBS, é realizada com os imunizantes disponíveis no momento. Os profissionais são orientados a não fazer reserva de qualquer que seja o fabricante. E não é permitido aos usuários escolher a vacina que receberão. Somente nos casos determinados pelo Ministério da Saúde o imunizante utilizado deve ser específico, como no caso das gestantes, que não podem receber a vacina da Astrazeneca, e dos adolescentes, cujo único imunizante autorizado pela Anvisa é o da Pfizer".