Uma jovem de 27 anos denunciou o ex-namorado, um homem que se identifica como medium, por ter feito dívidas superiores a R$ 600 mil depois de abrir contas em bancos no nome dela. A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) instaurou inquérito policial para investigar os fatos. O homem conta com mais de 300 mil seguidores nas redes sociais.
Maria (nome fictício*) conheceu Hamilton Freire de Moura Filho, de 25 anos, em setembro de 2017 em um Centro Espírita, na capital mineira. ''Nos conhecemos em uma reunião de psicografia. Ficamos muitos próximos, viramos amigos. Ele foi me conquistando, me dava livros e chocolates em uma fase da vida que era muito complicada para mim. Logo, começamos a namorar'', conta a jovem.
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violenciacontramulheresSaiba o que muda após violência psicológica se tornar crime contra mulherVídeo: entenda o que é relacionamento abusivo e como sair deleProjeto 'Ponto Final' ajuda mulheres vítimas de violência doméstica; saibaA partir dessa mudança, porém, a jovem passou a questionar os custos de vida do casal. ''Ele falou que tinha condição de pagar, mas colocou tudo no meu nome. Perguntei o porquê e ele disse que não poderia fazer isso no nome dele por causa de um processo envolvendo uma mulher da Paraíba. Hoje, eu sei que ela foi a primeira vítima'', relatou Maria.
Poucos meses depois, ela se viu sozinha no apartamento. Contou que Hamilton viajava bastante e que por um tempo acompanhou o noivo. Eles chegaram a fazer três viagens internacionais em um só ano.
''Ele começou a viajar muito, mas eu sempre passava mal. Comecei a ter crise de pânico, de ansiedade.'' Maria relata que sofria violências psicológicas, que a levaram a desenvolver transtornos e até mesmo a fazer de uso de remédios.
Segundo a jovem, o companheiro começou a monitorá-la. ''Ele colocou uma câmera em casa. Todas as vezes, quando eu virava a câmera para outro lado, ele me xingava. Ele dizia que fazia aquilo pela minha segurança'', contou. E, após cinco meses nesse pesadelo, a vítima encontrou um passaporte dele e se surpreendeu ao descobrir que em um período que o homem disse que estava trabalhando em Caxias (MA) encontrava-se, na verdade, na Bolívia.
A procuração
A partir daí, a jovem decidiu sair de casa. ''Falei com meu pai que eu tinha assinado uma procuração para o Hamilton'', disse. O companheiro a manipulou para assinar a procuração.
Ela e o pai foram até um cartório e descobriram que, na verdade, havia dois documentos assinados por ela. ''Eu acabei assinando junto com a outra sem perceber, isso porque quando eu ia começar a ler as coisas, ele falava assim: 'você não confia em mim''', relata a jovem.
''Ele sempre me pegava quando eu estava na correria, ele falava assim: 'assina aqui para mim rapidinho. O meu advogado está pedindo para a gente poder abrir o nosso Centro Espírita''', contou.
O plano do casal era abrir o centro para o homem fazer os atendimentos como médium e a jovem, atendimentos de terapias holísticas. ''Quando cheguei no cartório, estava tudo pronto'', completou.
O homem passou a fazer cartões e empréstimos no nome da jovem a partir das procurações. ''Ele fez vários cartões para mim no Banco do Brasil Caixa, Bradesco, Nubank, Santander... Eu tenho conta em todos os bancos que ele fez para mim, sendo que antes de conhecê-lo eu não tinha conta em nenhum lugar, apenas uma conta universitária que eu nem mexia'', disse Maria.
A denúncia
Foi em dezembro do ano passado que a jovem começou a entender o que estava acontecendo: com a procuração, Hamilton abriu contas bancárias e solicitou empréstimos no nome da companheira.
''Foi chegando muita gente, muitas vítimas dele. Eu conversei com a mulher da Paraíba e com outras outras mulheres que me procuraram. E eu sempre dizia: 'faça um BO'. Mas todo mundo tem muito medo dele'', disse.
A Polícia Civil de Minas Gerais informa que, em abril deste ano, "a vítima compareceu à Delegacia Especializada de Plantão de Atendimento à Mulher, onde registrou ocorrência e requereu medidas protetivas de urgência, às quais foram encaminhadas ao Poder Judiciário".
De acordo com a advogada Karine Araújo, especialista em Direito Criminal e Direito da Mulher, M. ainda foi vítima de violência psicológica e patrimonial. "Tudo que ela precisava, ela tinha que pedir. Ele a manipulava e tomava conta do dinheiro dela''. relata a especialista.
No último dia 27, a jovem compareceu à Delegacia Especializada de Investigação de Fraudes e registrou a ocorrência por crime de estelionato. A PCMG instaurou inquérito policial para apurar os fatos e a investigação segue em andamento.
Ainda segundo a advogada, a soma do dano ainda não foi totalmente contabilizada. ''Só de empréstimo em um banco ele pegou R$ 259 mil. Ele assinou o empréstimo e esse dinheiro evaporou'', contou.
Agora, a jovem clama por Justiça e que outras vítimas denunciem. ''Eu quero que a justiça seja feita. É muito difícil falar sobre isso, porque eu achava que ele era o amor da minha vida e eu descubro que ele fez tudo isso comigo. Ele me usou. É como se eu tivesse vivido uma vida de ilusão. Como se tivesse vivido um pesadelo do qual eu acordei com esse tanto de dívida. É muito triste'', lamentou.
O Estado de Minas tentou contato com Hamilton mas não teve retorno. Suas páginas no Instagram e no Facebook foram excluídas. Não foi possível encontrar o número de telefone ou do advogado. Caso ele queira se manifestar, a matéria será atualizada.