Timidamente, após dois anos de terem suas tocas, ninhos, áreas de caça e reprodução devastados pelo rompimento da Barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, animais da fauna silvestre começam a ser vistos retornando a partes recompostas daquele ecossistema.
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Para o analista ambiental da Vale, Gustav Specht, a presença de animais de diferentes níveis da cadeia alimentar é um forte indicativo que esses locais já estão desempenhando serviços ecológicos sistêmicos importantes, como a dispersão de sementes, a polinização, a fertilização de solo por meio de fezes, entre outros. “Com o passar do tempo essas áreas formam uma espécie de corredor verde e ampliam as áreas florestadas que abrigam todo tipo de animal de Brumadinho e região”, destaca.
A polinização de plantas e a dispersão das sementes são importantes processos resultantes da interação entre animais e plantas, segundo o especialista. Na dinâmica natural das florestas, a polinização é um dos mecanismos essenciais para o funcionamento dos ecossistemas e manutenção da biodiversidade.
A maioria das plantas depende de agentes polinizadores, como abelhas, aves e morcegos, para sua reprodução, e sem os polinizadores não há frutos. Já a dispersão de sementes determina a diversidade, abundância e distribuição das espécies de plantas e é feita por insetos, aves e mamíferos.
“Em uma floresta é importante que os animais considerados como polinizadores mantenham interação com a flora, levando os grãos de pólen de uma flor à outra, possibilitando o desenvolvendo em frutos. Existem também espécies de animais que atuam como dispersores de sementes, pois quando consomem um fruto acabam transportando o material para outros locais. Tanto os polinizadores quanto os dispersores contribuem para o processo de recuperação das áreas degradadas”, ressalta Adriano Paglia, ecólogo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Em 2019, a Vale adquiriu, na região de Brumadinho, uma propriedade chamada 'Fazenda Lajinha', onde cerca de 19 hectares de áreas de pastagem, o que equivale a 19 campos de futebol, estão sendo convertidos em áreas de floresta, com mais de 12.500 mudas de espécies nativas de ocorrência regional já plantadas. A estimativa é que até dezembro de 2021 sejam plantadas mais de 25.000 mudas nesta propriedade.
Somam-se aos mais de 12 hectares recuperados 25 hectares de áreas em processo de reflorestamento até o final do ano, com o plantio de aproximadamente 40 mil mudas de espécies nativas da região. Para este trabalho, uma parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) viabilizou o desenvolvimento de uma tecnologia inédita para acelerar a recuperação e o reflorestamento através do resgate de DNA das plantas locais.
Para a revegetação acontecer, o primeiro passo é a remoção dos rejeitos, uma atividade importante também para apoiar as buscas realizadas pelo Corpo de Bombeiros. Com os avanços de 2021, o total de rejeitos manuseados chegou a 3,5 milhões de m³, 40% dos cerca de 9 milhões de m³ que vazaram da barragem B1.
Todo este trabalho, incluindo áreas dentro e fora da região diretamente impactada pelos rejeitos, demanda uma série de obras emergências sobre as quais a Vale já realizou trabalhos de recuperação ambiental que somam mais de 90 hectares. A definição da área total a ser reflorestada, de forma compensatória, ainda está em tratativa com órgãos ambientais.
A recuperação das áreas impactadas pelo rompimento, além de devolver a vegetação ao local, também promove a captura de CO2 da atmosfera, ajudando na diminuição da concentração deste gás e, consequentemente, desempenhando um papel importante no combate à intensificação do efeito estufa.
A remoção do gás carbônico da atmosfera é realizada graças à fotossíntese, permitindo a fixação do carbono na biomassa da vegetação e nos solos. Conforme a vegetação vai crescendo, o carbono vai sendo incorporado nos troncos, galhos, folhas e raízes.