A excelência do ensino superior em Minas Gerais é marcada por um quarteto de instituições que figuram há pelo menos 12 anos entre as melhores do Brasil. A cada edição do Índice Geral de Cursos (IGC), indicador de qualidade das formações ofertadas por universidades, faculdades e centros universitários país afora, elas estão lá, no seleto grupo a conquistar 5, a nota máxima da avaliação.
Segredo de se manter nos mais altos níveis de formação passa pelo compromisso com a pesquisa e com novos desafios, além de boas referências em nível internacional. A UFMG é exemplo dessa busca: foi considerada a melhor federal do Brasil e a quinta melhor universidade da América Latina, segundo o ranking 2021 da respeitada publicação inglesa Times Higher Education, divulgado na última semana.
Em nível nacional, o IGC é medido pelo Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes (Enade), prova obrigatória que avalia o rendimento dos alunos, e do Conceito Preliminar de Curso (CPC), que mede a qualidade da graduação. Também há avaliações de especialistas, que verificam as condições de ensino, em especial o corpo docente, as instalações físicas e a organização didático-pedagógica. As notas variam de 1 a 5, sendo que a maioria fica na média (3). O desempenho 1 e 2 é considerado insatisfatório e 5, a excelência.
Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgados este ano, mas referentes a 2019, apenas 2,22% das 2.070 instituições analisadas alcançaram a nota máxima: 28 privadas e 18 públicas, sendo 14 federais e quatro estaduais. Em Minas, a Faculdade de Odontologia de Pouso Alegre (Inapós), no Sul do estado, aparece pela primeira vez ao lado do quarteto nota 5.
Para o professor Luiz Cláudio Costa, presidente do Observatório de Rankings Acadêmicos e de Excelência (Ireg, na sigla em inglês), referência mundial em rankings universitários ligada à Unesco, o segredo da longevidade, nos casos de UFMG, Ufla e UFV, é a pesquisa.
“No Brasil, a qualidade da graduação é muito associada à pós-graduação. Em instituições onde pós e iniciação científica são fortes, normalmente os cursos de graduação são melhores, pois há muita interação entre esses níveis e um ambiente de pesquisa favorável. O indicador leva ainda em conta algo que favorece as universidades públicas: a quantidade de professores com doutorado e pós-doutorado”, afirma Costa.
Em termos de notas, essa relação de graduação com a pós é favorecida pela composição do IGC. Do total, 55% da pontuação se refere aos resultados do Enade e do Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD).
Os estudantes evoluem muito nessas instituições pelo ambiente de pesquisa”, reforça Luiz Cláudio Costa, que é também professor titular e ex-reitor da UFV, ex-presidente do Inep e atual reitor do Centro Universitário Iesb, no Distrito Federal. Outros 30% da avaliação vêm do corpo docente e os 15% restantes de um questionário sobre infraestrutura, laboratórios, currículo e oportunidade de trabalho.
Sendo o IGC, a média de cursos, instituições com média 5 é, em sua maioria, aquelas que oferecem muitas graduações, o que matematicamente garante manter nota alta. “Quando tem um ou dois cursos é mais fácil tirar 5, mas quando se tira é porque a média é realmente muito boa. Ela é muito afetada pelos extremos”, afirma. “Minha leitura é que uma boa graduação com ambiente consolidado com a pós e iniciação científica favorece o ambiente de aprendizagem e corpo docente competente.”
No caso da Faje, com apenas três graduações (bacharelado em filosofia e teologia e licenciatura em filosofia) e duas pós nessas áreas, pesam, segundo Costa, a boa prestação do serviço, dedicação de professores e engajamento dos estudantes que fazem do câmpus um ambiente de excelência.
“A Faje nasce num ambiente sólido, dos jesuítas, ordem que valoriza muito o conhecimento”, completa o professor emérito da UFMG José Francisco Soares, ex-presidente do Inep.
A receita da excelência
Quatro exemplos muito diferentes , sendo necessário olhar cuidadoso para as três universidades federais mineiras que, pelo menos desde 2009, nunca saíram do posto da excelência do ensino superior. Em especial a Federal de Lavras (Ufla), nas palavras do professor emérito da UFMG José Francisco Soares, ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
“Menos conhecida, nasce numa Escola de Agronomia. O que mais chama a atenção é um certo empreendedorismo que ela tem, atenta às demandas da comunidade e da sociedade. A usina fotovoltaica que a Ufla implementou é uma prova disso”, diz. No que se refere à UFV, o professor lembra que ela já era excelente na área agrícola, sendo uma das grandes escolas de agronomia do país. “Impressiona como a instituição conseguiu fazer a transição incluindo outras áreas sem perder qualidade, pois, no processo de crescimento, a chance de se perder é muito grande.”
Em relação à UFMG, que nesta edição de 2019 do IGC foi classificada como a melhor universidade federal do país, Chico Soares diz ser a sinalização de que a excelência não depende do eixo Rio-São Paulo. Mas mostra também que ela deve se munir de novos desafios em meio à comemoração e visar à competição com outras universidades. “A UFMG deve pensar que há outro grupo ao qual ela quer fazer parte, como o ranking da Times Higher Education (um dos mais importantes do mundo).”
Ponto crucial também na análise do reitor do Iesb, Luiz Cláudio Costa. Ele lembra que as três federais mineiras se destacam também nos rankings internacionais de universidades.
“O Brasil deveria ter mais atenção aos rankings internacionais, como as instituições paulistas estão fazendo. Não pelo ranking em si, mas pela inserção internacional, pelo retorno que se tem. Além dessa excelência nacional, é importante que se posicionem, porque o país tem instituições de excelência internacional com programas de doutorados de notas 6 e 7, que são as faixas de excelência internacional. Ao mesmo tempo, compartilhar esses indicadores – por menos que as instituições possam ser representadas por um número, tal a complexidade delas.”
MUDANÇA
Atualizar os indicadores para obter uma avaliação de qualidade e produzir um ensino de excelência e lidar com regulação e supervisão. Na avaliação do presidente do Ireg, professor Luiz Cláudio Costa, depois de anos trabalhando com a mesma metodologia, é hora de mudanças na forma de se medir o desempenho do ensino superior. “Precisamos evoluir. Imagine que todas as instituições no Brasil tivessem padrão Harvard. Ainda assim, teríamos cursos e instituições com notas 1, 2, 3, 4 e 5, porque a metodologia é assim. O índice é construído para isso e a maioria fica na média”, explica.
“É preciso trabalhar os impactos da universidade, precisamos avançar para induzir e apontar onde é preciso melhorar. Não é só uma nota, precisa ter um retorno. Indicadores prestaram bom serviço, ajudaram a entender o sistema, mas é preciso avançar para a melhoria de qualidade, entendendo que as instituições são diferentes”, avalia Luiz Cláudio Costa.