Jornal Estado de Minas

SOBRECARGA

COVID-19: procura por atendimento em saúde mental cresce em Pedro Leopoldo

  
Desde o decreto municipal, em março de 2020, que anunciou as medidas de proteção contra a COVID-19 até setembro de 2021, o número de pessoas que procuraram o serviço de atendimento do Caps Livremente, em Pedro Leopoldo, Região Metropolitana de Belo Horizonte, para cuidar da saúde mental, aumentou em 15%, o que acarretou a sobrecarga da equipe de saúde mental.




 


De janeiro até 10 de setembro deste ano, 272 pessoas procuraram o SUS em busca de ajuda. O número é maior que o ano inteiro de 2020, que registrou 237 prontuários. 
 
O números de profissionais do SUS para atender a população não acompanhou a crescente demanda e muitas pessoas tiveram que recorrer ao atendimento particular. É o caso da assistente comercial, Gabriela Duarte, que após perder o bebê na gestação, entrou em uma fase depressiva e buscou ajuda profissional particular.
 
Isolada em casa devido às restrições da pandemia da COVID-19, a moradora de Pedro Leopoldo já chegou a perder a vontade de viver. Ela conta que não tinha percebido que estava com depressão e foi por meio do ginecologista que identificou a perda de cinco quilos em uma semana, aliada a uma constante tristeza.




 
“Achava que ia conseguir resolver sozinha a dor da perda. Só moramos eu e minha filha de oito anos e na frente dela segurava a constante vontade de chorar e fingia que estava tudo bem. Já tive outros episódios de depressão, mas esse foi pior, porque estava em isolamento social."
 
De acordo com a coordenadora da Saúde Mental do CAPS II - Livremente e do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Crer-ser), Priscilla Rodrigues, o CAPS II é composto por duas técnicas de enfermagem, três psiquiatras plantonistas, quatro psicólogas, uma enfermeira e uma terapeuta ocupacional para atender todos os adultos.
 
Para o atendimento de crianças e adolescentes até os 17 anos, a cidade conta com a equipe do Cre-ser, que tem dois psicólogos, uma enfermeira, uma fonoaudióloga e uma psiquiatra.
 
Segundo a diretora de Planejamento e Gestão em Saúde, da Secretaria de Saúde, Deijiane Mendes, com a sobrecarregada, o município procurou uma parceria com o Instituto Superior de Medicina (ISMD) para encontrar novas formas de superar o gargalo do serviço.




 
“A parceria tem como foco principal trabalhar um gargalo da rede psicossocial, por meio do matriciamento na atenção básica com equipes que complementam as atividades de forma compartilhada com a rede de atenção primária à saúde, de forma a capacitar as equipes e incentivar por meio do conhecimento, o cuidado segmentado do paciente no próprio território."
 
A parceria com o Instituto Superior de Medicina ainda está na fase piloto e o primeiro escolhido foi a equipe Saúde da Família (ESF) Lua, localizada no Bairro Teotônio Batista de Freitas.
 
Segundo Deijiane Mendes, com a contribuição do ISMD, a rede de atenção psicossocial do município será reformulada e ampliada. “O objetivo é melhorar o acesso do paciente pelas portas corretas, desburocratizar o modelo de assistência e possibilitar que o acesso ocorra em vários pontos da rede de saúde conforme preconiza as políticas do SUS."
 
A gestora conta que haverá encontros coletivos todas as sextas-feiras e também a organização de atendimentos individuais ao paciente. O usuário do SUS vai receber atendimento de trabalho técnico com a equipe de Saúde da Família e outro junto aos trabalhadores do CAPS II - Livremente.




 
“A ação vai acontecer no âmbito individual e coletivo, com o intuito de prevenção de agravos. Os pacientes terão diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde."
 
Caso o resultado seja positivo dentro do Bairro Teotônio Batista de Freitas, a diretora afirma que a prefeitura pretende estender o projeto na cidade dentro da capacidade e disponibilidade de equipe técnica. “Mas ainda estamos em fase embrionária do projeto."
 

Esteja pronto para ouvir

 
“Muitas pessoas dizem que depressão é bobagem, na semana que eu estava até sem vontade de viver, as pessoas diziam que era bobagem”. A assistente comercial, Gabriela Duarte, conta que está longe da família e que com o aborto sofrido em agosto desse ano, não conseguia verbalizar e entender a dor que sentia e por isso, procurava ajuda de amigos.




 
“Quando escutei que era bobagem e frescura ficava ainda pior, então me calava. Acredito que as pessoas precisam de trabalhar a empatia e entender que a dor do outro pode ser diferente da dela”.
 
Em Pedro Leopoldo, a prefeitura iniciou a campanha Setembro Amarelo que tem como objetivo prevenir o suicídio. De acordo com a prefeitura, o silêncio tem muito a dizer e as pessoas precisam estar prontas para ouvir e a melhor forma de evitar um suicídio é por meio do diálogo e discussões que abordem o problema.
 
Em fase de tratamento, Gabriela procurou ajuda profissional, faz uso de medicação homeopática e até adotou um pet para fazer companhia para ela e a filha.

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